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Era uma segunda feira, a última segunda de férias, quando recebemos uma carta muito interessante. Nela estava escrito que a minha mãe queria convocar-nos para pedir a minha custódia.
Fiquei lixado porque não teve a coragem de aparecer aqui e falarmos sobre isso. Falta só mais um ano para eu ser maior de idade, eu devia ter a opção de escolha, não os meus pais. Pelo menos ainda não é uma convocatória judicial, é só uma "amigável" com a presença dos advogados. Espero que corra tudo bem, que cheguem a um consenso. Eu preferia que o meu pai ficasse com a minha custódia completa, não que dividissem, mas se isto for para tribunal, eu tenho medo que a minha mãe a ganhe.
A "reunião" é só no sábado, por isso, preparo na minha cabeça uma planificação da divisão que podíamos fazer, para que eles entrem em consenso e que não haja alarido.
Quando a recebemos o meu pai ficou perturbado, nessa noite, eu ouvi mais do que o normal a garrafa a pousar na mesa e também ele a dizer, irritado "Para além de me trair, quer me tirar o filho, isso tem algum jeito??". Depois dessa fala, ele atirou o copo para algum sítio , eu só ouvi o estrondo.
Não aguentei, tive que ir para a cozinha, perguntei-lhe se estava tudo bem. No instante que ele me vê, ajoelha-se e começa a chorar. Corri para a beira dele e abracei-o forte.
-Vai ficar tudo bem, pai- disse entre soluços.
-Não queria que me visses assim, eu não te quero perder. Já perdi a tua mãe.
-Não vais me perder, eu vou estar sempre aqui para ti. A mãe nunca te mereceu, tu deste tudo o que se podia dar.
O meu pai abraçou-me forte e ficamos assim até ele não aguentar mais e adormecer. Nesse momento, eu agradeci ao Lacrosse, porque consegui pegar nele e mete-lo no sofá. Ele depois que descobriu a traição, emagreceu bastante, o peso dele era o peso que eu colocava nos pesos, no ginásio.
Cobri-o e fui para a cama, mas não consegui dormir, estava demasiado irritado com a minha mãe por ter deixado o meu pai naquele estado.

No dia seguinte, dormi o dia inteiro e acordei uma hora antes do treino. Gostava imenso de continuar a dormir mas se eu falto a um treino já não sou convocado para o jogo.
Quando entrei no campo, como sempre procurei pelo Nate e pela Júlia. Em poucos segundos, encontrei-os e fui em direção a eles.
-Ivo, anda cá, tenho uma cena para te contar.- disse o Nate.
-Tell me- disse
-Infelizmente, acho que tinhas razão quanto à rapariga ter namorado. Hoje, quando estava a vir para o treino, no metro, pela descrição que me deste dela, encontrei-a e estava com um rapaz. Ele gritou qualquer coisa que já não me lembro mas sei que queria envergonhá-la. Pelo que pareceu resultou porque ela ia sair do metro mas ele impediu-a, agarrando-a pela cintura.
-Oh não, eu tinha a certeza que aquilo do contacto era na brincadeira- disse a Júlia desanimada.
-Eu avisei-vos, mas vocês são teimosos.-disse tranquilo. Eu sabia que ela namorava, mas quando lhes contei, eles insistiram que isso era só uma alcunha e que as pessoas do sítio de onde ela é, podem usar muito essa alcunha com amigos. Mas que teoria mais estúpida, se fosse de outro país até podia ser admissível.
Do nada, perdi-me nos pensamentos e retorno à realidade quando o treinador apitou bem no meu ouvido. Fiquei surdo por segundos e comecei a fazer o aquecimento.

Acabou o treino e estava quase a chegar à estação, quando de longe avistei um casaco parecido com o meu, aquele que perdi. Uma rapariga estava a usá-lo. Quando me aproximei, reconheci aquele rosto, era a rapariga do metro, estava a ler um livro.
Não sabia se avançava ou não. Mas acabei por ir para trás dela e ficar a ler o livro aberto que tinha na mão. Eu leio cada palavra na minha mente, porém houve uma frase que me chamou atenção e decidi lê-la em voz alta.
-"Seja lá qual for o material que de que nossas almas são feitas, a minha e a dele são do mesmo." - disse atrás do pescoço dela. Com esta frase consegui reconhecer o livro que está a ler.
Então, sentei-me ao lado dela e no momento que olho pra ela, não consegui me conter e dei um sorriso. Ela perguntou-me se era um bom livro e claro que disse que sim, um dos meus favoritos.
Sinto um alívio instantâneo quando ela me disse "Ah , antes que me esqueça ou que desapareças outra vez, o rapaz da última vez não era meu namorado. Na realidade não há um namorado.". O meu coração palpitou de felicidade mas eu acalmo-me mentalmente e faço me de indiferente respondendo:
-Bom saber.

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