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Observo as crianças fazendo o dever de casa na mesa de jantar e eu quase não posso acreditar em como elas estão comportadas hoje. Sei que, de uns tempos para cá, Queen e Mosquito diminuíram os sustos que me davam, mesmo que eventualmente eu ainda encontrasse minha bolsa cheia de slime. Até mesmo estava me acostumando à presença de Madonna e Justin e os ratinhos não me eram mais tão amedrontadores.

- Então... de qual cor você tem que pintar o círculo agora, Mosquito? – Aponto para o papel cartão cheio de bolas que ele deve formar uma escala cromática.

- Eu sei o que eu to fazendo Kyra. – Ele empina o nariz e puxa as tintas guache para perto dele, sob o protesto de Queen que estava utilizando o tom vermelho. – Agora é o laranja porque vai entre o vermelho e o amarelo.

Queen se estica pela mesa e tenta alcançar o irmão, mas seus braços curtos não são o suficiente para alcançar o pote de tinta.

- Me devolve o pote Mosquito! – Ela franze o cenho. - Eu não acabei!

Mosquito dá de ombros e começa a abrir o pote, mergulhando o pincel na pasta colorida. Eu consigo ver o rosto de Queen adquirindo o mesmo tom da tinta devido à seu irmão ignorá-la propositalmente.

- Eu vou usar agora.

- Mas eu estava usando primeiro.

- Pinta com o verde. – Mosquito aponta com a cabeça para as tintas em sua frente. – Ele tá logo aí e você nem tá perto de terminar a lição.

Queen retorce seu delicado rosto em uma careta e eleva o tom de voz de modo que eu fico alerta. Principalmente quando ela bate a mão no tampo da mesa e a água usada para limpar a tinta dos pincéis treme no pote.

- Eu estava terminando a lição.

- Não tá não. – Mosquito, pela primeira vez, vira seu rosto para a irmã e semicerra as pálpebras. - Você tá bem mais atrasada que eu.

- Porque você não sabe dividir as tintas!

O que aconteceu a seguir foi muito rápido para que eu pudesse impedir. Eu apenas assisti Queen escalar a mesa e tentar pegar o pote de tinta que, agora, estava nas mãos de Mosquito que tentava se afastar da fúria da irmã. As crianças se atracam e eu apenas sou capaz de assistir, inerte, o pote escapar da batalha que as mãos deles travavam e girar pelo ar.

Até atingir em cheio minha blusa impecavelmente branca e eu me assustar com meu próprio grito.

- AI. MEU. DEUS. – As palavras escapam como pequenos gritos da boca de Queen e eu viro meu rosto para Mosquito que me encara assustado, ainda com as mãos tentando apanhar o pote que estava no ar.

Eu franzo o cenho quando constato que seu rosto, aos poucos, abandona o espanto para dar lugar à uma careta sapeca em que seus lábios se retorcem em uma tentativa falha de conter uma risada.

- Me desculpa Kyra. – Uma risada atinge meus ouvidos e tento me manter séria, mesmo que não esteja verdadeiramente irritada. – É que... escorregou.

O garoto me lança um sorriso de lado enquanto esconde as mãos nos bolsos da bermuda e balança o corpo. Ele tenta fingir arrependimento, mas sei, pelo tanto que convivo com essas crianças, que eles estão há um passo de explodir em gargalhadas.

Cruzo meus braços tentando ignorar a tinta fria que cobre boa parte da minha blusa e arqueio uma das minhas sobrancelhas para ele.

- Você fez essa bagunça toda apenas para não dividir o pote de tinta com sua irmã, Mosquito? E, além disso, conseguiu bagunçar toda a tarefa e arruinar minha blusa novinha. – Eu abaixo meus olhos e faço uma careta para a grande mancha rubra no tecido. – Acha que esse é um bom jeito de se comportar e tratar sua irmã?

Um namorado para o feriado | AlyraOnde histórias criam vida. Descubra agora