O Amor Perfeito - Guempy (Finalista Wattys 2022)

Capítulo 42

— Muito bem, candidatos! Um minuto de sua atenção, por favor. — Um homem alto, magro e super bonito, trajando um terno todo arrumadinho, fala. — Eu agradeço muito a disposição de vocês em estarem aqui hoje e a vontade que todos aqui tem de fazerem parte dessa empresa espetacular que é a Guempy. — ele se dirige a mim, e aos outros que estão comigo.

Como me meti numa coisa dessas? Olho pra os lados, um tanto nervosa. Não sou nem a mais bonita, nem a mais feia daqui. Também não sou a pessoa mais alta, nem a mais baixa. Não acho que seja a candidata mais inteligente, muito menos a mais burra. Tentar arrumar uma vaga de emprego na Guempy, me pareceu o jeito mais inteligente de eu conhecer o velho Logan na vida real. Não foi fácil, mas foi necessário! Por isso, tentarei, a todo custo, me destacar nessa seleção e provar que sou melhor desta sala!

— Cada um de vocês deve querer muito se tornar um profissional especializado em interpretar novos Guempys. — o homem arrumadinho fala, em tom de voz impotente. — Estou certo? — todos concordam ou acenam com a cabeça, e o homem começa a caminhar de um lado ao outro. — Eu amo meu trabalho. Amo saber que meu trabalho ajuda pessoas tristes a redescobrirem o amor. Fazer com que pessoas solitárias possam se sentir amadas é o que nos motiva a, cada vez mais, melhorar como empresa. Por isso... — ele para, olhando diretamente pra mim. — Na Guempy, escolhemos a dedo cada um dos nossos novos aliados nesse objetivo.

— Será que ele não foi com a minha cara? — falo baixinho, pra meu Guempy ouvir. — E se eu morrer do coração...?

— Relaxa, eu te ajudo a não morrer. — Logan diz, segurando a minha mão.

Ansiosa, aperto a mão dele com força e, sem querer, nossas mãos se transpassam. Às vezes, esqueço... Só ele pode me tocar, enquanto eu apenas posso senti-lo.

— Devo pedir agora que todos vocês desabilitem a comunicação com seus Guempys. — o homem de terno ordena, deixando vários candidatos perplexos. — Porque não será permitida qualquer ajuda provinda de Inteligências Únicas. — ele dá um sorriso malicioso, olhando pra todos nós. — Mas vocês já sabem disso.

— Eu não sabia disso! — falo, nervosa. — Por que você não me falou, Logan?

— Eu não pensei que fossem fazer isso. — ele fala. — Não estava no edital.

De repente, Logan some e eu me assusto. Escuto outras pessoas darem gritinhos assustados. O homem de terno ri, como se isso fosse culpa dele.

— Não se assustem, eu apenas desativei a comunicação dos Guempys de vocês. — ele mostra seu celular, que mais parece um tablet. — Só pra garantir que ninguém venha a trapacear. — ele finaliza, rindo.

— Essa cara de zueiro... — fico teorizando alto. — Será que...

Esse homem de terno é o velho Logan? Será? Qual é mesmo o nome desse homem de terno? Ele disse, mas eu já me esqueci. Será que é ele mesmo? Se for... Ele é muito mais bonito na vida real. Meee! Eu não aguentaria bem uma coisa dessas. Se bem que não estou procurando um cara pra trair meu namorado, né? Busco um amigo pra levar pra vida. Então... Foco! Tenha foco, Laila. Por que ele ser bonito importa, se você não vai namorar com ele?

— Depois dos testes que faremos aqui, apenas dez de vocês... — ele nos encara, tentando assustar a todos. — Ou uns cinco... — eu fico nervosa com o jeito dele falar. — Se tivermos sorte... Talvez dois de vocês avancem pra fase de entrevistas. — o homem começa a rir da nossa tensão. — Eu já cansei de pegar turma de candidatos onde nenhum avança pra fase final. — ele parece gostar de implantar medo nas pessoas, pois, se anima com a reação de pânico dos candidatos. — Tomem isso como motivação!

— Aff... — falo, desmotivada.

— A guria que falou "aff"... — o homem fala alto, e todos olham pra mim no mesmo momento. — Quer ser a primeira a tentar?

O QUÊ?! É comigo isso?

— Quem? — falo, procurando por alguém atrás de mim. — Eu?

— Você mesma. — o homem olha em seu celular, como se pesquisasse sobre mim. — Senhorita... Laila. Pode vir aqui na frente, por gentileza?

— Eu... Prefiro... Ser... Tipo... A última.

— Tu queres mesmo que eu coloque "timidez" em sua avaliação individual? — o homem fala, sorrindo.

Meee... Ele falou "tu"... Será que é ele? Olhando bem, talvez ele tenha um pouco da zueira do Velho Logan. Se for o meu antigo amigo ali... Ele vai levar uns tapas! DETESTO PASSAR VERGONHA!

— Eu vou! — uma concorrente fala, interrompendo meu pensamento. — Quero ser a primeira.

— Eu posso ir...! — um garoto fala, quase no mesmo instante. — Se for o caso, eu aceito ir agora.

— Pera! — falo, irritada, me afastando dos outros. — Eu vou! Não tão vendo que é a minha vez?

Entro no modo "Laila fodona" e desfilo até a frente do salão, onde a seleção está sendo realizada. Pescoço levantado, coluna ereta e cara de quem tirou nota o suficiente no ENEM pra passar em medicina. Percebo que estou indo bem quando os garotos ficam me encarando, e algumas garotas me olham com desdém.

— Podemos começar. — falo, super segura, quando chego do lado do homem de terno.

— Muito bem, Laila! — ele sorri pra mim, e não consigo deixar de compará-lo a Logan. — Vou fazer uma demonstração com você, pra que os demais entendam o processo avaliativo dessa primeira fase. — ele aponta pra um palco que está mais à frente. — Por favor, suba ali e fique preparada pra nossa simulação.

Subo no palco, também no modo "Laila fodona", dando as costas pras outras dezenove pessoas escolhidas praquela seleção. Percebo que conversinhas maldosas são feitas, sobre mim, e isso me abala. Durante um mês, fiz testes on-line, participei de entrevistas e questionários, até conseguir ser uma dessas vinte candidatas à intérprete Guempy. Eu pensei seriamente que o mais difícil já tivesse passado, mas... Agora... Aqui na frente de todos... Me sinto como sendo a candidata mais fraca.

— Pessoal! — o homem de terno levanta a mão, tentando silenciar a turma que fazia comentários sobre mim. — A Laila vai agora me mostrar como ela faria se interpretasse o Guempy de alguém que acabou de comprar a Inteligência Única. — ele termina de falar e toda a turma de candidatos parece ficar mais pálida. — Calma, isso é só uma avaliação de improviso. — algumas pessoas começam a chorar de nervosas... — Precisamos saber como vocês lidam com situações que não planejavam. — o homem ri, como se curtisse aquilo.

— Mas eu... — pergunto nervosa. — Vou ter... Informações sobre o cara que eu terei que conquistar?

— Não. — o homem ri, como se fosse vilão de filme.

Meee! Esse cara fez curso de terrorismo com Osama Bin Laden? Por que ele TOCA O TERROR NA GENTE!

— Posso começar, Laila?

— Não! — falo, tentando criar coragem. — Quero dizer... Vai!

— Pois bem. Vou gerar aqui um Guempy de testes, aleatório, levando em conta a sua orientação sexual, cadastrada no seu user da rede social Guempy... — O homem tecla alguma coisa em seu celular e, de repente, um moço em holograma aparece pra mim. — Todos estão vendo o Afonso? — os candidatos concordam com a cabeça. — Afonso não pode ver nenhum de nós. Ele acabou de comprar seu novo celular da Guempy, e está prestes a clicar no botão "comece a amar". — o homem olha pra mim, com um sorriso estranho, como se me desejasse boa sorte.

O Guempy chamado Afonso, está em pé na minha frente, também em cima do palco, mas parece não poder me ver. Ele é um carinha barbudo, baixinho e bem gordo. Usa umas roupas super estranhas, velhas e desbotadas com estampas de algum desenho animado ou jogo. Fico um pouco estranha perto dele, mas tento não demonstrar isso.