O Amor Perfeito - Guempy (Finalista Wattys 2022)

Capítulo 43

Quando o Guempy, que interpreta um humano, clica no botão "comece a amar", ele me olha nos olhos, surpreso e sorri (ficando mais feio do que já era!). Eu, que sou humana, decido tentar, da melhor maneira que posso interpretar um Guempy. Sorrio pra o robô, de maneira radiante.

— Você... É real? — o holograma pergunta.

— Sim. — respondo, encantadora.

Essa é a minha chance! Se eu conseguir esse emprego na Guempy, é certeza que vou poder conhecer Logan e... Assim minha angústia vai finalmente passar. Eu tenho estado com tanta saudade do meu antigo amigo que isso quase tem me enlouquecido. Por isso, tenho que dar o meu melhor nessa seleção. Esse é meu plano.

— Então você é... Meu "amor perfeito"?

— Sim, Afonso. — falo e, de repente, lembro da primeira fez que falei com Logan. — Eu meio que sou seu "amor perfeito". E você é a minha... — eu quase o chamo o holograma de "amora perfeita", mas percebo meu erro e não o faço. — Minha pessoa... Pra amar... Pra o resto da vida toda...

Aff! Esse começo foi terrível. Ouço algumas risadas dos meus concorrentes. Olho pra todos, e fico mais nervosa ainda. Laila! Foco!

— Calma Laila... — o homem fala, como se quisesse diminuir meu constrangimento. — Por favor, pessoal! Não atrapalhem a guria!

Quando olho pra Afonso novamente, o garoto avançou. Ele já está em cima de mim, com sua boca enorme (e esquisita!) quase chegando no meu rosto. Dou um grito. Tomo um susto tão grande que, de maneira intuitiva, dou um tapa na cara do holograma... E ele voa longe! Literalmente, ele voa longe. Não sei o que acontece, mas o holograma do Afonso é jogado com tanta força, pelo meu tapa, que algum erro na programação acontece. O Guempy de testes fica percorrendo o salão, ziguezagueando em alta velocidade, e não para. Um som irritante e alto surge e eu coloco as mãos no ouvido, mas não consigo fazê-lo parar, nem mesmo abafá-lo. É como se viesse do fundo da minha cabeça, mas aumenta e diminui com a distância que Afonso faz de mim. Os candidatos explodem, em risadas e gritos de medo.

— Calma, pessoal! — o homem de terno não parece nada feliz com a cena. — Eu vou arrumar esse erro, em um instante, mas preciso que mantenham a calma!

O coitado do Afonso voa, pra lá e pra cá, como se fosse uma bexiga de aniversário cheia, que foi furada. Fico em pânico e Logan não pode me ajudar dessa vez. Percebo que as outras pessoas também estão ouvindo esse som, sofrendo tanto quanto eu. Me esforço pra suportar o barulho irritante. É como se os gritos do Guempy virassem um som de microfonia irritante, que só os candidatos podem ouvir. Felizmente, essa agonia passa em menos de um minuto, graças a agilidade do homem de terno.

— Desculpa, aí... — falo, envergonhada.

— Tudo bem, Laila... — o homem fala simpático, com tom de pena. — É normal que algumas pessoas tenham dificuldade em lidar com a hora do beijo. Porém... — ele hesita em falar. — Como está escrito no edital, lidar bem com isso é um quesito fundamental na avaliação.

— Mas por que não dá pra deixar o beijo no piloto automático? — pergunto, e percebo que minha questão ficou confusa. — Não tem como, nessas horas, deixar o Guempy no piloto automático?

— Parece que tem gente aqui que não leu a "política de privacidade" e os "termos de serviço" da Guempy. — o homem fala, agora sorridente, provocando risadas. — Infelizmente... Eu não disponho de tempo pra explicar essas coisas agora, Laila. Temos outros dezenove candidatos pra avaliar. E a sua vez já passou...