Capítulo 1

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Um dos maiores desejos que tenho na minha vida é voltar para o passado, no dia em que eu nasci, e colocar juízo na cabecinha de minha mãe. Não diria nem conscientizá-la, mas colocar juízo mesmo. Qual mãe em sã consciência colocaria o nome da filha de "Linda"?

Pelo amor de Deus, moramos no Brasil. Linda é um adjetivo usado para garotas literalmente lindas e não para um bendito nome próprio, mas, claro, minha mãe achou esse nome o máximo do máximo e resolveu colocar na filha única.

Infelizmente, não posso voltar para o passado e consertar esse erro terrivelmente terrível, apenas tenho que aceitar esse nome e brigar com meus pais de vez em quando (especificamente quando não tenho nada para conversar com eles e quero falar algo) por ter essa ideia tão genial.

Claro, tenho 17 anos, o que significa que passei 17 anos escutando piadinhas sem graça e clichês do estilo: "Linda, você é linda". Ou comentários com um ar de ofensividade como "Por que seu nome é Linda se nem linda você é?". Ridículos? Demais, mas se você não quer viver em tristeza profunda por causa das consequências que seu nome trás, é preciso se acostumar a ele, talvez até gostar de ser chamada assim, ao ponto de as ações dos outros sobre seu nome não surtir nenhum efeito em você.

Por isso, comecei a aceitar o meu nome de adjetivo e me acostumei as baboseiras que muitos falam. Na realidade, nem penso mais nesse assunto do meu nome, porém, quando está dentro de um carro e indo para um lugar que com certeza você não quer ir, é melhor pensar em coisas fúteis que ficar nutrindo o ódio mortal pelos pais que quase faz uma fumacinha sair da minha cabeça.

Meus pais tiveram a genial ideia de passar as minhas férias inteiras na terra natal de meus avós, tipo inteiras. Dois meses dentro de uma bendita casa longe de quase tudo, rodeada por plantações e em cima de uma serra. Um ótimo lugar para uma garota totalmente urbana como eu.

Eu até gosto da natureza, não vou mentir. É bom sentir o ar fresco no seu rosto em vez do ar poluído ou pisar na grama com os pés descalços ao contrário das sensações de calos insuportáveis por causa dos sapatos fechados, mas... É bom sentir isso por uns dois dias e depois ir embora para a cidade e, principalmente, sentir isso em outro lugar e não exatamente aqui.

Meus pais sempre me perguntam o motivo de eu não querer mais vim para cá desde os meus 11 anos e eu sempre falei todos os motivos (menos o último, porque ainda não cheguei ao auge da loucura).

1) Nunca gostei muito do meu avô paterno, ele sempre foi muito machista e me perguntava se eu já sabia cuidar da casa, lavar louça e todas essas coisas. E eu sabia que ele me perguntava isso para ver se já tinha uma neta capacitada para um marido. E olha que na época eu tinha apenas 11 anos.

2) Detesto frio. É muito melhor o vento do litoral e o sol quente na minha cara enquanto tomo banho de mar. Frio faz apenas meus ossos doerem.

3) Eu já citei que aqui era longe de absolutamente tudo? Então, é verdade. A cidadezinha mais próxima que tem um restaurante é uns sete quilômetros daqui. Não é tão longe, claro, mas você precisa pegar uma estrada totalmente cheia de areia, fazendo demorar meia hora para chegar até lá ou mais que isso.

4) E o principal, ele.

Aqui é longe de qualquer zona urbana, mas tem umas quatro casas bem próximas dos meus avós. É como se fosse uma espécie de retângulo. Na extrema direita da parte de cima, encontra-se o meu tio com a esposa, na extrema esquerda da mesma parte tem minha tia e o seu esposo, na extrema direita da parte de baixo tem a casa de um irmão do marido da minha tia com sua esposa e filhos, na extrema esquerda da mesma parte tem a irmã da esposa do irmão do marido da minha tia. E, no centro, encontra-se a casa dos meus avós.

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