03

467 46 64
                                    

Ok. Eu não contei para o Alan sobre o que minha família acha que nós somos.

Ainda.

E isso não tem nada a ver com o medo de quando eu contar a verdade ele desistir de ir à chácara. Ou de ele fazer exatamente o que Alexia previu que ela faria e concordar com essa ideia absurda.

Porém, como se o universo quisesse me punir por não ter sido sincera com Alan, tudo que poderia dar errado aconteceu hoje, justamente no dia da viagem. Após tropeçar várias vezes na calçada tentando trazer minha mala, finalmente chego até a fachada da casa de Alan e torço para que eu não tenha me atrasado muito uma vez que perdi completamente a noção da hora.

Pressiono a campainha e foi como se Alan estivesse parado do outro lado, já que ele abriu a porta segundos depois que o som ecoou ao meu redor.

- Tá tudo bem, Kyra? – Ele me mede com os olhos e eu noto certa preocupação neles. – Tentei te ligar quando percebi que você estava demorando pra chegar, mas você não atendia e eu fiquei preo... as crianças ficaram preocupadas. As crianças e eu ficamos preocupados com sua demora.

Ele gagueja enquanto passa os dedos pelos cachos do cabelo e eu encolho meus ombros, dirigindo-o um sorriso sem graça.

- Senhor Alan, me desculpa pelo atraso, mas eu vim o mais rápido que eu pude. - Prendo meus dedos na alça da mala e tento erguê-la, mas acabo tombando com o peso das minhas roupas e decido que arrastá-la pelo chão não me distenderia um músculo. - Alan. Eu devo te chamar de Alan.

Escuto uma risada vinda dele e ergo meus olhos da mala para a fonte do som.

- Se você tem tanta dificuldade em me tratar de forma informal eu não me incomodo Kyra.

- Não, eu preciso me acostumar a te tratar de forma informal... - Ele ergue uma das sobrancelhas e eu arregalo meus olhos, percebendo minha fala. - ...pois eu mesma disse que vocês estão indo passar o feriado como... como meus amigos. Isso. E amigos não se referem uns aos outros com tamanha formalidade.

Alan ri mais e se aproxima de mim, de modo que sou capaz de sentir seu perfume que está um pouco mais forte que o normal. Não sei muito bem por que, de repente, minhas pernas ficaram um levemente bambas.

Ele se abaixa e entrelaça os dedos nos meus, o que me faz prender a respiração por um segundo. Logo em seguida sinto a alça abandonar minha mão visto que Alan a puxou delicadamente, suspendendo minha bagagem com uma facilidade absurda, como se não pesasse uma grama enquanto a leva em um só braço.

Ele acena para que eu vá até a sala e eu acordo da minha confusão.

O que eu achei? Que o Alan fosse pegar minha mão?

Definitivamente preciso parar de dar ouvidos as loucuras da Alexia.

- O que aconteceu aqui?

Volto minha atenção para Alan, mas ele não tem os olhos em mim. Ao seguir seu olhar, percebo que ele analisa minha mala. Especificamente a falta de uma das rodinhas.

- Ah... isso faz parte do porquê eu me atrasei. – Mordo a parte interna da minha bochecha e olho para cima. – Sem perceber, na loucura que estava a estação hoje, eu acabei entrando no metrô errado e, quando desci, percebi que teria que pegar um ônibus para chegar aqui. Acontece que, quando eu vi o ônibus descendo a rua, eu tentei sinalizar para ele, mas a minha mala prendeu em alguma pedra da calçada e a rodinha saiu quicando pela avenida.

- Quicando?

- Se a minha mala não tivesse quase caído no meio dos carros eu até diria que foi bonitinho. – Meu rosto se torce em uma careta ao lembrar do meu desespero ao me desequilibrar e quase cair da calçada. – Por conta disso eu acabei perdendo o ônibus e outro só passou meia hora depois. Eu arrastei essa mala até aqui e acho que por isso o forro dela tá um tanto maltratado. É uma pena porque eu gosto dela.

Um namorado para o feriado | AlyraOnde histórias criam vida. Descubra agora