Capitulo 8

119 10 3
                                    

Thiago.

   Acordei com o rosto um pouco amassado, fruto de um sono agitado, mas nada que não pudesse ser resolvido com um bom banho. Levantei rapidamente, me espreguicei e me olhei no espelho. O cabelo estava bagunçado, e a expressão, ainda sonolenta. Suspirei, sabendo que precisava me aprontar logo para não me atrasar. 

   Caminhei até o banheiro, onde tomei um banho gelado, que logo me deixou desperto e renovado. Saí apenas de cueca, enquanto a água ainda escorria pelo corpo, e fui até o guarda-roupa. Peguei meu uniforme: uma camisa laranja vibrante e um short preto, meio curto e justo, da Educação Física. Para mim, o conforto sempre esteve acima de qualquer opinião alheia. 

   Abri minha maleta de maquiagem, um verdadeiro kit de sobrevivência para dias como este. Passei uma base leve, apenas para uniformizar o tom da pele, fiz um delineado discreto, e finalizei com um gloss que destacava meus lábios sem chamar muita atenção. Assim que terminei, dei uma última ajeitada no cabelo, peguei meu celular e registrei o momento com algumas fotos e vídeos. Era meu pequeno ritual de autoestima antes de enfrentar o mundo. 

   Quando estava prestes a sair, percebi que haviam duas mensagens no meu celular. Meu coração bateu mais rápido ao ver o nome: Matheus. Mas não havia tempo para pensar nisso agora. Guardei o celular no bolso, peguei minha bolsa com o material escolar e saí de casa com passos apressados, trancando a porta atrás de mim. 
 

   No caminho para a escola, senti um carro se aproximar. Era impossível não reconhecer aquele veículo: o de Matheus. Fingindo não notar, coloquei meus fones e aumentei o volume da música, deixando a batida alta me distrair. Mas ele não desistiu. Senti minha mão ser agarrada, me obrigando a parar e encará-lo. 

  — Pode tirar o fone, por favor?  — Ele falou com o tom carregado de irritação. 

   Tirei os fones, encarando-o com a expressão mais serena que consegui. 
— Pois não? 

  — Por que você não respondeu minhas mensagens? E que roupa é essa? Tá querendo virar mulher agora?

   As palavras saíram dele como sempre: impulsivas e desnecessárias. Mas, ao invés de me abalar, soltei um sorriso curto, algo entre ironia e paciência. 

  — Não vi sua mensagem. E sobre a roupa, é o uniforme da Educação Física. Agora, se não se importa, estou atrasado. 

   Ele me segurou novamente quando tentei me afastar, mas dessa vez parecia mais frustrado do que bravo.  —  Entra no carro, eu te dou uma carona.

   Senti uma pequena vitória ao ver sua expressão mudar ao perceber que eu não cederia ao tom autoritário.  — Só se eu dirigir. — respondi, cruzando os braços. 

   Ele hesitou, mas acabou entregando a chave. Aquele pequeno momento de controle foi suficiente para melhorar meu humor. Peguei a direção, e, durante o trajeto, aproveitei para dirigir com um toque a mais de ousadia, apenas para ver sua reação. Quando chegamos na escola, ele parecia desconfortável, mas, ao mesmo tempo, quieto. 

   — Chegamos. — Sorri, entregando a chave de volta. — Até o intervalo, Matheus. 

   A rotina escolar seguia como de costume. Minhas aulas com Any e Noah eram sempre o ponto alto do dia. Conversávamos, ríamos, e até mesmo as matérias mais chatas se tornavam suportáveis na companhia deles. 

   No intervalo, encontrei-os no refeitório. Enquanto Matheus e seus amigos passavam pela fila com a habitual arrogância, eu só conseguia rir internamente. Quando sua bandeja virou “acidentalmente” em um dos amigos dele, precisei de toda minha força de vontade para manter a expressão séria. 

   Mais tarde, ao descobrir que estava sem saldo para pagar meu lanche, Pietro apareceu como um anjo salvador, oferecendo-se para pagar minha conta. Ele era simpático e tinha um carisma natural. Mais tarde, sentou-se ao meu lado, revelando ser primo de Matheus e namorado de Any. A revelação nos rendeu boas risadas e piadas, deixando o restante do intervalo mais leve e descontraído. 

   Depois das aulas, fui até a mansão do meu tio Gabriel. A casa era grandiosa e bem iluminada, mas o que realmente chamou minha atenção foi ele, sem camisa e usando apenas um short de treino. O homem exalava confiança, e, por algum motivo, sua presença era tão reconfortante quanto intimidadora. 

  —  Vamos almoçar, e à tarde te levo ao shopping. Que tal?

  — Pode ser! — Respondi com um sorriso sincero. 

   Estar ao lado dele sempre trazia uma sensação de tranquilidade. Gabriel tinha uma maneira especial de transformar qualquer momento em algo acolhedor, como se dissesse sem palavras: "Você está seguro aqui." 

   O dia, que começou com confrontos e incertezas, terminou com uma sensação de alívio e pertencimento. Por mais que o mundo lá fora fosse confuso, aos poucos, eu percebia que havia pessoas e momentos que faziam tudo valer a pena.

Até que a magia se acabe (Romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora