A garota reluzente

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     Eu estava em casa, na calmaria do meu quarto. Quando se pensa em gripe, se pensa em tosse, remela, e muito cansaço, mas na verdade, eu havia tomado uns remedios dados pelo Liam, e meu tempo de recuperação diminuira.
Mas se você pensa que eu fiquei dormindo o dia todo, está super enganado. Liam sugeriu que eu exercitasse o cérebro fazendo umas atividades de física e história. Aff.
  A campainha tocou rapidamente. O Liam devia estar esperando alguém pra recolher algum trabalho.
- Laura! Um garoto ta aqui na porta! Quer saber se você ta melhor. O que eu respondo??
Eu dei uma risada ouvível do corredor da escada até a porta de entrada.
- Diga que já estou bem! E sua atividade é um saco!!
Pude ouvir ele gargalhando bem alto, e dizendo algo como "Pode entrar(...)".
Deveria se o Elios denovo. Afinal, ele estava praticamente me perseguindo...
- Lauraa!! -gritou alguém da sala pela escada
- Pode subir se quiser. Não vou descer, não!
Ouvi o Liam bufando.
Passos na escada. Já estava preparada para receber o que parecia ser duas pessoas. Quando abriram a porta, consegui ver nitidamente seus rostos. Uma era o Ezequiel.
- Bom dia, Laurit...Laura. Me desculpa por ter te passado gripe. Era o que eu menos queria.
Eu olhava fascinada para o rosto reluzente ao sol, que estava me olhando. Aquele rosto branco como porcelana e aqueles olhos claros e brilhantes. Obviamente, eu estava falando da pessoa ao lado dele. Era uma garota. Uma garota linda. Ela estava com uma camiseta branca e uma saia comprida estampada salmon. Ela era verdadeiramente brilhante. Seus cabelos negros incrivelmente negros, batiam em sua cintura. Seus olhos eram castanho claro quase mel. Seu rosto era glorioso, mas ainda assim, jovem. Ela devia ter cerca de dezenove pra vinte anos.
- Laura...?
Levantei os olhos para olhá-la melhor.
- Você se lembra de mim?
Minha boca não conseguia pronunciar uma única palavra. Era como se um anjo estivesse no meu quarto.
- Qual... Seu nome? -consegui perguntar.
- Me chamo Tuilla. Não se lembra mesmo?
  Sentia algo vindo. Algo psíquico. Psicológico. Como se uma porta se abrisse na minha mente para algo bloqueado. É verdade que entre as crianças desconhecidas, havia uma que sempre chamava minha atenção. Uma de longos cabelos nas sombras. Ela era um pouco maior que as outras crianças. Isso por causa de sua obvia faixa etária maior.
  Ela se aproximou da cama e sentou-se. Estavacom a expressão triste. Decepcionada, seria o termo correto. Achava que estaria sonhando. Minha burrice era tanta, que eu quase pedira pra tirar um cochilo e, assim, ter o sonho novamente. Eu hein...
- Tuilla... Sinto muito em não reconhecê-la, mas eu realmente estou num bloqueio psicológico. Pessoas como Ezequiel, o Elios...e até mesmo você, agora são desconhecidas pra mim. Mas não se preocupe! Estou conseguindo recuperar de pouco em pouco as lembranças das pessoas. Só Deus sabe o que diabos fiz no meu próprio cérebro, mas estou me recuperando. Não se preocupe comigo.
    Ezequiel sorria fracamente com o olhar distante. Eu sabia que tinha dito algo que não devia e que havia magoado-o. Desconhecido sendo conhecido novamente. Nem sei se todos me consideravam mais amiga. De uma coisa eu tenho certeza: eu poderia reconhecê-los se dissessem seus nomes. Me sentia mais aliviada, pois sabia que encontraria alguém realmente incrível nos meus sonhos daquela noite.
   Tuilla estava realizando o sonho da sua vida: Viajar ao redor do mundo. Ela havia voltado ao seu pais natal para rever seus pais e velhos amigos. Não sei bem no que ela trabalhava, mas parecia divertido. Depois que eu sonhasse com ela e os dois menininhos, eu certamente saberia de algo novo.
  Ela havia se retirado junto com o Liam, que a levara para o aeroporto, já pra pegar um vôo para outro a Suécia, se não me engano. O Ezequiel ficou um pouco mais no meu quarto conversando comigo. Pelo menos, era o que o Liam pensava.
Ele estava com o rosto na janela do quarto observando a vista das onze da manhã. Eu percebi que ele estava chateado pelo que eu tinha dito pra Tuilla.
- Ahn... Zequi?
  Ele se virou bruscamente pra mim com um olhar atônito. De repente, começou a caminhar de encontro comigo.
- Sinto muito. -continuei - Sinto muito eu ter dito que éramos desconhecidos. Você sabe que não é isso que eu sinto.
- É? -falou repentinamente - E o que você sente?
Eu levantei o olhar pro seus olhos que estavam cobertos pela sua franja bagunçada. Ele sempre ficava assim quando se chateava. Tirando o fato de que ele vinha em minha direção com essa expressão sinistra, eu estava tranquila.
  E então, ele segurou meu braço esquerdo firmemente me puxando de leve para perto de si.
- Desconhecidos, por acaso, podem fazer isso?
  Meu braço girou ao redor de sua cabeça me levando de encontro com a cama, onde caíra deitada. Arregalei os olhos novamente.
Ezequiel estava em cima de mim, numa posição um tanto constrangedora. Agora eu podia ver os olhos dele. Aqueles mansos olhos azuis como o céu, agora ardia com fogo, me encarando com tamanha força que fez eu virar meu rosto. Eu estava bastante vermelha e suava frio nas mãos prensadas contra a cama pelo garoto. Tinha medo de olhar em seus olhos. Medo de sentir aquele desejo. O mesmo desejo que ele estava sentindo, sem dúvida.
  "Me solta..." sussurrei. Acho que ele escutou em alto e bom som. Voltou a si me largando e ficando em pé. Eu continuava deitada, tentando assimilar o ocorrido.
- Se levante. -falou com o rosto virado- Não sei o que posso fazer se continuar deitada com essa cara olhando pra mim.
  Ouvindo suas palavras, levantei-me vagarosamente para não causar algo pior. O clima estava estranho de novo. Ele provavelmente estava vermelho e eu... Imagina eu.
- Boa recuperação, Laurita. -falou abrindo a porta do quarto, saindo de casa. Não consegui dizer nada pra ele. Nem mesmo minha expressão mudou. Certamente, tudo mudaria agora. Eu sabia que ele gostava de mim, mas não sabia que tomaria uma atitude...tão cedo.
 

Laura SaraivaOnde histórias criam vida. Descubra agora