Alguns meses depois

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Eu estava de férias, o ano lectivo havia terminado. Eu, a Cecília e o Heitor, pretendíamos entrar na universidade do Leandro.

Falando nele, já faz um mês que o meu bebê está na sua cidade, ele foi num dia depois do meu aniversário de 19 anos, que por acaso foi incrível. Ele cantou e ainda me chamou para o palco e disse palavras tão doces, cada dia ao lado dele é magnífico. Ficou de voltar no próximo mês, a saudade aumentava a cada minuto.

Infelizmente ele não poderá comparecer no aniversário de casamento dos Srs. Rildom, que por acaso é hoje. Não era para ir muito formal, mas tínhamos que estar bem apresentados, parece que ele convidou várias pessoas.

Eu coloquei um vestido vermelho, justo em cima e solto em baixo, com bolsos nas laterais. Prendi o cabelo num coque e calcei uns saltos brancos, abertos em cima. A minha mãe estava linda, aliás, nesses dias ela tem tido um brilho diferente, tem uma explicação para isso: o novo namorado dela.

Eu nunca falei com ele, mas sentia como se já o conhecesse. Era tão bom vê-la feliz, depois de tudo que aconteceu com o meu pai ela merecia isso.

Esperava que ele soubesse valorizá-la, que conseguisse enxergar a mulher incrível que ela era. Eles se conheceram quando a minha mãe foi fazer uma reclamação de algo que ela mandou vir de fora. Além de atendê-la bem, também ficou com o contacto dela e a ajudou com tudo, acabaram por ficar amigos e o restante foi natural.

O meu pai é que perdeu uma grande mulher, agora nem a secretária ele tem, ela deu um golpe nele, fê-lo assinar alguns documentos e roubou muito dinheiro dele, quando ele percebeu já era tarde de mais, ela já havia fugido e há suspeitas de que tenha um cúmplice. Sinto muito por ele, porém foi bem merecido. 

Escutamos a campainha e eu comecei a ficar nervosa. Bom, não é todos os dias que se conhece o novo namorado da sua mãe. Sim, ele ofereceu-se para levar-nos, os Srs. Rildom exigiram a sua presença, não era a única ansiosa por conhecê-lo, depois de ouvimos tantas coisas boas sobre ele.

Finalmente iria conhecê-lo.

 Abri a porta e deparei-me com um homem que aparentava ter mais ou menos 1, 80 m de altura, cabelos grisalhos e em menos de cinco minutos deu para notar que tinha um ótimo senso de humor. Esperamos alguns minutos pela minha mãe e depois seguimos para a casa do Srs. Rildom.

A casa já estava cheia. Vi de longe o Heitor e a Cecília. Era tão bom vê-los felizes, a namorarem. Ainda bem que a minha amiga deixou as desculpas de lado e cedeu.

A Sra. Rildom disse-me para ir para o quarto do Leandro, com a conversa de que tem uma surpresa para mim. É o aniversário dela de casamento e quem ganha presente sou eu.

Abri a porta e não pude acreditar ao vê-lo. Saltei para cima dele e quase caímos.

— Senti tanto a tua falta — confessei, abraçada a ele.

— Eu também senti sol.

— Não me avisaste porquê? Eu ia junto com os Srs. Rildom a tua busca — sentamos na beirada de sua cama.

— Queria fazer-te uma surpresa, não gostaste? — colocou uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha. Olhou no fundo dos meus olhos.

— Eu gostei muito. Não vi-a a hora de voltar a poder tocar-te, olhar nos teus olhos, sem ser através de uma tela, estar abraçadinha a ti, é o que eu mais amo. Foram dias longos para mim.

— Para mim também — colou as nossas testas. Os nossos lábios encontraram-se. Senti tanta falta disso, do seu beijo, da sua prença física...

Eu me sentia nas nuvens com ele.

O beijo foi lento e duradouro.

Só os nossos lábios se separaram, nossas mãos e testas ainda estavam juntas. Depois de alguns minutos descemos e ele foi cumprimentar algumas pessoas enquanto eu fiquei a conversar com o Sr. Rildom.

 — Desde que vos apresentei que eu percebi que havia algo, estava tudo no ar, acho que todos perceberam. A Sra Rildom, a minha querida mulher, lembro-me bem que ela comentou sobre isso nessa mesma noite comigo.

 — Então todos aqueles encontros... — comecei a falar mais ele completou o meu raciocínio, confirmando:

— Foram para vos aproximar.

— Esse tempo todo o tio foi o nosso cupido — disse o Leandro, aparecendo por trás de mim, a me abraçar, envolvendo os braços à volta da minha cintura. Reclinei a cabeça no seu peito. Ele deixou um beijo na minha testa.

— É tão bom ver-vos assim, depois de tudo — falou o Sr. Rildom. Rimos — É muito bom mesmo.

Maravilhoso demais.

— Leandro podes levar a minha filha para casa depois? — perguntou a minha mãe.

— Com certeza.

— E não posso voltar com a senhora porquê? 

— Tenho outros planos.

— E para onde a senhora vai?

— Estou bem crescedinha para ser controlada, não te preocupes que estarei em casa ainda hoje — lançou um beijo para mim no ar antes de sair com o Sr. Turkey, seu namorado.

— Olha essa — falei, abismada.

— Deixa ela ser feliz — falou o Leandro.

— Isso porque não é a tua mãe — soltei sem pensar. Virei-me para ele, assim que me apercebi do que eu disse — desculpa... Eu... Desculpa, Leandro, falei sem pensar.

— Sei que não foi de propósito, amor, está tudo bem.

Entrelacei as nossas mãos e guiei-o para fora de casa. Sentamos no capô do seu carro.

—Eu não deveria ter falado aquilo.

— Já disse que está tudo bem — eu ainda via o olhar triste — vais para que universiade? — indagou, mudando de assunto.

— A tua — vi um sorriso no seu rosto — quero estar bem perto de ti.

Ficámos em silêncio por alguns segundos, a rua estava silenciosa, não passava carro nenhum naquele momento e nem pessoas.

— Fascinas-me — retirou uns fios do meu cabelo castanho escuro do meu rosto. Sorri com suas palavras.

Envergonhada, inclinei-me para trás e observei o céu .

— Tão lindo — balbucilei admirada com sua beleza.

— Sim, muito, porém infelizmente ele tem uma rival que supera a sua beleza— senti sua quentura e estremeci quando ele falou bem perto do meu ouvido: — ofuscas ele.

Ele era perfeito. Um sonho, um autêntico sonho. O cara que toda miúda pede para ter e era meu. Apenas ele podia curar as minhas feridas, eu tinha um coração com feridas e ele chegou para me curar, para me ajudar a confiar de novo e abrir o meu coração. O Leandro, o meu amor, era tudo o que eu precisava e não sabia, agora estava pronta para dar tudo de mim, sem medos e traumas, pronta para ser feliz, finalmente.

FIM

Um coração com feridasOnde histórias criam vida. Descubra agora