Capítulo 1

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Acho que você não falou a verdade naquela música que escreveu sobre mim
Porque você disse "para sempre",
Agora, eu dirijo sozinha pela sua rua

Drivers License - Olivia Rodrigo

Três meses depois…

Khalil

Quando criança, eu ajudava minha mãe a mover os móveis de um lado para o outro quase toda semana. Tudo porque ela enjoava da decoração, então como éramos de classe média-baixa e não tínhamos dinheiro para trocar os móveis, mudávamos suas posições nos cômodos. Isso acabava resultando em tinta lascada, pisos riscados e pés pregados às bases. E ajudar Hazel a mudar os móveis de lugar a cada quinze dias me lembrava minha mãe e àquela época em que dinheiro era escasso 

Ontem, a cama de casal estava na parede lateral à da porta com a cabeceira e os criados, uma cortina de tiras de koxixos dividia o quarto, separando a cama e a escrivaninha dos puffs e a estante de livros iluminada por um pisca-pisca de Natal, isolando sua “área da fantasia”. O closet estava impecável, as roupas, sapatos e acessórios em seus devido lugares.

Naquele dia, porém, a cama estava forrada de livros empilhados com a cabeceira e os criados ocupando a vertical, de frente para a porta; a cortina de tiras de koxixos estava pendurada na porta do closet; a estante de livros ao lado da porta para a pequena varanda; e seu closet se encontrava uma completa desordem. Quase senti o cheiro de desinfetante de pinho que mamãe usava para passar pano no chão.

Precisei inspirar com força para abandonar a sensação de nostalgia que a garota me despertava sempre ao agir quase como minha mãe e encarei-a na escada portátil. Tirando o pó da parte mais alta da estante, Hazel se equilibrava nos degraus de ferro com os cabelos castanhos-escuros presos por uma presilha cor de rosa num coque bagunçado.

Ela desceu da escada e passou por mim, com o corpo rente ao meu. Recuei um passo para dá-la espaço e a observei limpar as capas dos livros com um pano antes de levá-los à estante.

Hannah adorava livros. Mas nunca a vi comprar livros físicos e acumulá-los em estantes como Hazel fazia. Ela era quase obcecada por livros e compras onlines, percebi.

Há quase dois meses, ela se mudou para meu apartamento depois de ter morado por um mês no galpão com centenas de pessoas desconhecidas que estavam passando pelo mesmo problema que ela. Na tentativa de deixá-la confortável em minha casa e fazer com que se distraísse dos problemas, eu me ofereci para dar a ela o que quisesse. Então, sem esperar que eu me oferecesse duas vezes, ela disse livros.

Por um momento, pensei que ela não achava que eu estava falando sério, porque quando a entreguei meu cartão de crédito, ela se assustou. No entanto, sem hesitar, ela pegou meu notebook e entrou no site da Amazon e fez a festa. Quando concluiu a primeira compra, ela me devolveu o cartão, porém eu deixei com ela e disse que podia estourar o limite.

Ela estourou o limite do meu cartão em menos de quinze minutos apenas comprando livros. E quando me olhou e viu a incredulidade em meu rosto, se explicou:

— Você disse que eu podia estourar o limite, mas não disse em quanto tempo.

Lembro de ter aberto a boca para argumentar.

— Cinco mil dólares em quinze minutos?

Ela deu de ombros.

The Obstetrician _ Livro 3 [EM ANDAMENTO]Onde histórias criam vida. Descubra agora