Capítulo 9

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— Estou falando sério! — reclamou Hazel.

Dei risada e aconcheguei Ayra em meu peito, onde ela adormeceu há uma ou duas horas.

Eu tinha me oferecido para cuidar dela para Hazel, que precisava ir trabalhar e não tinha encontrado alguém que pudesse ficar com ela. Não estava ocupado — quer dizer, eu precisava estudar, mas podia fazer aquilo depois, quando ela dormisse —, então porque não ajudá-la? Ayra não dava trabalho, era calma e chorava apenas quando estava com fome ou com a fralda suja. Não seria uma tarefa impossível.

E não foi. Ela dormiu depois de três horas desde a saída de Hazel, quando me deitei no sofá para niná-la. Bem, nós dormimos. A coloquei sobre meu peito, e acabei dormindo depois dela, com o balançar de seu pequeno corpo ressonando sobre o meu. Devo confessar que o cheiro de seu shampoo facilitou para aquilo. Talvez eu amasse o cheiro que tinham todos os bebês.

— Eu também. Ela não deu trabalho. — Indiquei os brinquedos no tapete da sala. — Brincamos por três horas e quando ela bocejou, dei a ela a mamadeira que você preparou, a fiz arrotar e então deitei com ela. Acabamos dormindo.

— Você precisava estudar!

— Faço isso depois, não se preocupe. Fazia anos que eu não me divertia tanto.

Ela balançou a cabeça, indignada. Então se aproximou.

— Deixa eu colocá-la no berço — disse ela, estendendo os braços.

— Não, não precisa — impedi-a. — Ela está confortável. Vá descansar um pouco.

Ela ponderou por um longo momento.

— Tem certeza?

— Absoluta.

— Ok. Vou tomar um banho rapidinho e já venho pegá-la.

— Tá, tá. — Abanei a mão. — Vá logo.

Ela desapareceu sem que eu precisasse dizer uma segunda vez.

Nessa última semana que se passou, Hazel e eu nos aproximamos bastante. Posso dizer que somos amigos — temos conversado e trocado experiências e descobri que ela amava livros clichês, mas que negava aquilo e diria que eu estava mentindo se eu ousasse dizer para alguém. Descobri que ela preferia café com leite a capuccino, gostava de pêssego mais do que gostava de laranja, amava adaptações de livros, mas preferia os livros. E isso tem me ajudado a conhecê-la melhor, como por exemplo, saber que ela estava planejando fazer faculdade de educação física, mas que só iria atrás daquilo quando Ayra tivesse idade suficiente para ir a uma escola, pulando a creche.

Hazel não confia no sistema de uma creche, então não há chances de colocar sua princesinha em uma. Pensei em me oferecer para cuidar dela para que pudesse estudar e conseguir um futuro melhor para elas, mas Hazel certamente cortaria meu pescoço se propusesse algo daquele gênero. Já tinha sido uma luta convencê-la a me deixar cuidar dela enquanto trabalhava, e oferecê-la aquilo parecia ainda mais sério do que minha inesperada atitude.

A verdade era que eu não conseguia presenciar um momento de nervosismo de Hazel sem que procurasse uma saída para confortá-la. Parte de mim almejava proporcioná-la o melhor lado da maternidade sem que precisasse expô-la ao pior, mas sabia que aquilo era impossível. Entretanto, saber daquilo não me fazia tentar menos.

Tê-las por perto vinha sendo ótimo — presenciar a desenvoltura de Hazel como mãe era ótimo. Assisti-la levando jeito para aquilo me confortava e me distraía, podia dizer que não me torturava mais como antes a respeito de minha infração ao Código de Ética Médica.

Tudo parecia ter valido a pena, afinal.

Senti o perfume do creme hidratante de Hazel antes que ela entrasse na sala. O cheiro era tão bom, que eu podia reconhecê-lo a centenas de metros de distância, tamanho era minha aprovação pelo aroma — ela tinha me procurado para saber o que achava dele quando comprou, logicamente lhe sugeri que era uma boa ideia comprar mais de um.

The Obstetrician _ Livro 3 [EM ANDAMENTO]Onde histórias criam vida. Descubra agora