Capítulo 10

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Estou numa grande, e movimentada, calçada, em frente à loja oficial do Guempy. Saí de lá agorinha. Aqui é um perigoso cruzamento entre várias ruas. Muitas pessoas passam por este local, pois fica no centro de minha cidade. A moça da microcirurgia me aconselhou a apenas apertar o botão "Comece a amar!" quando eu estivesse num local romântico, mas ansiosa como sou, vou apertar aqui mesmo.

— Não acredito que troquei meu carro novo por uma besteira dessas! Se minhas amigas descobrirem... — falo pra mim mesma, olhando o celular com a logo da marca Guempy. — Tomara que valha a pena!

Desmotivada, e ao mesmo tempo sem hesitar, aperto o botão de inicialização. De repente, um escâner é feito em mim e eu dou um gritinho. Tomo um susto quando vejo uma espécie de disco, da cor azul neon, surgir em cima da minha cabeça e, flutuando, descer por todo meu corpo. Ao mesmo tempo, um outro disco, exatamente igual, surge do chão e sobe até minha cabeça. Uma tela surge, do tamanho de uma tv grande, bem em minha frente. Nela o grande texto "escaneamento 0%" aparece, começando uma contagem que para ao chegar na porcentagem dois.

Fico super envergonhada, achando que outras pessoas estão vendo essas "magias" voando ao meu redor. No mesmo instante, um texto, com uma fonte branca, menorzinha, surge pra me acalmar. Nele está escrito "não se preocupe, apenas você está vendo essa animação de escaneamento.". A partir daí, passo a sentir vergonha da minha reação, nada natural, no meio daquele calçadão movimentado. Uma voz feminina, que lembra a de uma pessoa idosa, lê o texto que eu já tinha lido, em voz alta. Em seguida, o texto some.

Agora é a vez da clássica mensagem "Leia a política de privacidade e aceite os termos de serviço da tecnologia Guempy." aparecer e ser lida pela mesma voz. Na minha frente, duas opções surgem: "li tudo, e aceitos completamente a política de privacidade e os termos de serviço da tecnologia Guempy." e "Não aceito e quero reembolso.". Aparentemente elas são clicáveis.

— Não quero ler, e aceito tudo. — falo ansiosa, clicando na opção correta.

As opções somem, com uma nova mensagem que diz: "Por favor, tire um tempo pra ler a política de privacidade e aceitar os termos de serviço da tecnologia Guempy.".

Aff, que chato. Eu não quero ler. — aperto no botão "Eu garanto que li e aceito tudo.", que surge em seguida.

Eu sei que não se deve assinar nenhum documento sem ler, mas enfim... Ninguém lê os termos de um aplicativo quando instala algo no celular.

Depois disso, o escaneamento finalmente sai do "dois por cento" e volta a contar. Leva menos de um minuto pra chegar em "cem por cento". Os dizeres: "O amor perfeito de Laila foi gerado." aparecem, instantaneamente, depois disso.

— Não tem nem entrevista? Já criaram? — falo em voz alta, impressionada.

O aplicativo responde: "O sistema de Inteligência Única, Guempy, não necessita de entrevistas ao usuário.".

— Que chique... — falo impressionada.

O celular fala, ao mesmo tempo que o seguinte texto aparece: "Gostaria de conhecer seu amor perfeito agora?".

— Por favor. — Falo nervosa, tentando ser educada com um... Robô?

Nada acontece. Nenhum garoto lindo, gostoso e maravilhoso, feito de holograma, nasce perto de mim.

— Laila? — ouço uma voz, muito atraente, me chamar por trás.

— Oi? — respondo envergonhada, me virando e pondo a mão na boca com a surpresa.

Se o que vejo é um holograma, já vi que a vida real está muito sem graça! Em minha frente está um garoto loiro, alto, magro e ligeiramente forte. O cabelo cortado em seu rosto dá a ele um ar de maturidade. É quase como se eu visse um irmão mais velho de Enzo, pois este aqui parece ter mais que dezenove anos, no mínimo uns vinte e dois. Como o Guempy sabe que eu gosto de garotos mais velhos?

— Você é... — fico de boca aberta com aquele espetáculo que, teoricamente, é pra ser "todo meu". — O meu Guempy?

— Sim, Laila. Eu meio que sou seu "amor perfeito". E você é a minha... "amora perfeita". — ele fica vermelho de vergonha, parecendo gente de verdade! — Desculpa. Não deveria ter feito essa piada no nosso primeiro encontro, esquece isso.

Meee... O que foi isso? Esse garoto fofo dando bola pra mim desse jeito? Pera! Calma! Isso é só um robô programado. Ele é um namorado de mentira. Foi programado. São só números digitados em sequência. Um documento de Word falante, nada mais. Mas... Que mentira linda, viu? Parece muito real! Não! Não, Laila... Foco! Você não é uma dessas garotas iludidas, lembra? Temos um objetivo! Enzo!

— Você é sempre assim, tão robótico? — falo séria.

— Eu estou sendo robótico? — o robô parece decepcionado. — Me desculpa, é que... Eu... É que eu... Fiquei nervoso quando olhei pra você.

— Por que um robô ficaria nervoso em executar a função pra qual ele foi programado?

— Eu não sou um robô. — ele sorri, como um robô sem emoções provavelmente faria. — Eu sou seu Guempy.

— E qual o seu nome? Senhor Guempy?

— Meu nome é Logan. É até estranho pra mim dizer isso, mas... É um imenso prazer, te conhecer.

Além de gato, ele tem um nome super sensual! Logan! Isso sim é nome de homem bonito. Bem melhor do que... Enzo. Mas... Isso não está me parecendo real. Eu não sou tão bonita pra um cara desses chegar assim em mim. Ele é muito bonito! Talvez mais bonito que o Thor Magrelo. Olha esse sorriso! Agora entendo como esse povo que compra esses celulares se sentem. É como transformar um sonho em realidade. Mas... E se eu deixar essa ilusão me dominar?

O Amor Perfeito - Guempy (Finalista Wattys 2022)Onde histórias criam vida. Descubra agora