4. Lembrança

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O RESTO DO DIA FOI ÁRDUO, TRABALHAR DEBAIXO DO SOL QUENTE não foi muito tranquilo, talvez pegasse uma insolação, mas em relação ao seu trabalho, imaginou ter ido bem se levar em consideração as críticas que não recebeu.

Quando chegou ao domicilio sua rede já estava arrumada junto das outras. Alby, querendo que a garota tivesse um pouco mais de privacidade, pediu para o clareano encarregado do serviço que pendurasse a rede de Kiara um pouco mais longe que as dos garotos. Por fim, sua rede ficou demasiado longe das outras, posicionada entre a parede da despensa e o domicilio, perto das redes dos corredores que ficavam mais afastadas pelo horário de acordar e dormir. 

Com sua barriga roncando, Kiara foi diretamente para a cozinha, onde encontrou Caçarola fazendo o jantar.

— Como ficou a panela? — perguntou assim que adentrou a cozinha, tentando puxar assunto. Caçarola não tinha visto a garota e ficou surpreso em vê-la ainda de dia.

— Não queimou tanto. — Caçarola deu um sorriso singelo. Mesmo um pouco irritado pela panela queimada, sabia que a garota só estava tentando achar o seu lugar e compreendia isso, assim como ela e todos os clareanos, ele também foi um novato uma vez. — Com fome? O jantar tá quase pronto.

— O cheiro tá uma delicia, fiquei com mais fome ainda. — riu nasalmente, não que fosse mentira, pois o cheiro aumentou sua fome. 

— Como foi seu dia? Fiquei sabendo que criou um plong de confusão com os construtores. — um riso acabou saindo dos lábios de moreno, mas logo se desfez ao ver o olhar cabisbaixo da garota. 

— Ah, todo mundo já sabe? — assentiu. — Pois fiquem sabendo que eu só me defendi, não teria feito aquilo se Mark tivesse me respeitado! 

De alguma forma, a raiva daquele momento ainda passava em suas veias. Não queria acreditar que isso se tornaria uma rotina e que teria que aprender a conviver com todos aqueles olhares que a deixava desconfortável. 

— O que ele fez? — Caçarola largou a colher que mexia a comida na panela e olhou curioso para a menina, queria saber o que aconteceu, a história real, a verdadeira, e não o que ouviu das conversas distorcidas dos clareanos. 

— Ele... ele.. — Kiara não imaginou que falar sobre aquilo era tão difícil, não pensou que seria constrangedor ou humilhante. Ela queria falar, só não sabia como. — Eu não sei, não consigo explicar. — desviou o olhar cabisbaixo para o chão, não tinha coragem para olhar o clareano. 

— Olha, o Mark sempre foi um trolho desagradável e imagino que contigo não foi diferente. — encarou o moreno com esperança que pudesse ajudá-la. — Não sei o que fez ou disse para você,  mas imagino que para ter feito toda essa confusão, foi alguma coisa que te irritou bastante, então foi por merecer. 

— É, com certeza foi. 

Na hora do jantar, vários garotos sentaram na mesma mesa que Kiara e tentaram ficar próximos, já ela, tentou ficar o mais perto possível de Caçarola e da cozinha onde se sentia um pouco melhor do que no meio dos meninos. 

Dessa vez a noite foi longa, muito longa. Depois que deitou, ficou vidrada no barulho dos muros e dos verdugos, era de fato assustador. No entanto, a única coisa maior que o terror dos barulhos, era o desconforto de estar ali. 

Se tivesse uma maneira de sair dali. 

Se tivesse um jeito de fugir e se esconder. 

Se tivesse uma maneira de se proteger. 

Se tivesse uma maneira de socar as pessoas que os enviaram ali, vulgo os Criadores. 

Se tivesse uma forma de voltar para casa, seja lá onde fosse. 

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⏰ Última atualização: Apr 15, 2022 ⏰

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DESCARTÁVEL | The Maze RunnerOnde histórias criam vida. Descubra agora