Chapter Nine

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E vamos de ranço ser criado!

08 𝚍𝚎 𝚓𝚞𝚕𝚑𝚘 𝚍𝚎 2020 - 𝚃𝚘𝚛𝚘𝚗𝚝𝚘, 𝙲𝚊𝚗𝚊𝚍𝚊́.

Nᴀʀʀᴀᴅᴏʀᴀ

E

ra mais uma noite na casa da família Soares, a mesma que todos diziam que a família era um lugar feliz, uma família unida. – Eu não vou levar a Any para o cinema papai. – Franciny resmungava enquanto a garota morena se arrumava em seu quarto animada. – Ela é diferente de mim. – Sua mãe encarava toda cena sem abrir a boca.

– Não fale uma besteira dessa Franciny. – O pai debatia com a filha. – Ela é igual a você e a mim, igual a todo mundo. Agora a leve para o cinema.

Any apareceu na sala feliz, iria sair com a sua irmã e com seus amigos. Ela usava uma calça jeans e uma bota coturno, com uma jaqueta jeans e um cachecol.

Sempre foi uma garota estilosa. – Estou pronta! – Cabelo cacheado estava preso em um rabo de cavalo, deixando seu rosto sem espinha alguma a mostra.

– Vamos logo. – A Franciny resmungou e saiu sendo acompanhada por Any que sorria após beijar a bochecha de seu pai.

As duas irmãs saíram da casa deixando apenas os dois adultos sozinhos. – Jonatha. – Aurora o chamou, mas não foi respondida. – Estou te chamando. – Disse ríspida.

– Fala Aurora. – O mais velho se sentou no sofá e a encarou com uma cara nada boa. – O que você quer?

– A sua filha... – Apontou para a porta, a mesma porta que Any e Franciny saíram. – Não force a Franciny sair com Gabrielly. – Ele não entendia. – Ela não é obrigada a sair com quem não quer!

– Sua filha a Franciny... Não tem escolha. – Deu uma piscadela. – São irmãs e eu exijo respeito das duas.

– Não são de sangue. – Tentou rebater, mas não valia a pena continuar aquela conversa. – Se acontecer alguma coisa a culpa será de Any.

A mãe das duas subiu as escadas indo em direção ao seu quarto, enquanto o mais velho continuava sentado fazendo um carinho em sua cabeça imaginando o tamanho da dor de cabeça que viria em poucos minutos. – Se ele imaginasse o tamanho do preconceito que Aurora tinha não teria se casado com a mulher. Ele tinha pena de sua filha por viver em uma família na qual sua mãe a odiava, não amava e nem ao menos dava carinho.

Se eu soubesse. – Sussurrou e fechou os olhos lembrando das palavras de sua mãe.

"Nossa família veio da África meu querido e em um momento teremos uma criança com esses traços que sofrerá racismo, meu querido. O proteja de todo mal." Aurora não sabia e ficou furiosa ao ver que Any era diferente dela mesmo.

Entretanto o homem amava sua filha desde o momento em que a pegou no colo, ajudava a sua filha pentear os cabelos encaracolados e ajudava sua pequena em cada momento da vida. – Ela era preciosa na vida do mais velho.

Quando Aurora decidiu adotar uma garota do jeito que ela queria foi o pesadelo de Any, mesmo ela amando a Franciny como se fosse irmã de sangue a garota ficava em cima e provocava. Desde pequena praticava bullying com Any.

"Papai por que eu sou diferente da Franciny e de mamãe?" Uma das perguntas que Any fazia quando era pequena e aquela pergunta o machucava demais. – "Eu vou alisar meu cabelo papai" O cabelo de Any era um dos mais belos que já tinha sido visto.

Era doloroso vê-la tentando impressionar sua mãe, tentando fazer parte da dupla da casa enquanto era negada por elas.

[...] Any entrava no cinema acompanhada por Franciny, mas na porta foi impedida pela irmã mais nova que sorriu e a encarou feio. – Você não é minha irmã ok? É filha da empregada para meus amigos. – Any abaixou a cabeça e entrou atrás dela, triste por ter escutado aquilo.

Ela se sentou acima das amigas de Franciny, olhava de relance as vezes via elas rindo e soltando o nome dela. Aquilo a machucava demais, a deixava de coração partido. – Ela se levantou da cadeira do cinema e saiu dali, do ambiente na qual era tratada como lixo.

Se sentou em um banco com a cabeça ainda abaixa e algumas lágrimas caiam sobre o seu rosto, era um sentimento que não desejava a ninguém. – Ainda não entendia o porquê de ser tão tratada daquela forma.

– Está bem minha querida? – Uma velha doce foi até ela preocupada. – Tome aqui esse papel. – Entregou para ela enxugar as lágrimas.

– Muito obrigada. – Sorriu pela primeira vez naquele passeio. – Estou bem sim.

– Então eu já vou indo. – Saiu dali sem nem pensar, indo fazer suas compras.

– É aquela ali. – Ela encarou e viu uma das amigas de sua irmã apontando para ela. – Ela pegou minha pulseira!

Any se levantou e foi em direção dos dois sem entender. – O que está acontecendo? – Perguntou olhando para eles.

– Por favor me entregue a sua bolsa. – Pediu o guarda olhando feio para a morena. – Agora!

– Não antes de me explicarem o porquê de querer olhar minha bolsa. – Segurou firme a bolsa quando o segurança deu um passo.

– Você pegou minha pulseira, você é uma ladra. – Ela olhou para o lado e encontrou Franciny rindo enquanto via a cena.

– Se não tem o que temer, me deixe ver a sua bolsa. – Entregou a bolsa prontamente para livrar a cena e fazer as amigas de sua irmã quebrar a cara.

Ele revistava a bolsa da garota sem se importar e quando encontrou um objeto estranho se levantou, mostrando para a ruiva que a acusava. – É esse bracelete? – Mostrou.

– Esse mesmo. – Any arregalou seus olhos escuros e tristes.

– Não é o que estão pensando. – Ela não sabia como encará-los e nem sabia como aquele bracelete tinha chegado até a sua bolsa. – Eu não sei como foi parar aí...

– Você está presa! – O segurança deu a volta e segurou as mãos da morena, levando-a para outro lugar mais privado.

– Senhor... – A voz já falhava com lágrimas em seus olhos. – Eu não fiz nada... Eu juro. – Pediu.

[...] O pai de Any chegava na delegacia correndo, sem a presença da mãe. – Ele estava acompanhado pelo advogado da família, conseguiu visitar a sua filha.

– Filha. – Ele correu para abraçá-la. – O que aconteceu meu amor?

– Papai... Eu juro para você... – Jonatha secava cada lágrima. – Eu não fiz nada...

– Eu acredito em você, princesa. 

𝙿𝚛𝚒𝚜𝚘𝚗𝚎𝚛 - 𝙽𝚘𝚊𝚗𝚢 Onde histórias criam vida. Descubra agora