Capítulo 3

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Tinha um motivo por eu ser o melhor em minha área em todo o estado do Arizona: costumava não deixar minha vida pessoal atrapalhar meu trabalho. No entanto, isso podia ter sido ontem, antes de eu descobrir que o maldito açougueiro que quase matou Hazel estava na minha turma do segundo ano.

Respirando fundo para conter minha irritação, passei os olhos nas fileiras do auditório. Os acadêmicos assumiram seus lugares enquanto eu aguardava alguns segundos até que a comoção diminuísse, então peguei os papéis impressos sobre minha mesa.

— Bom dia, segundo ano — cumprimentei, exigindo suas atenções.

Um eco preencheu as paredes enormes do auditório.

— Hoje, vamos repassar algumas coisas que vocês viram no primeiro ano — anuncio.

Uma garota na primeira fileira ergueu a mão. Acenei para ela.

— Por quê? Isso não vai atrasar o currículo semestral?

— Sim. De fato atrasará. Mas chegou aos meus ouvidos uma denúncia sobre a violação do Código de Ética Médica.

Olhei ao redor e assisti a maioria dos alunos se moverem inquietos, como se tivessem muito a temer. Passando os olhos por Vincent Ballard apenas por um momento para não desesperá-lo com minha acusação, eu reprimi a vontade de cruzar o auditório para lhe socar no meio da cara. Só não o fiz por não querer descer ao seu nível.

— Capítulo um: Princípios Fundamentais — li em voz alta.

Não costumava ser tão sério em minhas aulas, muito menos severo daquela forma, mas nunca houve uma denúncia que chegasse aos meus ouvidos de um descomprimento de algo tão importante na medicina. Salvar vidas era importante para mim. Eu levava essa porra a sério e se havia alguém em minha turma que não levava, eu expulsaria de minha sala.

— Ashley, leia a primeira cláusula para nós.

A garota destemida sequer hesitou em pegar sua impressão.

— A medicina é uma profissão a serviço da saúde do ser humano e da coletividade e será exercida sem discriminação de nenhuma natureza.

— Beau, a próxima, por favor.

Ele pigarreou.

— O alvo de toda atenção do médico é a saúde do ser humano, em benefício da qual deverá agir com o máximo de zelo e o melhor de sua capacidade profissional.

— Loretta.

— Para exercer a medicina com honra e dignidade, o médico necessita ter boas condições e ser remunerado de forma justa.

— Canyan.

— Ao médico cabe zelar e trabalhar pelo perfeito desempenho ético da medicina, bem como pelo prestígio e bom conceito da profissão.

— Oleander.

— Compete ao médico aprimorar continuamente seus conhecimentos e usar o melhor do progresso científico em benefício do paciente e da sociedade.

Uma vez fui humilhado na frente da turma toda. Ainda que tivessem se passado muitos anos desde o episódio, eu ainda podia sentir o constrangimento em minhas veias quando me lembrava daquilo. Mas a chamada de atenção pública me fez querer ser melhor, querer superar meus erros. Então, embora eu estivesse prestes a humilhar um dos meus alunos, eu tentei me lembrar que uma repreensão pública fazia consigo o que você deixava que ela fizesse. As pessoas tinham de aceitar a crítica e aprender a lidar com ela como uma correção que influenciaria em sua vida e suas decisões de forma positiva.

Na pausa, todos me olharam com expectativa. Eles, assim como eu, sabiam o que vinha a seguir. A qual cláusula eu estava querendo chegar.

— Vincent Ballard.

The Obstetrician _ Livro 3 [EM ANDAMENTO]Onde histórias criam vida. Descubra agora