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Merda. O amor às vezes é lixado. Fazemos coisas estúpidas por estarmos apaixonados e nem sabemos se é recíproco. Mas se sabemos que não é recíproco para quê beijar a rapariga. Por isso é que o rapaz mereceu um soco.
Não só por isso,mas também porque o meu coração, por segundos, partiu-se.

Numa terça-feira, última de aulas do 11º ano, o meu professor de biologia faltou e eu decidi perguntar se podia estar com a Rafa. Ela aceitou, mas quando eu cheguei lá vi o seu melhor amigo beijá-la. Antes de ela ter falado comigo, eu não sabia que era o seu amigo, por isso fiquei um bocado magoado. Eu pensava que se ela tivesse arranjado namorado, ela me diria. Se ela foi capaz de se abrir sobre os seus problemas psicológicos, como não iria me dizer sobre o namorado?
Depois do que ela me disse, que ela não queria, a raiva falou mais alto. Quando uma rapariga não quer e tu sabes disso, tu não fazes nada. Eu nunca faria uma coisa dessas.
A primeira solução que me veio à cabeça foi enfiar um soco naquele merdinha, o pior foi ele me pedir para controlar depois de ter beijado uma rapariga que não queria ser beijada. A porrada foi bem merecida, não foi a primeira vez que andei à luta e que também foi bem merecida.
A primeira vez que andei à luta com alguém foi quando um gajo, estupido e aleatoriamente, decidiu passar a mão no rabo da Júlia. Acho que nenhuma pessoa do sexo feminino deva passar por isso.
Em ambas as lutas, a única consequência foi a cara dolorida, porque eu fui esperto e sempre fiz longe da escola e de problemas maiores. Também há uma ligeira zanga com elas mas nada que não passe.
Quando a Rafa virou-nos as costas, eu disse ao rapaz:
-Viste a merda que fizeste? Para além de ter ficado zangada contigo ficou zangada comigo. Para a próxima já sabes, não beijes uma pessoa que tu sabes que não quer ser beijada.
E depois fui a correr até ela, desculpar-me. Ela ficou chateadíssima porque aquele rapaz era seu melhor amigo. Eu não sabia disso, eu só sabia que ela não queria aquele beijo.
Eu não a queria perder, eu queria que ela entendesse o meu lado. Quase que não consegui segurar as lágrimas quando lhe disse isso. Só de imaginar perdê-la já me sinto triste.
Eu sei que só a conheço há alguns meses, mas eu nunca senti uma conexão com alguém como a que sinto quando estou com ela. Ela faz-me bem, faz-me parar de preocupar com os meus problemas. Eu pelo menos estou caidinho por ela. Ela fez-me acreditar no amor outra vez...

Ela estava maravilhosa quando estava a cuidar da minha cara. Quando ela estava concentrada, fazia a cara mais fofinha. Não conseguia tirar o sorriso da cara.
Aquilo estava a doer para só uns cortezinhos, como estava a gemer de dor, ela chamou-me de criança. Aproveitei para ver se lhe conquistava um beijo e consegui, mas na ferida. Para a próxima, se houver próxima, vou dizer que tenho uma ferida nos lábios.
Ah, ela para cuidar da minha ferida, entrou em minha casa. Eu fiquei com medo que a casa estivesse desarrumada e que o meu pai estivesse em casa, mas ainda bem que o meu pai pediu ou fez a limpeza de casa e que ele estava a trabalhar.
Estava a trabalhar mas chegou a hora de o trabalho acabar. Quando chegou, o meu medo naquela hora era que ele me envergonhasse, porque ele sabe quem é a Rafa. Mas graças ao destino, o meu pai esqueceu-se que a rapariga que eu falei-lhe chamava-se Rafaella e quem acabou envergonhada foi ela.
Sabia que estava lixado, quando o meu pai viu o meu estado. O primeiro confronto que tive, ele não descobriu porque teve uma viagem de trabalho e naquela altura levou a minha mãe. Desta vez não tinha como safar-me.
Depois de ter levado a Rafa à paragem, tive uma conversa com o meu pai.
-Filho, porquê que partiste para a violência? O quê que o rapaz fez?- perguntou-me no instante em que entrei na casa.
-Pai, tu ias deixar que um rapaz fizesse algo à tua amiga, ela dizer que não queria aquilo e deixá-lo safar-se? Tipo, merecia sofrer uma consequência.- respondi-lhe.
-Não. Foi isso que aconteceu?
-Sim. O idiota do melhor amigo dela sabia que não era recíproco e mesmo assim beijou-a.
-Que idiota, fizeste bem. Mas não sei como é que ele ainda te deu de volta.
-Há pessoas que são idiotas e não sabem que fizeram merda. Já é o segundo idota que apanha por fazerem algo que deixou a rapariga desconfortável.
-Segundo?!- perguntou o meu pai chocado.
-Sim, o primeiro apanhou porque passou a mão onde não devia no corpo da Júlia.
-Como é que eu nunca soube disso?
-Porque foi quando foste fazer aquela viagem de trabalho e eu fiquei na casa do Nate.
-Ah. Tenho orgulho em ti,sabes? Mas acho que havia outra solução para isso.
-Eu acho que não. Se fosse fazer queixa na polícia, eles não iam entender o lado das raparigas. De certeza que eles iam dizer que os rapazes estavam a brincar e que isso não era assédio.
-Pois, tens razão. Ser mulher deve ser difícil.
E assim, acabamos a conversa. Depois, fomos ver um filme enquanto jantávamos uma pizza, no sofá.

Chegou sexta de manhã e no dia seguinte eu tinha que ir para a casa da minha mãe outra vez.
-Filho, a tua mãe mandou uma mensagem a dizer para ires com as coisas prontas, para a próxima semana, para a escola.- disse o meu pai, no momento em que entrei na cozinha.
-Porquê?- disse.
-Porque ela nas mensagens disse que ia te buscar à escola.
-Mas porque raios? A semana dela só começa amanhã.
-Filho, vamos obedecer-lhe, sabes como ela é quando algo de errado acontece.
Calei-me porque ele tinha razão, aquela mulher passa-se quando as coisas não acontecem como ela quer.
Depois, como naquela noite o meu pai não ficou acordado até tarde a beber, eu consegui adormecer cedo e acordei bastante cedo. Como acordei cedo, tive tempo para preparar a roupa e mais coisas para a semana. Tive tempo até de pensar em de seguida, deixar aquela roupa naquela casa e só as uso nas semanas da minha mãe.

As minhas aulas correram melhor e as feridas das porrada já estão quase saradas. Claro que nos primeiros dias, depois disso, toda a gente olhou-me com cara de curiosidade e até houve pessoas que me perguntaram. Pessoas que eu não conhecia de lado nenhum, mas pelo vistos elas conhecem-me porque chamavam-me pelo meu nome.
Também nesse dia da luta, eu contei ao Nate e à Júlia. O Nate adora quando eu ando utilizo a violência e ficou tipo "o meu rapaz está crescido, andou à bulha". Já a Júlia não ficou muito contente por ter ido para a violência mas concordou comigo.

As minhas aulas às sextas acabam às 13, por isso, quando estava a sair da sala mandei uma mensagem à minha mãe.

*MENSAGENS*
Tu: As aulas acabaram agora, vens me buscar agora ou como com os meus amigos?

Mãe: Não vais comer com os amigos hoje, o Henrique está à tua espera no estacionamento

Tu: Porque raios o Henrique veio me buscar e tu não?

Mãe: Porque eu estou no trabalho e o Henrique não.

Tu: EU NÃO VOU PASSAR A TARDE COM ELE

Mãe: Vais sim, porque eu mando!
Atreve-te a não ires com ele para casa!

Desliguei o ecrã e a minha vontade era de o atirar para a parede.
-Porquê essa cara de idiota zangado?- perguntou o Nate ao meu lado.
-Porque vou passar uma linda tarde com o meu "padrasto".-ironizo, revirando os olhos.
-Ei que merda. Querem vir para minha casa?- disse a Júlia
-Não posso, estou a ser indiretamente ameaçado.-respondi
-Como assim?- perguntou a Júlia
-Eu disse à mulher que eu não ia passar a tarde com ele e ela respondeu-me com um "Atreve-te".
-Boa sorte, então- disse o Nate dando-me uma palmada nas costas- Eu vou me indo, depois falamos sobre como correu.
-xau, também é melhor indo. a minha mãe está a ligar-me.- disse a Júlia olhando para o telefone.- Boa sorte, Ivo. Depois conta-nos como correu.
E fiquei sozinho.
Dirigi-me para o estacionamento e comecei andar às voltas à procura de alguém familiar. Acho que devia ter perguntado qual era o carro dele antes de me passar com a minha mãe. Durante 15 minutos, fiquei a andar pelos carros a ver se via alguém dentro do carro que fosse o Henrique.
Mas do nada, sinto uma mão no meu ombro e dou um pulo de susto.
-CARALHO- grito e quando me viro vejo que é o Henrique.- Merda, fodasse. Perdão. Essa merda não se faz.
-Desculpa, acho que devia ter buzinado, em vez de ir atrás de ti.- disse o Henrique.
-Acho que ia dar merda na mesma.- disse- Não ouviste nenhum palavrão vindo de mim.
-Eu não conto à tua mãe. Não tiveste culpa, eu é que fui idiota em vir atrás de ti em vez de buzinar ou pedir à tua mãe o teu número e dizer-te qual é o meu carro.
-Pois, fostes. Para a próxima já sabes.-disse

De seguida, eu segui o Henrique até ao carro dele. Estou a gostar um bocadinho mais dele porque o carro dele é um dos meus favoritos: um Peugeot 3008 preto. O carro perfeito para uma família, é o carro que eu quero para quando formar uma família.
-Onde queres comer?- perguntou-me o Henrique quando entramos no carro.- Eu sei cozinhar, mas se tu tiveres medo que eu te envenene, podemos pedir pelo drive-thru.
-Pois, esse é o meu maior medo.- respondi-lhe- Podemos comer sushi?
-Foste logo para a comida que eu não gosto.
-Que coincidência. Hoje vais gostar de sushi.
-Tens sorte que eu quero fazer-te a vontade para gostares de mim.
-Infelizmente eu não sei se isso vai acontecer.

Com esta fala, o Henrique liga o carro e fomos comer sushi. Foi um bocado constrangedor porque não temos muita afinidade.
Ele aproveitou para pedir novamente desculpas. Estou a começar a acreditar que ele não sabia mesmo que ela era casada.
Até passamos uma boa tarde, ele mostrou um grande interesse em me conhecer e a mostrar que não queria estragar a família. Já não o culpo mais, até tenho pena. Porque ele foi usado pela minha mãe. Espero que ele não esteja a ser obrigado a fazer parte daquela família...

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