Sabe quando você pensa que está acordado, mas na verdade é só uma grande ilusão? Eu estava me sentindo assim.
No meu sonho, eu via cinco crianças. Uma, eu sempre reconhecia, mas as outras não. Por eu não reconhecê-las, ficavam me encarando, como se esperassem alguma reação ou frase vinda da minha parte. Eu nunca tinha nada a dizer. Minutos depois, eu virava para o lado esquerdo completamente e via um espelho. No espelho, meus braços eram curtos e rechunchudos, assim como as minhas pernas, meu cabelo vinha na altura do ombro e meus olhos eram grandes. Eu via o reflexo de uma criança. Era sempre a mesma coisa.
A criança que eu reconhecia, era o Ezequiel. O garotinho pequeno de cabelos negros e olhos azuis bem claros, que caminhava rapidamente até mim, me abraçando e com um lindo sorriso, sussurrava algo no meu ouvido. Eu nunca entendia o que ele me sussurrava, mas dessa vez, ouvi bastante bem.
"Ele chegou."
Abri os olhos o mais rápido que pude, percebendo que tudo aquilo não passava de mais um sonho repetitivo no qual eu acordava e terminava. O que significava aquilo que o pequeno Ezequiel havia dito? Provavelmente falava do Elios.
Eu não havia acordado de bom humor, daí fui pro colégio de qualquer jeito. Eu quase não tinha ido ao espelho naquela manhã nublada. ao chegar no colégio, percebi que nenhum de meus amigos havia vindo, o que me deixava mais pra baixo ainda. Não tinha aula do Liam, o que de algum modo é bom e é ruim. Me sentia tão sozinha e cansada...
Eu estava praticamente delirando, quando o professor chamou minha atenção para uma apresentação.
- Classe, este será seu novo colega. Diga seu nome para nós, jovem! -o garoto novo virou-se para observar a sala e seus componentes. Seu olhar girou três vezez pela sala e, de repente, parou em mim. Eu não estava muito entusiasmada pra nada naquele dia, mas mesmo assim, não pude deixar de notar que ele me encarava fixamente, como se esperasse algo de mim...assim como as crianças do sonho... Quando dei por mim, ele estava do meu lado, em pé, me olhando, mas parecia que a sala não se importava com isso.
- Oi, Laura. Levante a cabeça! Sou eu!
Meu olhar estava embaçado. Com certeza, aquele não era um dia pra eu falar com alguém, a ponto de ter um diálogo. Foi então que ele segurou meu rosto com as duas mãos, e virou lentamente para o seu, roubando assim um beijo. Aquilo cooom certeza me acordou pra vida. Ele deu uma risada baixinha olhando pro meu rosto, que parecia estar todo vermelho e confuso. Também, pudera! Eu me lembrava daquele rosto. Era o Elios. Era o irmão do Ezequiel.
- E...Eli... -deixei escapar sem querer. Sim. Exato. Quando ele morava com o Ezequiel, todos tinhamos apelidos. Eu era a Laurita, o Ezequiel era o Zequi e... o Elios era o Eli. Ainda haviam três crianças na minha memória que eu ainda carecia de reconhecer. Mas mudando totalmente de assunto... O Elios me beijou, cara!
Ele sentou do meu lado sem tirar os olhos do meu rosto que parecia deveras engraçado pra ele. Me sentia uma bobona por não estar entendendo nada da situação atual. Aquele dia não poderia ficar mais estranho!
Além de sentar ao meu lado, Elios e eu ficamos em dupla nas tarefas de outras matérias pelo dia. Ele até que era bastante inteligente se se concentrase mesmo. Na hora do intervalo da manhã, eu estava indo comprar meu lanche na cantina, quando ele segurou meu braço repentinamente.
- Ei, Laura...
- O-O que foi? -eu suava frio.
- Me desculpe por ter chutado sua bolsa naquele dia. Eu não estava sendo racional.
Eu sorri ligeiramente feliz pelo seu arrependimento, tirando o fato de que eu nem me lembrava mais do ocorrido. Pensava naquele sonho repetitivo. Aliás, eu só pensara nele o dia inteiro. Na aula de química, eu estava sentindo uma dor de cabeça fortíssima que parecia não ter fim. Me sentia torturada. Foi então que acabei adormecendo profundamente em meu casaco fofo e preto.
No mundo estranho da minha mente, eu tivera o mesmo sonho. O sonho das cinco criancinhas que me rondavam. Uma delas era o pacífico Ezequiel. Calmo, sereno, sorridente... E agora, a criança do meio se aproximava de mim. Ela tinha cabelos castanhos e olhos tão azuis, quanto os de Ezequiel. O garotinho se aproximava e segurava três dos meus dedos da mão esquerda.
- Laurita... Você veio brincar com a gente?
Eu estava parada no meio das outras crianças desconhecidas que estavam completamente nas sombras, incapazes de serem reconhecidas por ninguém. Agora, duas crianças me eram conhecidas.
A criança que parecia muito com o Elios, se aproximou e deu-me um beijo na bochecha esquerda, me fazendo corar um pouco.
- Volte logo, tá?Logo após isso, eu acordei. Acordei na enfermaria do colégio com um pano morno na testa. Alguém segurava minha mão levemente.
- Finalmente você acordou!
Virei o rosto para ver quem estava lá...comigo.
- Eli...os?
Seus olhos se iluminaram.
- Graças a Deus! Você está bem! A senhorita Rockbell disse que você havia contraído uma gripe...
Arregalei os olhos. Estava gripada.
- Você deve ir pra casa. A tendência vai ser piorar, mas daqui à uma semana, você ja estará bem. Não se preocupe.
Naquele dia, eu voltei pra casa cedo para descansar. Deveria agradecer ao Ezequiel.
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Laura Saraiva
RandomLaura é uma adolescente normal de 15 anos que perde sua família, após um crime gravíssimo cometido pelo seu irmão mais velho. Agora ela mora com seu primo e vai ao colégio normalmente, porém, ela se esconde do assassino que anseia terminar seu traba...