A tua mãe?

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Antes de dormir falei com a Cecília e o Heitor. Informei-os que eu não iria a festa. Eles vieram com a conversa de que não tem sentido irem sem mim, mas eu insisti e consegui convencê-los.

Sábado, de manhã, as 8, estávamos a entrar no hospital onde o meu pai estava. Ele havia recebido alta. Tentou relutar, dizer que não era preciso, que podia cuidar dele mesmo sozinho sem complicações e blá blá blá, mas não cedemos, então ele teve que dar-se por vencido. Nós somos terríveis, uma dupla de mãe e filha difícil de vencer.

Deixei-o no quarto dos hóspedes, após ele estar confortável e liguei para o Leandro, encontrei chamadas perdidas dele.

— oi, Sol — atendeu no primeiro toque.

— oi — encostei as minhas costas na cabeceira da cama.

— e essa voz? É tão horrível falar comigo? — Sorri fraco.

— pelo contrário — encarei a parede amarela do meu quarto

— então?

— o meu pai sofreu um acidente.

— eu vou agora mesmo...

— ele está bem, está na nossa casa por um tempo, enquanto se recupera.

— e isso não é bom? — perguntou sem entender o motivo da minha tristeza.

— é, mas não vou poder ir a festa

— porquê?

— com todo o ocorrido esqueci de avisar a minha mãe e também não quero deixá-la sozinha nisso.

—se não fores, eu também não vou.

— não precisas deixar de ir por mim — na verdade ele precisava, porém nunca diria isso.  

— eu vou para tua casa, ok?

—ok  — desliguei a chamada.

— vais sim — assustei ao ouvir a voz da minha mãe. Encarei-a. Estava ancorada no batente da porta — por que é que deixarias de ir?

— e o pai? 

— eu cuido dele e ele está ótimo, necessita de descanso, só isso — olhei-a indecisa e ao ver a minha expressão, acrescentou: Vai lá te divertires um pouco. Ele fica bem.

 — e a feira? A sra. Rildom precisa de ti.

— deixa comigo, eu é que sou a mãe aqui, depois me conta sobre o Leandro. Parece ser um bom rapaz, na realidade tenho a certeza que é.

— mãe...  — tentei protestar.

— mãe nada, tenho que saber o que acontece com a minha filha — falou antes de sair do meu quarto.

Em poucos minutos o Leandro estava a tocar a campainha. Desci as escadas a correr, já sabia que era ele.

— ele não vai fugir —escutei a minha mãe gritar em meio aos risos, da cozinha.

Soltei uma risadinha.

— oi — balbucilei ao abrir a porta. Dei espaço para ele passar. Fechei a porta e sentamos no cadeirão.

— a tua mãe?

— aqui — disse a aparecer na sala.

— Bom dia sra. Chirtley — levantou-se.

—Bom dia, Leandro, fica à vontade futuro genro ou já genro, sei lá —corei. Que situação.

— mãe... — falei constrangida.

— o quê? nunca sei de nada — o Leandro apenas ria da situação — vou na feira, podem ajudar-me rapidinho com as caixas?

— claro —concordamos. Ajudamos a  levar as caixas no carro e depois voltamos para a sala.

Um coração com feridasOnde histórias criam vida. Descubra agora