Vendo de perto, eu pude distinguir alguns traços semelhantes entre Hazel e a criança. Ambas tinham um nariz arredondado, cabelo e olhos castanhos-escuros e covinhas. De resto, não havia nada. E é claro que guardei meu comentário para mim, eu jamais a iludiria daquela forma.
Antes de irmos à maternidade, Hazel fez a coleta de sangue para o exame e preencheu uma papelada. Então ela grudou na lateral da incubadora como se o suporte fosse ceder a qualquer momento e ela quisesse garantir que estaria ali para segurar caso acontecesse. Com a mão enluvada para evitar passar bactéria para a bebê, ela brincava com a mãozinha esperta que estapeava o ar. Ela chorou por longas horas ali, e eu não ousei dizer qualquer coisa. Sabia detalhe por detalhe do que havia acontecido e ainda assim não acreditava pelo que ela tinha sido obrigada a passar com apenas vinte anos de idade.
Ela merecia um pouco de paz e conforto, mesmo que aquela não fosse sua prole. Pelo menos por enquanto.
A deixei sozinha por alguns minutos para que tivesse privacidade e quando retornei, a encontrei amamentando a criança com o auxílio de uma enfermeira. Aquilo não era incomum de se acontecer — uma mulher se oferecer para amamentar bebês órfãos que estavam no berçário, como doadoras voluntárias —, mas me pegou desprevenido ver que Hazel ainda tinha leite para amamentar quando tinham se passado semanas desde o parto, semanas estressantes que poderiam secar seu leite.
E não sei ao certo se o que me paralisou na entrada foi vê-la se conectando com uma criança que podia não ser sua ou se por ser a cena mais linda que eu já admirara em toda a minha vida. Hazel era pequena e franzina, mal tinha estrutura que dizia já ter gerado um bebê. Mas tinha um sorriso tão grande no rosto, que me deu uma sensação de conforto por poder proporcioná-la aquilo.
Diante daquela imagem, eu senti que tudo valeu a pena. Meus anos de estudos, minha profissão, minha dedicação para solucionar aquele mistério. Tudo. Até mesmo o julgamento que teria de enfrentar em alguns dias pelo meu posicionamento nisso tudo. Se eu tivesse sorte, seria convocado dali a algumas semanas. Tempo suficiente para usar meus contatos para agilizar o processo para Hazel.
Não tinha nada que eu não fizesse por ela naquele momento.
— Eu… posso voltar depois — murmurei, esperando não atrapalhar.
Hazel levantou os enormes olhos castanhos para mim e sorriu. Ela sorriu para mim.
— Não se incomode com isso. Pode entrar. — Nem se ela me expulsasse eu sairia, para ser sincero. Eu não queria perder aquela primeira amamentação por nada. E eu nem era parente da criança. — Vicky me disse que eu podia amamentá-la se quisesse. E como tenho muito leite, eu não vi problema.
— Hazel estava me contando que pensou em fazer doação para o Banco de Leite Humano — acrescentou a enfermeira. — E eu a estava instruindo de como o faz.
— É uma bela iniciativa, Hazel.
Ela reprimiu um sorriso, como se tentasse esconder que gostou do elogio. Parecia que sua resistência estava baixa, porque falhou completamente.
— Teve notícias do laboratório?
— O resultado deve sair às 20h. Enviarão para seu email assim que o tiverem.
Ela assentiu.
— Obrigada. Por tudo.
— Não precisa me agradecer. Eu faria tudo de novo se fosse necessário.
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The Obstetrician _ Livro 3 [EM ANDAMENTO]
RomanceO que acontece quando você se apaixona pelo Obstetra mais fofo, romântico e respeitoso de todos os tempos? Após o término conturbado de seu antigo relacionamento, Khalil passou a dedicar seu tempo com o que mais gostava de fazer: ajudar pessoas nece...