— para hoje já está ótimo, até que te comportaste bem — virou-se para mim — pensei que irias complicar um pouquinho — confessou.
— nossa, vieste com muitas expectativas ruins sobre mim.
— não podes me criticar, vives a vida a embirrar comigo. Não passo falar nada, que já me atacas. Eu me pergunto se te fiz algo sem eu saber, porque se fiz me desculpa, não era a minha intenção.
Senti uma tristeza ao escutar suas palavras. Eu sabia que não deveria descontar nele a raiva que eu tinha do Breno, nele nem em ninguém, no entanto eu não podia evitar. Com esse pensamento tomei uma decisão, que eu poderia me arrepender, mas fiz sem pensar. Foi o Breno quem me magoou, não ele.
— prometo tentar deixar de implicar contigo — estendi a mão para ele.
— que bom — apertou a minha mão.
— pelo menos enquanto fores meu explicador — sorri. Ele também sorriu e abanou a cabeça para concordar.
— isso já é bom... muito bom — nos encarávamos, porém dessa vez foi algo leve, nenhum de nós dois ficou constrangido, mas o seu olhar era intenso.
— tens um sorriso lindo — disse. Desfiz o sorriso que estava nos meus lábios e levantei-me.
— daqui a pouco é o almoço, é melhor descermos — disse séria.
Eu não queria que ele mistura-se as coisas. Eu só estava a tentar com que enquanto eu tivesse que o aturar como meu explicador, que pudéssemos estar em harmonia, nada mais que isso.
— cometi algum erro? — segurou o meu braço de leve. Puxei o meu braço e os cruzei.
— vamos descer, por favor — implorei com o olhar. Ele não disse nada, passou por mim e desceu as escadas. Agradeci-o mentalmente por isso.
Ele não disse mais nada. Almoçamos ele, a minha mãe e eu. Apenas conversavam entre os dois, às vezes a minha mãe tentava me incluir, mas eu sempre acabava por ficar para trás. Depois do almoço ele foi, despidiu-se da minha mãe e me ignorou.
O que me incomodou. Era o que eu queria, mas não assim.
— o que é que se passa entre vocês os dois?
— Mãe, não se passa nada.
— a cada dia que passa tenho mais certeza que há alguma coisa, só não sei o quê, todavia já tenho hipóteses.
— não vê coisas onde não tem — ela me olhou não muito convencida da minha resposta, mas não voltou a perguntar.
Olhei para o ecrã do meu telefone: 16h. Combinei de me encontrar com a Cecília e o Heitor, na casa dele. A casa dos dois ficava há um quarteirão da minha. Quando marcamos de irmos juntos para a escola, nos encontramos sempre na rua deles.
Fui a pé, pensei em ir de bicicleta, porém acabei por desistir, preferi ir a caminhar. Coloquei um casaco moletom rosa bebê de capuz. Estava frio. Enquanto caminhava refletia sobre a minha atitude com o Leandro, fui muito dura com ele. Ele está ajudar-me numa boa e eu sempre a recebê-lo com 5 pedras na mão.
Deverias te desculpar.
Quase a entrar na rua deles, que ficava a direita, vi uma borboleta a esquerda. Sempre gostei de admirá-las. Estendi a mão. Ela pousou na palma da minha mão. Era tão linda. Quando olhei para frente vi o Leandro com a Kailane —minha colega de sala — pareciam estarem a se despidir. Com sorrisos nos lábios, pareciam íntimos.
Rapazes, são todos iguais. E eu que já estava a pensar em me desculpar com ele. Que tola eu era. Pensei que ele poderia ser diferente que o Breno, ainda bem que percebi cedo. Irias cair de novo. Nunca aprendes.
Quem abriu a porta para mim foi o Heitor.
— demoraste — disse assim que me viu.
— tive uns imprevistos — forcei um sorriso.
— Bia! — a irmã dele, Soraya, gritou o meu nome toda animada. Pulou em mim.
— ah cuidado, amor — disse a pegá-la no colo — a cada dia estás mais pesada. Daqui a pouco a Bia aqui não vai poder te carregar mais.
— eu não consigo parar de crescer — disse toda emburrada. Ela era uma graça, tão fofa, ainda mais com os lindos olhos castanhos claros. Tinha apenas 6 aninhos. Estava com dois pompons, como sempre — estou com saudades, um montão — disse e mostrou o tamanho com as mãos, abriu largamente os braços.
— Sério? Eu também. Um montão.
— Soraya, vai assistir um pouco de TV, que eu tenho que falar com a Bia, ok? — indagou o Heitor.
— tá — respondeu junto com um abano de cabeça — não desaparece mais.
— daqui a uma semana volto — brinquei com ela.
— Não! Amanhã.
— isso é uma ordem?
— uhum...
— irei cumpri-la — prometi. Coloquei-a no chão e fui com o Heitor para o quarto, onde já estava a Cecília.
— não imaginam quem eu vi com a Kailane — falei assim que sentei no puff azul ao lado da cama.
— quem? — perguntou a Cecília.
— o Leandro — respondeu o Heitor, sentou-se perto da Cecília, na ponta da cama de frente para mim. Olhei para ele estupefata.
— sabias e não me contaste nada? Que bom amigo és — disse indignada com a sua atitude.
— e porque é que eu tinha que contar? Não achei algo importante.
— Não achaste importante? — ri sarcasticamente.
— Não. Sinceramente não, até porque não te interessas por ele ou te interessas?
— claro que não — levantei — isso jamais, escreve bem, jamais eu me interessarei por ele.
— nunca digas dessa água não beberei — avisou-me a Cecília.
— dessa aí não há hipóteses. Vi ele com a Kailane, ainda a pouco.
— ahm... Agora entendi tudo — disse o Heitor. Olhei para ele sem perceber o que ele quis dizer com isso. Ao ver o meu olhar de questionamento, falou: " quando abri a porta e te vi, vi que não estavas bem. Já percebi o porquê".
— Estás com ciúmes dele? — indagou a Cecília.
— Nada disso, achas? — Voltei a sentar — eu só fiquei chateada por algumas horas ele vir com a conversa de lindo sorriso e tudo mais e eu...
— para tudo! — a Cecília levantou — ele elogiou o teu sorriso, quando é que irias contar isso?
— é o que eu acabei de fazer.
— Deverias ter dito isso desde que entraste. Como é que demoras para contar isso? Só tu mesmo. E estás mais preocupada com a Kailane. O que é que tanto te incomodou, eles estavam a fazer o quê?
— acho que a despidirem-se um do outro.
— e o que tem demais? — perguntou o Heitor.
— o que tem demais? — repeti a sua pergunta, a achar óbvio a resposta — ele... —comecei mais logo parei assim que percebi que não tinha uma explicação lógica para eu estar assim, no entanto isso não me fez ficar menos irritada, não me fez deixar de pensar neles dois juntos.
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Um coração com feridas
RomanceO amor é um sentimento tão lindo e puro, pena que nem todos acham isso e brincam com os sentimentos dos outros sem medir as consequências. O que para ti parece bobagem é a razão de destruição para outra pessoa. Bianca estava ferida, não confiava ma...