Dói quando você toca

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A família Jiang estava reunida para jantar, os discípulos mais antigos, e os mais inteligentes, já se afastaram, prevendo as gritarias que começariam em breve (eles apenas rezavam para as crianças não serem tão afetadas).
O clima mudou rapidamente (sempre acontecia quando eles estavam reunidos) a tensão era densa, todos sabiam no que isso ia acabar.
A matriarca se virou para seu favorito (o que ela podia moldar).

-Como foi seu dia hoje, Jiang Cheng?

-Foi bom A-Niang, eu aprendi um movimento novo de espada e...

Fengmian não parecia interessado, sem nem olhar nos olhos dos dois falantes ele foi direto falar sobre o filho de seu amigo. Esse era o único assunto que o chamava além dos negócios da seita ultimamente.

-Claro, claro A-Cheng, mas e o Wei Wuxian? Você não o ajudou?

A criança abaixou a cabeça com o tom de reprovação de seu pai (~sempre assim, aceite nada que você fizer nunca vai ser o suficiente para seu A-Die. Wei Wuxian sempre vai fazer melhor, sempre vai ser melhor não importa o que, por que você ainda tenta?~).
O rosto de Yu Ziyuan se contorceu em uma carranca (o marido dela nem parecia perceber que fizera algo de errado, não notava a maneira que, até a Yanli o olhava com um pouco de desprezo nos olhos, o de vestes vermelhas se contorcia desconfortável, até ele sabia que o que estava conhecendo era errado). Ela estava pronta para começar a gritar, mas hoje era o aniversário de Jiang Cheng.
Não que Fengmian lembrasse, nem um presente, muito menos um feliz aniversário, seu filho ganhou. Hoje, nem mesmo para as migalhas de uma atenção desgastada ele será considerado digno pelo visto. Ela respirou fundo e olhou para seu filho (mais uma decepção, por que nenhum dos dois era digno de nada? Ela deve discipliná-lo melhor? Bater mais forte? Torná-lo mais forte? Pelo menos pela dor que sente, A-Cheng seria notado?).
As crianças notaram o clima tenso que se instalou e comeram mais rápido, dez minutos depois estavam se retirando, ninguém comentou que os adultos ainda estavam na metade da refeição, nem a maneira com Fengmian nem uma vez olhou para seu filho mais novo. Tudo isso eram coisas recorrentes na casa.
Enquanto andavam já perto da porta, Jiang Cheng se encolhe, segura a barriga no que parece ser dor.

-A-Jie, eu não me sinto bem.

-O que foi A-Cheng? Onde dói?

-Minha barriga!

Ele não conseguiu dizer mais nada, desabou no chão gritando de dor, se retorcendo. Os adultos de levantaram correndo. Nenhum dos dois ia admitir o medo que sentiram ao ver sangue empoçando no chão. Apesar de tudo eles ainda eram pais da mesma criança (não importa se na maior parte do tempo eles agem pior que desconhecidos, como abusadores)

-Chame os curandeiros. Minhas aranhas e ninguém mais!

Wanyin estava encolhido, apoiando-se totalmente na irmã e em Wei Wuxian, trazendo-os para o chão quando caiu. Fengmian tentou tocá-lo, Jiang Cheng gritou e o atacou, arranhando-o e depois se encolheu para os braços que o acolhiam, um sinal claro, não se aproxime, eu não confio em você.
Quando Madame Yu tenta se aproximar a reação é ainda mais agressiva, mas dessa vez acompanhada de gritos.

-Não se aproxime! Não se aproxime! Fique longe, você faz doer! Você faz doer! Não é bom, dói quando você toca! Dói quando você toca!

Suas aranhas, que tinham acabado de chegar, juntamente de seu marido os olhavam atônitos, e depois com raiva mal disfarçada. Elas nem se deram o trabalho de tentar interpretar o que era dito. Muito foi explicado, o desempenho dele caindo de vez em quando, não era uma falha, mas sua energia espiritual se concentrando em curar os espancamentos que recebia, não em treinar. A timidez ~o trauma~ dele. A maneira em que o jovem mestre se encolhia quando tocado por alguém que não eram seus irmãos. A situação foi clara, e por mais que elas tivessem jurado lealdade a Yu Ziyuan elas ainda  tinham a moral da seita Yu também, uma moral que sua serpente tinha quebrado, isso não ficaria impune.

Água em minhas veias, veneno em minha almaOnde histórias criam vida. Descubra agora