Pandemonium

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Capítulo com 9687 palavras 






Não era tão fácil agora quanto havia sido há tanto tempo atrás. Se arrastar em meio às passagens turbulentas, com alto cheiro de gás e resíduos tóxicos, não era uma tarefa tão simples uma vez que seu corpo parecia maior a cada dia que se passava. Mas não havia outra forma de fazê-lo, não quando o objetivo era chegar no lugar que ele foi ensinado a concordar ser o único em que ele era bem vindo em estar.

Acontece que crescer abaixo do chão, onde toda a luz que poderia visualizar era resumida na claridade das salas de testes e corredores quase vazios, havia de certa forma lhe entediado. Claro, uma vez que não era lhe mostrado sobre um mundo exterior ele, de fato, não sabia da existência de tal. Não até ter tido idade o bastante para aprender a compreender, aprender a falar, por exemplo. Quando isso aconteceu, ele pôde finalmente assimilar o que antes era uma grande bagunça de sons sem sentido.

As poucas pessoas que ele via, indo e vindo próximo de seu lugar dentro das paredes e grades, frequentemente estavam produzindo aquelas sequências de ruídos umas com as outras. Palavras. Falar. Ouvir. Entender.

Ele se atentou a isso, de alguma forma. Talvez por não ter muito o que fazer ali dentro, talvez por não ter mais nada em lugar algum. Ele entendeu que havia algo acima deles, entendeu que haviam outros como eles. Como ele. Então ele tentou, pela primeira vez, expressar-se.

Foi um momento difícil quando abriu a boca para falar pela primeira vez, olhando nos olhos do homem que se preparava para inserir mais uma das muitas agulhas em suas veias. Ele não estava pensando se aquele novo líquido seria o que lhe causava dor ou o que lhe causava sono. Ele apenas deixou as palavras fluírem o melhor que pôde.

" Fome "

Ele lembra de como os olhos antes inexpressivos do único homem naquela sala tão branca quanto qualquer outra em que ele já esteve, menos a sua, que deveria ser a mais escura do lugar, se arregalaram. A agulha sendo inserida em uma porção abaixo de sua nuca pareceu congelar, levando-o a inclinar vagarosamente o rosto para o lado. Deitado de bruços contra a maca fria, com todos os seus membros amarrados, não havia muito o que ele pudesse oferecer em seu olhar.

" O que você disse? " O homem perguntou-o, seu tom soando diferente da tão costumeira indiferença.

" Eu... fome "

Não havia muito mais para lembrar sobre tal dia. Em algum momento a agulha foi empurrada para dentro em sua pele e ele se lembra de fechar os olhos. Em sua mente, constatou que talvez também não fosse bem vindo para deixar os sons saírem por sua boca como via aquelas pessoas fazerem entre si. Ele também chegou à conclusão de que aquele era o líquido que o faria dormir.

Ele levou um momento para pular através de uma pequena plataforma barulhenta. Ele não sabia para o que serviam a metade daqueles canos e caixas metálicas com o dobro de seu tamanho. Fios e mais fios se estendiam paralelamente muito acima dele e aquilo não parecia ser um problema, desde que se mantivesse longe. Era quente, sua pele parecia queimar. O ar pesado era difícil de ser respirado, mas ele havia se acostumado com tal coisa a muito tempo.

Aqui e ali, vez ou outra, ele precisava parar em seu caminho quando algumas caixas pareciam ganhar vida, barulhentas e estremecedoras, se tornando mais quentes. Ele as aguardava terminar o que quer que estivessem fazendo antes de continuar. Eventualmente, ele se esgueirou pelo interior laminoso parcialmente empoeirado, se mantendo sobre as mãos e joelhos conforme deslizava para dentro e em frente.

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