Scorpius começou a decorar certas manias e preferências de Rose; como ela prometera, ele de fato aprendeu a fazer o café do jeito que ela um dia definiu como "elixir da sobrevivência" — forte (mas não tão forte!) e doce (mas não tão doce a ponto de ser enjoativo!). Respeitava os horários dela de assistir novelas — eram sagrados e ele não podia rir, pois, recebia um discurso de como estava sendo preconceituoso com produções que sequer conhecia. Rose, por sua vez, também aprendia cada vez mais sobre o amigo: sua rotina consistia em correr com o cachorro, trabalhar e brincar com o cachorro na volta do trabalho. Ao menos era essa a rotina antes dela chegar, ela imaginava; agora, Scorpius também amava conversar com ela depois do trabalho e prestava atenção quando ela o ensinava o passo-a-passo do café perfeito e sobre feitiços de organização (ele se esforçava muito para não rir a cada vez que ela o encarava, fazia um floreio com a varinha e enfatizava: "Agora literalmente é só deixar a mágica acontecer! ‘Tá vendo, Scorpius? Não é tão difícil!"). Mas, o ponto alto do dia de ambos era a recém-adquirida rotina de assistir a seriados antes de dormir. Nos finais de semana, chegavam a varar a madrugada com Gryffin a tiracolo, cobertas e um balde de pipoca. E, assim, em pouco tempo estavam aprendendo o dia-a-dia um do outro.
— Meu pai está para Lorelai, só que calado, assim como eu estou para Rory, mas falando igual a Lorelai… — ele disse no final de mais um episódio da série que acompanhava.
Rose colocou um ponto final no que digitava em seu computador. Finalmente havia conseguido escrever seu artigo, o mais importante até então, o mais difícil e, ironicamente, o mais curto.
— Esses jantares são tão difíceis assim? — perguntou preocupada. Scorpius insistia em afirmar que os jantares de seus avós eram muito parecidos com os do seriado.
— Bom, tem vezes que me divirto, como o último que contei que estávamos juntos. Foi o melhor carneiro com batatas que comi na vida! Sério! Até a comida estava mais saborosa.
Rose não tinha medo nenhum dos Malfoys, foi por isso que sugeriu:
— Posso ir com você no próximo.
Pensar em Rose indo à casa de seus avós trazia a Scorpius as mais diversas preocupações. Várias possibilidades passavam pela do jovem agora, pois, sabia que o ambiente em que Rose crescera não era nada parecido com o dele. Afinal, já havia passado dias na Toca e lembrava perfeitamente da avó calorosa, do avô educado e o ambiente acolhedor que eles proporcionavam aos netos — nada parecido com a mansão fúnebre que ele a levaria para jantar e muito menos com seus avós frios e rancorosos.
— Não acha cedo?
— Não, afinal um dos motivos de estarmos juntos é para isso, não é? Eu vou amar, juro. — ela sorriu, mas ele ainda não estava convencido. — Meu pai me liga duas vezes por dia, sabe? Ele quer muito que eu vá jantar com eles sábado. Pensei que talvez pudéssemos ir juntos. — sugeriu.
Quando entrou de cabeça nessa ideia e a convenceu de que seria ótimo fingirem um relacionamento, esqueceu de certas partes do que seria esse relacionamento. Seria covardia dizer que tinha medo do pai dela? Quando ela não tinha nenhum medo de encarar seus avós?
— Pode marcar. — lhe entregou um sorriso amarelo tentando manter a calma.
xx
Kat observava a amiga sorrindo olhando para o celular, ela ria enquanto seus dedos digitavam algo muito rápido.
— Em qual capítulo estamos na série da sua vida? — perguntou curiosa.
Rose a encarou tentando entender suas meias-palavras.
— No dos jantares. — disse por fim lembrando de seu compromisso da noite e do sábado.
— Apresentação oficial para a família? Está ficando sério. Quer dizer, ele queria te levar para conhecer a família dele desde o princípio, não é?
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FanfictionUma carreira brilhante porém com uma reputação questionável. Uma reputação invejável, com uma carreira frustrante. Mesmo depois de dez anos, ainda é possível aprender algo com um reencontro escolar? Talvez seja viável mudar toda a sua forma de enxer...