capítulo 7

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Matheus.

   Cheguei em casa por volta da uma da manhã, os passos vacilantes denunciando o estado em que me encontrava. A noite fora um redemoinho de sensações, mas deixarei os detalhes para trás. Enquanto avançava pelo corredor escuro, meus pensamentos estavam dispersos, presos às sombras do que acabara de viver.

   No caminho para o meu quarto, percebi uma porta entreaberta. Algo em minha curiosidade me instigou a espiar. Inclinei a cabeça e olhei para dentro do quarto de hóspedes. Meus olhos, ainda turvos pelo álcool, enxergaram uma figura que fez meu coração disparar.

Era ele.

   A luz da lua, entrando pelas frestas da janela, desenhava seu corpo com perfeição, destacando-se no pequeno short roxo que ele usava. Engoli em seco, lutando contra os pensamentos que invadiam minha mente. Aquilo não era certo. Expulsei as ideias impuras e, sem pensar muito, tirei minhas roupas, ficando apenas de cueca, e me deitei ao lado dele. O calor de nossos corpos se misturava enquanto eu o envolvia, formando uma concha involuntária.


Thiago.

  Despertei na manhã seguinte com um sorriso sonhador no rosto, mas ele logo desapareceu ao perceber que tudo não passara de um sonho. A realidade me golpeou como um soco no estômago. Eu estava ali, sozinho, fitando a parede, com a mente mergulhada em devaneios sobre uma vida que parecia tão distante da minha.

   Meu devaneio foi interrompido quando senti algo pressionando minhas costas. Meu corpo inteiro congelou. Virei lentamente e, para minha surpresa, não estava só. Aquele braço forte, adornado por tatuagens, estava em volta de minha cintura, me envolvendo num abraço possessivo. Levantei-me com cuidado, ainda chocado, e olhei para quem estava ao meu lado.

Era Matheus.

   Eu não sabia como reagir. Meus olhos desceram, quase que involuntariamente, e o que vi me deixou sem palavras. Meu Deus, ele era... dotado. Engoli em seco, sentindo o rosto esquentar enquanto pensamentos indizíveis cruzavam minha mente. Sacudi a cabeça para afastá-los e saí do quarto, determinado a recuperar a compostura.

  No corredor, fui direto ao quarto de Pietro. Empurrei a porta, chamando-o suavemente.

  — Pietro, acorda...

  Depois de algumas tentativas, ele despertou sobressaltado, os cabelos bagunçados e os olhos piscando confusos. Ri baixo diante de sua expressão assustada.

  — Me empresta uma roupa? Preciso tomar um banho.

   Ele resmungou algo ininteligível enquanto se levantava e jogava uma muda de roupas em minha direção.

  — Obrigado, priminho. Você é o melhor.

   Dei-lhe um abraço rápido, ignorando o fato de que mal nos conhecíamos. Ele apenas sorriu, ainda com sono, e saiu em direção à cozinha.

   Voltei ao quarto de hóspedes, mas Matheus já não estava lá. Aproveitei para ir ao banheiro, despindo-me por completo. Meu corpo nu refletia a confusão interna que sentia. Quando estava prestes a entrar no box, a porta se abriu de repente, revelando a cabeça curiosa de Pietro.

  — Pietro! — exclamei, virando-me de costas, envergonhado.

  — Relaxa, só vim avisar que papai quer falar com você no terceiro quarto à direita. Ah, e... bela bundinha, Fiu fiu...

   Ele fechou a porta antes que eu pudesse responder, deixando-me ainda mais embaraçado. Entrei no chuveiro, ajustando a água para o mais frio possível, como se isso pudesse acalmar o turbilhão de emoções dentro de mim. Depois de um banho rápido, vesti as roupas que Pietro me emprestara e me dirigi ao quarto de Gabriel, meu tio.

   Bati na porta três vezes e, ao ouvir um “entre”, abri a porta hesitante. O quarto era majestoso, com uma imponência que me fez desejar algo semelhante para mim.

  — O senhor me chamou? — perguntei, fechando a porta atrás de mim.

   Gabriel estava sentado, segurando uma caixa de tamanho médio com uma carta envelhecida no topo. Ele me olhou com um sorriso melancólico.

  — Sim. Eu queria te dar algo. Na verdade, duas coisas. Antes de tudo o que aconteceu no passado, eu havia comprado algo especial para você, mas nunca tive a chance de entregar. É seu.

   Peguei a caixa com cuidado, mas minha atenção foi imediatamente capturada pela carta. A caligrafia, cuidadosamente atualizada, era um testemunho silencioso de sua dedicação. Conforme lia, lágrimas silenciosas escorriam pelo meu rosto. As palavras eram tão simples, mas carregavam um peso emocional que era impossível ignorar.

  — Eu nunca quis que você se sentisse abandonado — disse Gabriel, sua voz falhando.

   Fui até ele e o abracei com força.

  — Eu nunca mais vou te deixar sozinho. É uma promessa — ele murmurou.

   Depois do abraço, abri a caixa. Dentro dela, encontrei um livro que sempre desejei na infância, mas jamais tive condições de comprar. Por fim, uma pulseira chamou minha atenção. Reconheci-a de imediato. Fui eu quem a fizera, anos atrás, para que ele nunca se esquecesse de mim.

  — Você guardou... — sussurrei, com os olhos marejados.

  — Claro que guardei. Eu nunca iria me desfazer disso.

   Abracei-o novamente, sentindo o peso do passado se dissipar.

  — Obrigado por tudo, tio.
 
   Quando saí do quarto, fui me despedir de Pietro, que ainda estava meio sonolento. Expliquei que precisava ir embora, mas ele insistiu em me levar, alegando que não confiava em Ubers com alguém "tão bonito" como eu.

   No caminho de volta, minha mente estava um pouco mais leve. Pela primeira vez em anos, eu sentia que tinha um lugar para chamar de lar — e, talvez, uma nova chance de ser feliz.

Até que a magia se acabe (Romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora