Capítulo 1

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Estou, mais uma vez, espionando Enzo, o Thor Magrelo, namorar a tal da Valentina. E os dois nem conversam, é só beijo e mais beijo. Ridículo!

Quando eu saí da escola eu estava decidida a a falar com o garoto, porém... A coragem ainda não veio... Por isso, fico escondida no mesmo lugar que usei pra espiar ele na semana passada. Estou atrás de uma árvore que me oferece uma boa vista de Enzinho e uma ótima saída estratégica, caso eu desista de declarar meu amor... De novo. Era pra ser mais fácil agora que tenho Logan, meu namorado de mentira, aqui comigo pra me ajudar. Era pra eu conseguir fazer acontecer... Era pra rolar beijo!

— O que está esperando? — Logan, meu namorado de mentira, fala, depois de dois minutos de silêncio total.

Ele, assim como eu, tenta se esconder da vista de Enzo, embora isso seja um esforço totalmente desnecessário. Eu o ignoro, pois estou tentando acumular coragem.

Do you ever feel... Like a plastic bag! — nervosa, começo a cantarolar só pra mim mesma. — Drifting through the wind... Wanting to start again?

— Como é? — Logan estranha minha cantoria. — Isso é uma música?

— Eu gosto de cantar Katy Perry pra me motivar, algum problema? — falo, me esforçando pra parecer corajosa, mas volto a ficar com medo. — Ai, meu Deus! Eu acho melhor voltar amanhã.

— "Seja homem e chegue junto"! — Logan fala, sério, e isso me assusta.

— Você... — olho pra ele. — Me mandou "ser homem"?

Acho que essa fala do meu "amor perfeito" soou um pouco machista. Pra minha surpresa, ele começa a rir, lindamente.

— Na escola... Toda vez que eu não tinha coragem de dar em cima da garota que eu gostava, a galera dizia isso pra mim: "seja homem e chegue junto!". — o garoto me olha empolgado, mas eu nem expresso reação. — Nunca funcionou comigo, pensei que pudesse funcionar com você. — ele volta a rir.

— O que foi isso? — falo, indiferente.

— Eu queria fazer você rir com uma piada minha, pra tirar seu nervosismo... — ele parece notar o quanto isso foi sem graça pra mim, por isso desanima. — Quer saber, deixa pra lá.

— Pra um documento de Word falante, você tem umas histórias bem estranhas.

— Me desculpe, Laila... — Logan parece rancoroso. — Não é culpa minha se você, no fundo, gosta de caras como eu, mas ainda não assumiu.

— Eu nem vou responder pra Enzo não ouvir a gente.

É uma mentira porque o barulho ensurdecedor, de dezenas de pássaros ao nosso redor, garante que a gente possa conversar sem sermos notados. Volto, então, a contemplar o garoto de longos cabelos loiros e sua... Aff! Namorada falsa.

— O que eu falo pra ele, Logan? — estou ansiosíssima. — Se você me ajudar nisso aqui, eu vou te dar uma "avaliação cinco estrelas", lembra?

— Eu lembro sim! — ele fala, empolgado. — Me deixa te ajudar, então. O ruim é que você parece que não quer tomar a iniciativa.

— Eu quero sim! — eu falo, com metade da empolgação dele. — Mas eu não sei o que dizer. Você sabe alguma cantada que eu possa usar?

Hum... — Logan leva seu dedão à boca, mordendo a unha, enquanto pensa, e... — Tive uma ideia! — ele fica empolgado. — Tem uma cantada que é infalível! Perfeita! Serve pra quase todos os homens do mundo! Pergunta se ele joga videogame!

— Como assim? — realmente não entendo o que ele sugere.

— Melhor. Chega nele sorrindo e fala assim... — o documento de Word falante reproduz um jeito afeminado, gesticulando de uma maneira ridícula. — "E aí? Você joga videogame?".

Minha expressão é de puro desprezo. Jogar videogame? Que coisa mais sem graça!

— Enzo, com certeza, não perde tempo jogando videogame.

— Quase todo mundo joga algum videogame.

— Eu não jogo videogame! — contra-argumento.

— Eu sei que tem Candy Crush instalado no seu celular! — ele me encara, como se eu fosse uma ladra a esconder um roubo. — Não adianta mentir.

— Logan! Eu não vou chegar no garoto mais lindo da escola e perguntar se ele perde tempo jogando videogame! — já começo a cogitar a ideia de pedir reembolso do meu Guempy.

— É sério! Essa cantada funciona em noventa por cento dos garotos. É comprovado! — Logan fala como se realmente acreditasse naquilo, mas não o levo a sério. — Você tem uma ideia melhor?

— Ah... Eu pensei em chegar lá, jogar meu charme pra ele e... — olho pra o chão, insegura. — Fazer ele dar em cima de mim.

Logan começa a rir, como se eu tivesse contado uma piada. Sinto vontade de dar um tapa nele. Eu até daria, mas como ele não pode sentir dor, prefiro poupar energia.

— Não vai dar certo isso. Essa coisa de "fazer ele dar em cima de você". É perca de tempo.

— Como você pode ter certeza, se você é apenas um robô?

— Sou um robô homem, com experiência em viver uma vida de homem humano. Sei o que falo.

— Homem humano falso, né? — reviro os olhos, pois olhar pra Logan por muito tempo me deixa desconcertada. — Por que não vai dar certo?

— Me corrija se eu estiver errado. Vocês se veem todos os dias, certo? — eu concordo, com a cabeça, a pergunta de Logan. — Vocês estudam na mesma sala, certo? — novamente confirmo. — Tu e ele estudam desde o primeiro ano do ensino médio, né? — confirmo de novo, já sem paciência. — Você ficou tentando fazer ele dar em cima de você durante esse tempo todo, não foi? — eu já nem confirmo pra não dar o gostinho a ele. — Não está vendo?! Ele não sabe que pode dar em cima de você. Você precisa fazer ele descobrir isso.

Talvez isso faça sentido... E se ele gosta de mim, mas não sabe que eu gosto dele?

— E como eu faço isso? — falo, curiosa.

— Conta que gosta dele.

— Ah... — me desmotivo com a ideia. — Mas isso não funciona.

— Por que, não?

— Porque se eu digo a um cara que estou a fim dele, ele acaba querendo ficar comigo, mas depois não quer mais. Eu tô buscando algo sério. Por isso tenho que fazer ele me querer primeiro. Depois eu digo que gosto dele, entende?

— E assim milhões de casais perfeitos deixam de existir por falta de diálogo. — Logan fala, rindo alto.

O Amor Perfeito - Guempy (Finalista Wattys 2022)Onde histórias criam vida. Descubra agora