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Meu rosto se retorce em uma careta ao me olhar no espelho enquanto tento ajeitar meu cabelo, soltando meus fios antes presos no coque improvisado que fiz para tomar banho. Sem minhas mãos livres, apoio meu celular entre meu ombro e minha bochecha e reviro os olhos ao ouvir a risada de Alexia do outro lado da linha depois que eu contei da minha recente experiência com os ratos.

- Então... - Alexia se prolonga nas palavras, mantendo um tom malicioso. - ...então quer dizer que meus sobrinhos bancaram os cupidos?

Vejo meus olhos se arregalarem em um misto de espanto e raiva pelo reflexo.

- Lógico que não, Alexia.

E, como sempre, ela ignora minha revolta.

- Bom... mesmo sem querer foi isso que aconteceu já que você disse que pulou no colo do Alan e ficou um clima estranho.

Balanço minha cabeça de um lado para o outro, como se minha amiga pudesse ver minha negação.

- Não ficou nenhum clima estranho.

Minha voz saiu com menos convicção do que eu gostaria e, certamente, Alexia percebeu.

- Então por que você está trancada no banheiro conversando comigo? - O tom convencido dela me irrita, em parte por ter um pingo de verdade. - Você não me engana, Kyra. Eu te conheço bem o bastante para saber quando você está fugindo dos problemas.

- Eu não fujo dos problemas.

Faço uma nota mental para melhorar meus argumentos, já que apenas repetir as acusações de Alexia com a adição de um "não" definitivamente não me ajudaria a convencê-la.

- É verdade, né... Você cria eles. - Inspiro profundamente enquanto ouço o riso de Alexia. - Talvez devesse tentar fugir um pouco, pra variar.

Meus olhos giram nas órbitas e eu me viro de costas para o espelho, apoiando uma das mãos na pia enquanto a outra se encarrega de segurar o celular.

- Você está imaginando coisas, Alexia. O Alan só foi... solícito. Como sempre.

- Solícito? 

Consigo imaginar a sobrancelha de Alexia se arquear e eu me apresso em me justificar.

- E não me derrubou no chão quando eu... hm...

- Pulou em cima dele? – Alexia completa e sua voz possui um traço de diversão.

- Eu iria dizer que ele não me negou socorro quando os ratos dos seus sobrinhos vieram me atacar. – Solto uma risada baixa ao rever a situação, agora que o meu pavor passou. Eu abaixo meus olhos para o rodapé e suspiro, lembrando de como Alan não me soltou mesmo que eu remexesse em pânico em seus braços. – O Alan... ele sempre me ajuda. Seu primo é um cavalheiro.

Um sorriso mínimo cresce, aos poucos, em meus lábios sem que eu perceba. Eu fico presa em meus pensamentos até que percebo o que eu disse.

E escuto uma gargalhada vinda de Alexia.

- Cavalheiro? - Ela ri mais um pouco. - Essa é nova.

- Eu quis dizer... atento. Isso! Ágil para me pegar no colo quando eu estou em perigo.

- Isso parece um tanto cavalheiresco para mim, Kyra. – Alexia recupera o controle de sua respiração ao passo que as risadas diminuem. – Fala pra mim, em quanto tempo o Alan decidiu concordar com o seu plano maluco.

Eu franzo meu cenho e tento me fazer de desentendida.

- Quem disse que ele concordou com alguma coisa?

Um namorado para o feriado | AlyraOnde histórias criam vida. Descubra agora