Demetrius - Parte 2

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Mais um dia, mais um dólar.

Cá estava eu, no colégio monótono de sempre, avaliando minhas opções de como achar o Demetrius e matá-lo com minhas próprias mãozinhas de bebê.

Eu estava sentada em meu lugar costumeiro, enrolando os dedos no cabelo encarando a janela. Estava um belo dia, as árvores balançando por causa do vento, aves voando pra lá e pra cá... O céu bem azul, sem nem sequer uma nuvem, além do fato de ser aula vaga. O dia estava perfeito até aquele momento.

- Hey, Laura.

- Ah oi, bom dia senhor Morryson.

- Argh! -bufou ele se contorcendo todo me fazendo rir- Me chama de Alexander mesmo, tá?

- Ok, ok.

Ao ver meu sorriso, também sorriu.

- Vem cá, você e o Ezequiel não tem se falado... Estão brigados?

Meu sorriso desapareceu ao notar que o alvo de nossa conversa estava sentado bem na minha frente e me encarava discretamente. Corei de leve, mas podia-se notar. Alexander virou-se e percebeu que ele estava alí.

- Opa... Acho melhor eu ir.

*

*

Eu achava que o Zequi puxaria conversa comigo, mas logo após a saída de Alexander, ele voltou a deitar-se sobre seus braços. Estava cochilando.

- Zequi, olha... -comecei a puxar assunto olhando para minhas mãos que estavam sob a minha mesa, em cima das minhas coxas, com um olhar meio amedrontado- Sobre aquele dia, eu...

Minha frase foi interrompida com o olhar vazio sobre seu ombro que o garoto me jogava. O que será que eu fiz de errado, hein? Por que estava com raiva de mim? Voltei a encarar minhas mãos.

- Você não tem que se desculpar.

Virei bruscamente minha cabeça para direção do rapaz de olhos azuis profundos, que agora estavam tão próximos de mim que não podia me mexer. Senti meus olhos brilharem ao encará-lo tão de perto, como se nunca tivesse o encarado antes. Estávamos tão próximos, que já conseguia enxergar a sua alma. Ele aproximou seu nariz do meu pescoço, senti um leve vento sugando-o, me fazendo corar mais e respirar fundo, prensando a carne inferior da minha boca em meus dentes.

- Você trocou de perfume?

- Você percebeu.

Sorrimos juntos.

- Sim, como deixaria de perceber... Laurita.

Dei um cascudo de leve no seu topete bagunçado fazendo um bico enorme.

- Não me chama de Laurita, ô!

Ele gargalhou desta vez. Já estava com saudade do seu sorriso.

- Opa, parece que o clima de paz e amor está de volta! -disse Alexander revelando que estava escondido atrás de uma carteira no final da sala. Todos rimos juntos. - Estava pensando... Vocês não tão afim de ir pra praia? Sabem... Eu, as garotas, vocês...

Zequi e eu nos entre olhamos, depois voltamos o olhar para o loiro.

- Eu passo.

- Talvez na próxima.

Deu pra ver seu olhar de decepcionado com a nossa resposta.

- Ah, qual é...! Me senti até esperançoso em ver uma certa menina de biquíni...

- Ah... -eu suspirei. Já deveria ter adivinhado. - Se você já vai com as meninas, não vai precisar me ver. Acredite, não vale a pena.

Eu tentei fazê-lo desistir, mas seu olhar demonstrava persistência. Bufei.
Quando olhei para o Zequi, ele estava com o rosto neutro. Digo, normal, eu acho. Parecia mais pensativo.
De repente uma ideia parece ter brilhado em sua mente.

- Ei -exclamou nos chamando. Olhamos pra ele. - Nós já fomos para praia uma vez, Laura! Você se lembra?

Fiquei estatuada, apenas escutando. Após cinco minutos de silêncio, finalmente percebi que ele esperava uma resposta.

- A-Ah -gritei começando a corar de vergonha. - Eu me lembro vagamente...

- Tínhamos uns seis anos! -continuou ele. - Que você quase se afogou e Charlie pulou pra te salvar.

- Oh sim, o Charlie. -falei apoiando o rosto nas mãos, curiosa. - Mas afinal, como vai ele?

Ezequiel deu de ombros com um olhar desinteressado.

- Acho que ele está no trabalho. Eu não sei. Não ligo muito.

Arqueei as sobrancelhas. Nunca entendi essa frieza do Ezequiel para com o próprio pai. E pra uma pessoa como eu, é que isso seria um eterno mistério.

- Tudo bem -interviu Alexander passando o braço pelos meus ombros, e sorrindo malicioso. - Por que não vamos todos juntos? A Laura pode até levar o Professor Liam se quiser.

- Hmm...

- Nada de hmm, Laura! -disse Zequi batendo de punho fechado na carteira de madeira. Parecia irritado. - Não daria pra eu ir com você, nem nada!

- Ué -eu falei com a sobrancelhas quase se tocando. - Por que não!?

- Porque... -antes de continuar e responder, ele deu uma boa olhada de cima a baixo em mim, corando um pouco. Revirou os olhos. - Acho que não seria o mesmo de quando fomos com seis anos.

Eu sorri baixinho, entendendo o que lhe incomodava. Voltei a olha-lo de baixo sorrindo, com a intenção de provocá-lo um pouco, afinal, também sou adolescente né?

- Oh -comecei. - Quer dizer que está com vergonha de me ver num biquíni beeeem pequeno, não é?

- O QUÊ? -ele indagou assustado e com a extensão facial quase que completamente rósea. Tentei segurar meu riso. - Vo-Você tem algo assim no seu guarda roupa!?

- Mas é claro, Zequi -afirmei. - Com o que você acha que eu vou pra praia? Com um maiô?

Ele continuava estático. Alexander também ouvia tudo ali, mas não parecia assustado, mas sim, animado. Quase dava pra ouvir seu coração pulsando loucamente.

Sem dúvida, eles estavam imaginando.

Tornei meu olhar gélido e irritado. Pisquei os olhos vagarosamente.

- Sinceramente...

Me levantei e me retirei da sala, marchando com raiva. Diferente do que achavam, eu só havia ido ao banheiro.

*

*

Chegando lá, encarei o espelho enorme e pixado nos cantos, procurando um resposta. Meus seios pareciam normais, assim como meu cabelo e minha face. Não estava com mal nem bom hálito, nem minhas roupas estavam amarrotadas demais. Tudo estava bem normal.

Então por quê? Por que o Ezequiel fazia questão de estragar tudo? Ou melhor, por que os meninos em geral eram tão imbecis e pervertidos? O que havia de demais nisso afinal?
Eu continuei com minha auto-reflexão por alguns minutos ainda, até alguém que passava me chamar a atenção.

Meu coração gelou quando pus os olhos no indivíduo que usava óculos escuros, uma capa preta e um chapéu cinza escuro para cobrir mais ainda seu rosto. Ele passou por mim caminhando normalmente, passando para a janela no alto do cômodo. Iria pulá-la, sem duvidas.

Fiquei em choque. Quando estava prestes a pular janela a fora, o elemento desconhecido virou me olhou discretamente sobre o ombro. Tirou o pirulito da boca e disse com uma voz rouca:

- Você não viu nada.


***

Laura SaraivaOnde histórias criam vida. Descubra agora