Ciúmes

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Ainda não passavam das 8h naquela manhã de terça-feira, mas Rose já estava com a ansiedade a mil. Lorcan havia a avisado que a revista seria lançada naquele dia e ela não podia evitar a inquietação apesar do amigo a garantir que seria um sucesso de vendas antes mesmo do lançamento. Ele havia gostado tanto que pedira a Rose que o enviasse outros textos — o que a levou a comentar com ele sobre a matéria de relacionamentos que fora veementemente descartada pelo senhor Pfeiffer.
“...Eu gostei do que escreveu, mas você mostrou só um lado da sociedade. Mostre os casais que são felizes juntos, não necessariamente casados e com filhos, como o seu irmão…”
Desta forma, ela estava acrescentando outra visão em seu texto. Sua escrita fluía muito bem e há tempos não se empolgava tanto para escrever.
Scorpius estranhou vê-la na sala tão cedo, com o notebook aberto e tão concentrada que nem notou ele voltando de sua corrida matinal com o Gryffin.
— Bom dia! — a cumprimentou. Rose parou de digitar e seus olhos, antes semicerrados de concentração, voltaram-se para ele.
— Bom dia! Têm ovos mexidos para o café, fiz para você. Também fiz a torrada tostada do jeito que você gosta.
Scorpius amava quando ela simplesmente lhe surpreendia com comida. Rose não era de palavras gentis, mas demonstrava amor quando cozinhava para ele. Bom era isso o que ele supunha. Scorpius havia conversado com Albus no dia anterior durante um almoço e explanara todas as suas angústias e dúvidas em relação à amiga.
— Não sei como agir, nem o que pensar, é como se eu estivesse fazendo algo que não devia, mas, ao mesmo tempo, não consigo soterrar isso dentro de mim! Entende? É como se eu não tivesse a conhecido antes, ou não tivesse entendido ela antes, compreendido o quanto ela é rara! Só agora percebi que perdi muito tempo, que não quero mais perder tempo nenhum, só que não sei o que ela pensa… Não sei como agir.
— É tão simples, a pior parte vocês já passaram juntos, agora é só tornar tudo real.
— Como? — Soou desesperado ao melhor amigo. Sentia-se um pré-adolescente, tentando decifrar a melhor maneira de conseguir um beijo da garota que gostava.
— O que você faz quando quer conquistar uma mulher? — Albus respondeu com outra pergunta.
Não era de grande ajuda. Mas o levou a refletir que talvez ela estivesse fazendo bem mais por ele que o contrário. Voltou seus pensamentos a garota que se mantinha concentrada no computador. Rose observou o horário e levantou apressada.
— Droga! Pedi ao Lorcan para me mandar a revista aqui e não vai dar tempo de chegar antes de eu ir para o trabalho…
— Revista? Lorcan? — ele questionou enquanto tomava seu café.
Rose explicou:
— É uma edição especial d’O Pasquim de um jornalista super renomado dos Estados Unidos, ele fez uma matéria sobre os preconceitos dos nascidos-trouxas e as represálias que sofreram na Segunda Grande Guerra. Estava ansiosa para ver a edição. Mas que pena. Terei que ler quando chegar em casa à tarde…
Ela se levantou da onde estava e depositou um beijo rotineiro em sua bochecha de despedida.
— Até a noite então.
Rose pegou a bolsa e saiu para aparatar. Scorpius ainda não havia se acostumado com esse hábito dela e parecia um bobo com o olhar perdido passando a mão em seu rosto no lugar que ela havia depositado o beijo.
A revista não demorou muito a chegar via correio-coruja. Era bem interessante com suas fotos chamativas e letras garrafais na capa. Além disso, a escrita do tal jornalista dos Estados Unidos era realmente muito boa. Assim que terminou a leitura, lembrou da sugestão de Albus e decidiu enviar a revista a Rose e deixar o almoço pronto para ela.
“Rose, pensei que você gostaria de receber logo já que estava bastante ansiosa esperando a revista hoje de manhã, então resolvi te enviar. Também deixei o almoço no forno caso não queira gastar seu dinheiro hoje. Até a noite. Scorpius”
Rose olhava o bilhete pregado na revista e sorria para a caligrafia arrastada dele.
— O que foi? — Kat perguntou curiosa observando os olhos brilhantes dela.
— O Scorpius me surpreende às vezes, sabe?
— Ah, é? — ela tentou parecer desinteressada, mas estava curiosíssima.
— Ele me respeita, pensa nos outros, é ótimo com crianças, não liga pras minhas manias mais estranhas — como ser apaixonada por novelas em uma língua estrangeira —, pensa na sua família, nos fãs, na nossa afilhada, no cachorro e… Ah! Eu não sei te explicar... — ela falava com um sorriso no rosto. — Eu nunca pensei que ele fosse ser assim tão… Tão… Ah, assim sabe?
— Sei... — Kat mordeu seus lábios reprimindo um sorriso. Sabia que se começasse a dizer novamente que torcia para que se assumissem como um casal de verdade, a amiga negaria dizendo que eram apenas amigos e que não estava interessada nele daquela maneira. Assim, Kat preferiu esperar que Rose continuasse sua confissão disfarçada.
— Eu nunca conheci um homem assim… Na verdade, nem o Scorpius que eu conhecia antes era desse jeito. 
Kat confirmou com a cabeça feliz. Rose sacudiu sua cabeça tentando espantar os pensamentos repentinos e concentrou sua atenção na revista que ele havia enviado a ela.
— Vamos almoçar hoje lá em casa para vermos em segurança? — ela apontou para “O Pasquim” debaixo de sua mesa.
— Sua casa?
— É, por quê? — a ruiva estreitou seus olhos para ela.
— Nada! Eu vou amar almoçar na sua casa! — Kat concordou empolgada.
Xx
Ele teve a manhã livre naquele dia. Apesar de cansado e grande parte da manhã ter sido preenchida pela preparação do almoço, resolveu voltar ao parque com Gryffin para refletir, ficar no apartamento estava lhe fazendo desejar Rose o tempo todo. Em cada canto da casa pensava nela. Se pegou segurando um casaco da amiga que ela havia deixado depositado na cadeira. Cheirou sentindo o perfume adocicado dela, imaginou aquele cheiro em seu pescoço e começou a fantasiar como ele seria ao misturar com a pele alva dela.
Pegou Gryffin e saiu de casa. O almoço estava pronto no forno, só esperando por ela: peixe ao molho com purê de batatas — sabia que ela evitava carne vermelha durante a semana. Não era o melhor cozinheiro, mas talvez ela gostasse de sua “surpresa”.
Ficou brincando com seu cachorro no parque enquanto Rose ainda permeava seus pensamentos, quando uma jovem loira se aproximou.
— Oi, tudo bem? — ela sorriu com seus dentes brilhantes.
Scorpius normalmente tinha privacidade quando estava na Londres trouxa. Mas, por algum motivo, achou que aquela garota era um tanto enxerida demais, parecia uma fã. Sem receber sua resposta ela se agachou e acariciou Gryffin que não a estranhou e fechou os olhos agradecido pelo carinho repentino da estranha.
— Quem é você?
Ele pareceu um pouco ríspido em sua fala, mas não se importou.
— Perdão. — ela se desculpou voltando a ficar em pé. — Sou Amanda Clarke. Tenho uma Golden Retriever também. Ela se chama Kyara. Será que a gente pode conversar?
— Sobre o que exatamente? — ele permanecia na defensiva conversando com ela.
— Faz tempo que o vejo no parque, da outra vez estava com sua namorada e não quis interrompê-los. Eu procuro um cachorro como o seu para a minha cachorra. Ele por acaso é castrado?
Demorou alguns minutos para que Scorpius entendesse o que a jovem queria dizer. Por fim, entendeu que ela era trouxa e procurava um Golden Retriever macho para cruzar com a sua cachorrinha. Ela explicou também que não pretendia vender os filhotes, mas sim doar para voluntários de uma instituição que utilizava cães para fazer visitas a crianças em hospitais e que os Golden Retrievers eram ótimos para fazer esse tipo de atividade já que eram muito carinhosos e afetivos. Scorpius pensou em Gryffin brincando com Sunny — ele certamente era muito carinhoso e paciente com a menina; ficou maravilhado em saber que esse tipo de trabalho existia no mundo dos trouxas. Com certeza o que eles estavam fazendo por aquelas crianças doentes era algo muito bom. A jovem o explicou ainda como o instituto se mantinha financeiramente e, por fim, trocaram telefone.
Xx
— Já parou para pensar que sua vida deu uma volta e tanto em menos de dois meses? Quando imaginou que estaria comendo em uma casa que não fosse de seus pais e uma comida feita pelo seu namorado? — Kat não se continha enquanto as duas almoçavam a comida que Scorpius havia preparado.
Rose já havia mostrado o apartamento para ela, Kat não se segurou quando ela contou que ele havia pagado pela geladeira e pela TV como presente a ela para se sentir mais à vontade. Após saborear a comida, não segurava mais seus pensamentos para si.
— Rose, pare de negar que ele é seu namorado! Aliás, faça algo para ele ser logo de verdade! Pelo amor de Deus! Vocês já passaram pelas piores partes de um relacionamento e nem deram um beijinho! Viva um pouco!
— Está maluca, Kat? — respondeu brava a ela. — Ele é meu amigo. Está cansada de saber disso.
— Eu particularmente amo friends to lovers. Não vejo problema nenhum em ficarem juntos sendo amigos.
Rose sabia que não tinha como fazer a amiga mudar de ideia, então após comerem resolveu mudar de assunto. Pegaram a revista e começaram a folhear. A ruiva passava os dedos por suas palavras tão lindamente diagramadas entre as fotos que se mexiam. Não era um texto bonito de se ler ou ver pelas fotos fortes de nascidos-trouxas sendo julgados em tribunais, jogados em calabouços e torturados ao mesmo tempo que tinham suas varinhas confiscadas.
Mas ela amou ver todo seu esforço se materializar em suas mãos. Foi tão difícil convencer sua mãe a dar depoimento, isso mexera com feridas antigas que nunca haviam cicatrizado, ainda doía, mas ver sua dedicação ser publicada... Não tinha preço. Era recompensador.
Enquanto elas analisavam a revista, Scorpius voltou. Ao abrir a porta e perceber a colega de cabelos negros de Rose, automaticamente mudou sua postura, antes descontraída para outra mais dura.
— Boa tarde. — ele entregou um sorriso forçado. — Como vão? Gostou do almoço, querida?
Rose levou um susto pela última palavra dele, Kat segurou uma risada.
— Scorpius o que está dizendo? — ela perguntou assustada. — É a Kat, lembra? Ela sabe que não estamos juntos de verdade.
— Ah sim! Claro! — ele relaxou seus ombros. — Mas, e aí? — ele chegou perto de Rose, olhou em seus olhos, ansioso. — Gostou do almoço?
A ruiva desviou seu olhar do dele um pouco constrangida, mas respondeu:
— Estava ótimo. Obrigada.
— Ok. — ele se afastou delas devagar, mas tropeçou na mesinha de centro da sala. — Vou deixar vocês a sós, preciso me arrumar, tenho umas fotos para uma campanha publicitária no período da tarde.
Deixou seu celular em cima da mesinha e saiu.
Kat não era boba; analisou as expressões de Scorpius, toda sua gentileza em preparar uma refeição para Rose, seu questionamento constante se ela havia gostado, seu desastre ao tropeçar perto dela. Estava tão óbvio que ele estava interessado nela. Como Rose não havia percebido?
— Está mentindo para mim? — a morena não se aguentou.
— Eu? — Rose colocou a mão em seu peito indignada. — Como assim? Do que você ‘tá falando?
— Que vocês já se beijaram e você não me contou! Nossa, Rose! Não sou capaz de te perdoar se você não tiver me contado! 
— Está delirando! Eu já disse que não aconteceu nada. — ela se defendeu e tratou de mudar de assunto novamente. — O que acha de levarmos a revista para o Jornal e…
O celular de Scorpius começou a apitar. Rose continuou:
— ...Bom, podemos começar um diálogo chamando a atenção dos fofoqueiros de plantão para eles se interessarem em ver a revista e…
O celular voltou a apitar, mas desta vez foram três mensagens seguidas.
— ...E aí eles vão se interessar e podemos dizer que as vendas estão ótimas e que as edições de lançamento já se esgotaram…
Um novo apito. Rose bufou nervosa e pegou o celular de Scorpius para colocar no silencioso. Olhou a tela de bloqueio. Ela, Scorpius e Gryffin no dia do piquenique sentados na grama sorrindo, mas as mensagens tampavam a maior parte da foto e todas pertenciam a uma tal de…
— Amanda? Quem é Amanda?
Kat observou as expressões dela, que mudaram de impaciente para nervosa em questão de segundos. Sua testa estava enrugada e sua boca aberta em choque. Sua mão tremia levemente, Scorpius não tinha senha no celular, ela poderia simplesmente desbloquear o aparelho e ler, mas ele veria que ela lera a mensagem.
O celular apitou novamente. Amanda de novo e desta vez ela havia enviado uma figurinha. Odiava que o aparelho não identificasse a mensagem sem abri-la.
— Você não vai ler a mensagem, vai? — Kat estava receosa, gostava do que assistia, Rose claramente estava se roendo de curiosidade e talvez ciúmes, mas não era justo ler sem a autorização dele.
— Meu celular estava apitando? — Scorpius voltou a sala e Rose soltou o aparelho na mesinha nada delicada.
— Sim, eu já ia te levar.
Ele pegou seu aparelho e saiu novamente do aposento. Rose sentia suas entranhas lhe corroendo por dentro de curiosidade.
— Quem é Amanda, Gryffin? — perguntou ao cachorro desesperada.
Com certeza o melhor amigo canino tinha a resposta, mas ela não sabia interpretar seus sinais.
Passou a tarde toda na redação pensando na tal de Amanda. Não conseguiu nem se concentrar direito no plano que elaborara com a amiga para que todos descobrissem a revista, lessem o que ela havia escrito e consequentemente passasse ao conhecimento de seu chefe. Por sorte, o conteúdo era tão interessante que as amigas não precisaram fazer nada: a revista já estava na mão de todos e tudo o que se ouvia pelos corredores do Profeta era sobre a nova edição especial d’O Pasquim. 
Pensou consigo e definiu que a tal de Amanda devia ser trouxa. É, só podia ser trouxa. Era o mínimo para saber usar um celular tão bem assim.
— Maldita a hora em que a Rose adolescente foi inventar de ensinar ele a usar celular...
Kat observava a amiga de rabo de olho e engolia um riso. Rose se contorcia de ciúmes e já havia procurado em todas as redes sociais pelo nome Amanda, mas pela busca genérica não havia concluído nada — não sabia seu sobrenome e muito menos como ela era fisicamente.
Chegou em casa brava e encontroou Scorpius sentado no sofá a esperando com uma torta de chocolate e refrigerante de cola.
— Hoje é dia daquela novela que a vilã enterra a mocinha viva, como era mesmo o nome? Decidi dar uma chance ao refrigerante de novo e…
Ele falava de seus planos para a noite e, embora estivesse brava com ele, não queria ignorá-lo. Na verdade, ela queria uma chance de olhar o celular e enfim saciar sua curiosidade. Ela precisava disso e tinha esse direito, certo?
Assistiu ao capítulo da novela desfrutando da torta e do refrigerante e tentando manter-se dentro de seu padrão de normalidade. Na primeira oportunidade que se viu sozinha com o celular dele não resistiu. Scorpius se levantou para ir ao banheiro e ela logo alcançou o aparelho e encontrou a conversa titulada de Amanda.
Amanda: Olá, Scorpius! Sou eu, como vai?
Amanda: Vou te enviar uma foto para a gente se conhecer melhor.
(Foto de uma jovem loira, magra, alta, sorridente, ao lado de um cachorro muito parecido com Gryffin).
Amanda: Podemos combinar de nos encontrarmos novamente.
(Uma figurinha de um cachorro fazendo bico e piscando o olho se despedindo).
Depois de alguns minutos ele havia respondido.
Scorpius: Que tal amanhã no lugar do parque onde nos vimos hoje? Estou livre de tarde. Te mando mensagem combinando o horário certinho depois. Beijos.
Rose soltou o celular nessa parte, pois ouviu passos dele voltando.
Ele claramente estava se encontrando com ela, e, tudo bem. Tudo ótimo, na verdade. Ele tinha esse direito. “Ele tinha e têm esse direito”. Foi isso que ela começou a repetir em seu cérebro para não surtar. Mas seus olhos se enchiam de lágrimas e ela tinha certeza que se falasse com ele ia gritar.
Scorpius sentou no sofá ao lado dela, puxou a coberta para si e segurou a mão da garota, como sempre faziam todos os dias durante as maratonas que faziam a noite. Ela amava quando ele fazia isso, mas naquele momento estava com tanta raiva que retirou sua mão da dele drasticamente.
O loiro a encarou preocupado e Rose desviou o olhar, fechou os olhos tentando se manter calma. Não podia simplesmente se levantar do sofá e sair, ele desconfiaria que tinha algo errado. Mas também não queria olhar para ele ou dirigir uma palavra grosseira que sabia não merecer. Pegou a edição d’O Pasquim que estava na mesinha de centro e entregou a ele.
— E, então, você já leu essa edição? Ethan abordou um tema realmente relevante. Diria até que ele soube usar as palavras perfeitamente. É incrível, você não acha?
— Ethan McGawer? — ele questionou pegando a revista em mãos. Começou a folheá-la novamente. Já havia lido a reportagem do tal renomado repórter que Rose vangloriava agora em palavras, mas nunca pensou que fosse escutá-la falar tão bem de um homem que havia vindo do outro lado do mundo e pegado entrevista até com sua mãe para se destacar em uma matéria. Em uma matéria que deveria ser dela. — Ele entrevistou sua mãe? Como ele veio de fora e conseguiu entrevistar sua mãe? — estava curioso como havia conseguido aquilo tão facilmente. Sabia que relembrar as feridas da guerra não era fácil para ninguém.
— Ah sim… — ela confirmou com a cabeça. — Convenci ela a dar essa entrevista. Você sabe, ela como nascida-trouxa tinha muito a dizer.
— Você convenceu a sua mãe a dar entrevista para um jornalista de outro país?
Ele estava indignado. Será que Rose não conseguia enxergar o óbvio? Como é que um cara completamente aleatório (não era nem um de seus parentes!), que não conhecia os sofrimentos dos bruxos da época, podia simplesmente aparecer do nada e se destacar numa reportagem em que ela deveria estar fazendo? E ela ainda o ajudara! Ele achava um absurdo. Estava pegando raiva desse tal de Ethan McGawer só de olhar o nome impresso.
—  E qual é o problema?
— Qual o problema? É que ela é sua mãe! E você é jornalista também! Por que você não escreveu isso? Por que você não está com o nome aqui? Destacado, com todos os méritos voltados para você?
Rose virou seu pescoço e encarou ele pela primeira vez, Scorpius parecia nervoso.
— Porque eu trabalho no Profeta Diário, não no Pasquim. — Ela respondeu. Podia omitir o fato de Ethan McGawer ser seu pseudônimo mais um pouco. Não entregaria a verdade de bandeja a ele, até porque queria entender a reação do amigo.
— E que adianta você trabalhar lá se não tem voz? Eu te conheço desde meus onze anos e eu sei o quanto você merece isso. Por que continua no Profeta?
Era uma boa pergunta afinal. Mas ela não estava pronta para responder ainda.
— É você que devia ter seu nome aqui, é você quem merece os holofotes, não esse cara! — ele bateu sua mão na parte da revista que levava o nome dele. — Não uma pessoa que nem mora aqui, que nem conhece sua mãe. — queria que Rose entendesse que os méritos e elogios que estava despencando nesse repórter deviam ser dela, já que era capaz de escrever quem sabe até melhor que ele sobre o assunto. Por fim, foi sincero com ela. — Você não merece se esconder atrás de arranjos de casamento.
— Está dizendo que tudo o que eu escrevo é inútil? — ela estava chateada com ele. Parecia que ele estava menosprezando sua escrita, não o contrário. Sentia que se ficasse muito tempo perto dele iria começar a chorar. — Quer saber? Eu não mereço ficar aqui ouvindo isso. Não depois de ser apunhalada nas costas por você!
Ela se levantou e começou a caminhar para seu quarto. Achou que ele ficaria orgulhoso quando visse a matéria, deixaria que ele lesse e depois, só depois contaria que havia sido ela quem escrevera.
— O que está dizendo, Rose? Não fique chateada comigo. — ele corria em seu encalço.— Eu não quis dizer que seu trabalho não é útil. Só quero que saiba que eu me importo com você, que quero te ver bem… Quis dizer que você merece aquilo e...
Ela entrou em seu quarto e virou seu rosto para ele que estava banhado de lágrimas, antes de trancar a porta disse:
— Eu confiava tanto em você.
Suas palavras tinham dois significados: primeiro, a garota com o cachorro e agora a falta de reconhecimento dele com seu trabalho.
Rose escorregou suas costas na porta até sentar no chão enquanto ouvia ele a chamar do outro lado da madeira.
— Rose, a gente precisa conversar. Rose… Rose… Por favor… Rose...
Não conseguia mais ouvir sua voz sem que seu coração fosse massacrado. Rose levantou sua varinha no ar e pronunciou um feitiço isolando todo o barulho de fora. Não podia mais ouvi-lo suplicar para que ela abrisse a porta.
No outro dia de manhã ela esperou que ele saísse para então ir trabalhar. Não olhou para a bancada da cozinha, senão teria visto o café com uma rosa ao lado e um bilhete com um pedido de desculpas a esperando.
Chegou no jornal e arrastou Kat para um canto. Precisava enlouquecidamente conversar com ela.
— Ela mandou uma foto ‘pra ele, Kat. Alta, loira, linda, bem o tipo dele e ainda tem a tiracolo um cachorro. Idêntico ao Gryffin.
Apesar de toda briga que travaram por causa de seu pseudônimo na revista, Rose não conseguia esquecer da tal Amanda.
— Ok... Não sei se entendi a parte do cachorro. — Kat comentou tentando raciocinar.
— Como não entendeu? — Rose não conseguia controlar suas emoções. — Tudo se encaixa, Kat. Ela é trouxa, linda e ama cachorros enquanto eu nunca nem tive um cachorro antes do Gryffin! Sabe o que significa isso? Que eles são praticamente alma-gêmeas, eles se completam. Agora eu fico imaginando e vendo que eu fiz toda parte difícil, toda parte dos jantares com a família dele, ajudei a limpar o sobrenome e abri caminho para ela… — sua voz estava fina, e tinha certeza se continuasse a falar ia chorar.
— Rose, está falando como se estivesse tudo acabado…
— E não acabou? — ela respirou fundo e voltou a falar um pouco mais calma. — Muita coisa aconteceu desde que a gente resolveu morar juntos. O Scorpius tem se mostrado um amigo maravilhoso. Ele me apoia e me entende, não ri quando mostro meu lado mais louco, nem se assusta com meu lado triste... É um companheiro, sabe?
Rose suspirou e olhou para o lado. Kat esperou que a amiga prosseguisse. Era assim que Rose funcionava: nunca se confessava ou demonstrava o que sentia,  mas, deixava transparecer tudo o que sentia através de ciúmes.
— Só não me conformo que ele não me contou que estava saindo com alguém! Nós... Nós… Temos um relacionamento… Quer dizer...
Queria dizer que tinham um relacionamento, mas não sabia até onde era real.
— Você está num relacionamento sem estar em um... – Kat se aproximou dela e segurou sua mão. – Rose... Você não está mais pensando nele só como um amigo, não é?
A ruiva abriu a boca indignada e cansada, resolveu dizer o que sentia.
— Eu não tenho esse direito, Kat! Nós temos um acordo... E, se por acaso nós nos apaixonássemos agora ia estragar toda a amizade. – ela ergueu sua mão no ar brava, lembrando de Amanda, do cachorro dela e de tudo o que ela poderia viver com ele. –  E agora tem essa garota que ele está saindo! Imagina! Me apaixonar por ele! Seria como estar desesperada!
Ela começou a negar com a cabeça com os pensamentos longe. Lembrou das noites assistindo séries e novelas com ele, do toque suave do polegar dele acariciando suas mãos entrelaçadas, lembrou dos jantares, do cinema e das compras. Lembrou de Gryffin, que já considerava seu próprio cachorro, e de Sunny e dos três deitados na cama enquanto ela contava uma história para dormir. Lembrou também que agora já sabia perfeitamente como torrar o pão do jeito que ele mais gostava de comer. E então pensou da garota do celular novamente. Pensou nela descobrindo tudo isso com ele, sendo a nova protagonista da vida dele, não ela. 
— Só de pensar nela com ele! Saindo e... – ela colocou a mão no rosto nervosa, esfregou sua face tentando se fazer acordar do pesadelo que parecia viver. – Eu ia enlouquecer se por um acaso me apaixonasse por ele agora! Eu não ia aguentar! Seria estupidez! Imagina! Somos amigos!
Tentava convencer mais a si mesma que a Kat.
— E é como amiga que me sinto traída. Como amiga!
A amiga de cabelos negros confirmou com a cabeça, o ciúme saindo dos poros de Rose ao mesmo tempo que ela negava que estava apaixonada por ele.
— Certo, mas acho que ainda não entendi muito bem a parte do cachorro. Quer dizer, se você quiser pode adotar um, não é?— Kat se limitou a comentar.
— Sim, mas… Ah! É o Gryffin, Kat…  — Rose se lamentou sem vergonha alguma de demonstrar seus sentimentos. — Eu ainda nem tive tempo de terminar o casaco dele que estou tricotando a mão. Como vou viver sem o Gryffin agora?
Perguntou a amiga tristemente enquanto seu chefe passava ao lado, observava as duas. Ambas pararam de falar quando o chefe resolveu se pronunciar.
— Na minha sala, senhorita Weasley. Quero falar com você.
Aquele dia já estava ótimo, ela não precisava de mais motivos para chorar. Torcia para ele ser bonzinho com ela, mas seu sexto sentido a dizia que tudo desabaria em breve. Minutos depois, Kat viu Rose sair da sala de seu chefe bufando de raiva, pegou sua bolsa em cima da mesa e olhou a amiga decidida.
— Almoça comigo, depois precisamos passar em outro lugar.
Durante o almoço, Rose não falou nada sobre a conversa com o chefe. Kat entendia a amiga e sabia que ela só se abriria quando se sentisse pronta.
Foram a um parque.
— O que estamos fazendo aqui? — Kat perguntou sem compreender nada.
— Scorpius vai se encontrar com a Am… A garota do cachorro aqui! — explicou.
Katherine entendeu tudo. Rose estava enlouquecida de ciúmes, ao mesmo tempo que estava cheia de problemas para resolver.
— Não vai contar o que o senhor Pfeiffer disse a você? — se preocupava com ela. Normalmente não era de perguntar sobre as sucessivas represálias que recebia do chefe, no entanto, aquele dia sabia que a amiga precisava desabafar.
— Ele ergueu a revista na minha frente, em direção aos meus olhos, meus olhos, Kat! Disse que no dia que eu escrevesse tão bem quanto esse correspondente internacional, desse homem que, segundo ele: “sabe organizar suas palavras como se fossem melodia numa orquestra”, eu teria uma chance com ele.
— E então você esfregou na cara dele que você tinha escrito aquela reportagem e que tinha entregue nas mãos deles dias atrás? — Kat estava ansiosa pelo desfecho, mas Rose parecia preocupada em andar rápido demais pelo parque enquanto seus olhos passavam por todos os cantos.
— Eu quis, nossa mordi minha língua com tanta força, só para não gritar que eu que tinha escrito aquilo... Mas me segurei.
— Por quê? Era a sua chance!
— Porque eu quero ver ele se afundar ainda mais. Quero ver ele vangloriar esse repórter. Por isso me manti calada, escutei ele ser machista ao ponto de dizer que “Homens sabiam, sim, conduzir assuntos sérios”, e que eu devia ir atrás dele e descobrir como escrever algo decente.
— Como conseguiu ficar calada? Toda vez ele te machuca! Não aguento mais te ver mais assim.
Kat estava preocupada com ela. Rose não merecia ser humilhada por algo que ela mesma havia escrito. Mas a amiga não estava se importando com isso, seus olhos corriam os campos verdes.
— Estou triste sim, mas já esperava, não é? Desde o dia que entrei no Profeta, como se fosse um sonho de garotinha, minha chance caindo no meu colo, idealizei esse momento, em que meu chefe admiraria uma coisa que tivesse escrito. Nunca pensei que fosse escutar ele falar isso porque acreditou que tivesse sido escrito por outra pessoa. É triste e estou triste. Mas vou esperar mais um pouco, quero ver o rosto dele quando estiver bem afundado na lama... E você não vai acreditar no que ele me pediu. — nesse ponto parou de andar apressada e olhou a amiga que parou ao seu lado ansiosa e preocupada com o desfecho. — Ele quer que eu entregue minha matéria dos nascidos-trouxas novamente para ele avaliar e ver se vale a pena publicar.
— Espera! Isso prova o ponto de que ele nunca sequer leu nenhuma de suas matérias. Senão teria percebido que o texto era igual o da revista.
— Exatamente! Nossa, eu quis gritar tanto isso na cara dele, sabe? Mas me segurei e garanti que ia lhe entregar amanhã… Eu quero assistir de camarote ele lendo as mesmas palavras da revista e a verdade surgindo na sua frente e ele se contorcendo na cadeira. Eu mereço isso… Mereço assistir essa cena de camarote!
— Merece sim!
Kat estava feliz de vê-la um pouco animada com a possibilidade de sua vingança com o chefe. Ao mesmo tempo, sabia que a amiga estava ferida. Ia perguntar se poderia ajudá-la de alguma forma na vingança, se poderiam arranjar um jeito de amplificar tudo. Ia sugerir a ela para gravar todo o diálogo clandestinamente em seu celular e depois fazer uma matéria para o Pasquim sobre abuso de autoridade quando Rose gritou exasperada:
— É ela! É a tal de A…— apontou um ponto ao longe do parque.
Katherine virou seu rosto e observou uma jovem loira, brincando com um cachorro grande, estava sozinha.
— Amanda? — Kat observou a amiga que tinha no rosto expressões que mesclavam raiva e tristeza. — Por que não disse o nome dela durante o dia todo?
— Eu não consigo, de tanto ódio que eu tô sentindo. Olha como ela é perfeita! Olha! — Rose gritava.
A amiga observou o ponto que a ruiva apontava. Sim, ela era perfeita, parecia perfeita a Scorpius. Alta, loira, bonita e com um cachorro.
— Não sabia que tinha tanto ciúmes ao ponto de não conseguir falar o nome dela.
— Que ciúmes, Katherine? Que ciúmes!? Estou aborrecida com o Scorpius! Só isso! Eu confiei nele!
— Hum. — Kat confirmou com a cabeça enquanto reprimia um sorriso.
— Nós combinamos que íamos ser amigos, que nos apoiaríamos em nossas carreiras, eu enfrentei os avós dele! Eu esperava que ele me contasse tudo! Eu não ligo que ele esteja saindo com ela. — Rose apontou entre gritos de frustração e ciúmes a jovem. — A questão aqui é que ele mente, que se mostra para mim como uma pessoa que ele não é e é por isso que estou chateada com ele. Só por isso.
— Com certeza.
— É completamente natural que eu me aborreça e me decepcione, e que eu sinta raiva. Muita raiva. — ela fechou os punhos na frente de seu rosto nervosa.
Kat se limitou a sacudir a cabeça e morder sua língua para não dizer o óbvio a ela. Se Rose a arrastara no meio da tarde para um parque só para olhar a tal de Amanda de perto, com certeza não era só decepção que ela sentia.
Rose permaneceu mais alguns minutos observando a garota de longe e esperando que ele aparecesse. Afinal, ele iria aparecer porque havia combinado com ela por mensagem. Kat sabia que ela estava se torturando e precisavam voltar ao trabalho. Com muito custo a convenceu de ir embora e que à noite poderiam sair para conversar sobre o assunto se ela quisesse.
Xx
— Ela está brava comigo, não sei o que fiz… — Scorpius andava de um lado para outro na sala de Albus. Depois do treino exaustivo da manhã e de um almoço rápido, precisou encontrar o  amigo no serviço dele para desabafar. — Quer dizer, eu sei porque ela está brava comigo. Falei mal daquele sujeito metido a besta que escreveu ‘pro Pasquim e ela parecia estar admirada. Imagine, Al, admirada com um cara que roubou, claramente roubou, o lugar dela e quando tentei dizer isso a ela, Rose simplesmente me deixou sozinho, começou a chorar e disse que nunca esperava isso de mim. Que confiava tanto em mim...
Albus ouvia ele falar — falar não, surtar! —, em sua sala como investigador no prédio dos aurores.
— Escuta, Scorpius, vocês são adultos. Precisam sentar e conversar. Tem que colocar tudo em pratos limpos e esclarecer as coisas de uma vez. Pelo que entendi, essa “briga” que vocês tiveram ontem não passou de chumbo trocado: só estavam tentando jogar a verdade um ‘pro outro através de códigos. Eu como auror sei que o melhor caminho é com a verdade. 
— Não estou precisando de seus conselhos como profissional, mas sim como amigo! — ele estava nervoso e seu celular não parava de apitar.
— Não vai atender? — Albus perguntou.
— É só uma garota interessada no Gryffin, insistente e chata, insuportável na verdade.
— Como assim interessada no Gryffin?
Scorpius resumiu a história do parque e da garota. Albus começou a rir.
— Do que está rindo?
— Seus problemas de adulto são hilários, me desculpe.
— Claramente não está entendendo o meu maior problema.
— Que é?
— A Rose! — Scorpius explodiu sem paciência.
Albus olhou para o amigo pela primeira vez na conversa inteira e resolveu ser sincero com ele.
— Vocês estão em um relacionamento sem estar em um.
— Me diga algo que eu não saiba.
— Que você está com ciúmes.
— Eu? Com ciúmes? — Albus não parecia estar ouvindo ele desde o começo, agora Scorpius tinha certeza do fato. — Do que está falando?
— Está tão absorto em seus pensamentos que nem percebeu o que está acontecendo. Rose ficou chateada com você ontem porque não reconheceu o texto dela na revista.
— O que está dizendo, Albus? — Scorpius estava impaciente.
— Lorcan me pediu uns dias atrás algumas imagens para ilustrar essa edição da revista. Eu neguei, porque mexia com alguns assuntos bem difíceis e delicados. Ele sabia que o repórter era alguém que eu não conhecia, então não cederia facilmente, então me disse a verdade. A Rose escreveu a matéria, mas pediu para usar um pseudônimo por causa do emprego dela no Profeta.
— O quê? — o amigo estava chocado com a informação que Albus entregava a ele. — Rose é Ethan McGawer?
— Você criticou a escrita dela, sem saber que era ela. Criticou porque estava com ciúmes desse cara roubando o estrelato dela e o com ciúmes do fato dela elogiar a escrita dele, que, na verdade, era a escrita dela mesma.
Scorpius escondeu seu rosto entre suas mãos entendendo tudo.
— Por isso ela estava chateada comigo.
Entendera tudo afinal, precisava se redimir com ela.
Ele tentou surpreendê-la com um jantar. Comprou várias flores, lembrou-se que ela odiava rosas — odiava a comparação do nome da flor com seu nome —, mas não sabia qual ela preferia. Dessa forma, comprou todas as espécies da loja. Lembrou-se da carta de Ron e do sorvete de menta com chocolate. E esperou. E esperou mais um pouco. Ela estava demorando. Bem mais que o normal, ele observou. Pensou por um momento se ela não teria aparatado para a casa de seus pais naquele dia, talvez estivesse tão nervosa com ele que não queria encara-lo. Estava pensando em passar lá quando ela abriu a porta.
Parecia abatida, seu rosto estava triste. Teve vontade de abraçá-la.
— Você está bem? — era horrível tentar começar um diálogo com ela através de uma pergunta.
Ela o olhou nos olhos, ele parecia preocupado e angustiado. Merecia uma resposta, não seu silêncio.
— Estou com dor de cabeça, meu dia foi comprido e difícil de passar. — Não era uma mentira.
Ela começou a se encaminhar para seu quarto, não parecia ter notado as flores pelos cantos da casa.
— Me desculpe, fui completamente insensível com você ontem… — ele precisava falar.
— Está tudo bem, Scorpius, não é sua culpa. — não queria brigar com ele depois de seu dia horrível.
— É minha culpa, sim... Fiquei jogando coisas nas suas costas que não precisava ouvir. Você é incrível…
Ela parou de andar nesse ponto da fala dele e colocou seus dedos em seus lábios impedindo ele de continuar. Ambos estavam parados no corredor entre os quartos, um de frente para o outro.
— Não diga nada, não diga nada que me faça ficar mais… Agradecida e mais chateada com você ao mesmo tempo. Eu não quero ter raiva de você.
Scorpius parecia cada vez mais confuso, mas segurou gentilmente a mão dela que ainda estava depositada em seus lábios.
— Por que você teria raiva de mim?
Ela respirou fundo. Tentou não chorar e finalmente soltou o nome da garota que tinha evitado de falar o dia todo.
— Amanda. Quem é?
Scorpius observava o rosto de Rose. Ela tentava controlar suas emoções, mas elas estavam completamente visíveis para ele. Raiva, tristeza, desesperança, angústia.
— Como sabe da Amanda?
Rose bufou, não esperava que ele fosse desviar do assunto, mas parecia tão óbvio para ela que ele não queria que ela soubesse de seu namoro, não suportava a ideia de estar morando com ele ao mesmo tempo em que ele saia com aquela mulher.
— Ah! Então, você não vai responder? — ela estava com raiva, somente com raiva no momento.
— É uma garota que eu conheci no parque que costumo ir com Gryffin… — ele sacudiu a cabeça tentando pensar. — Mas como ficou sabendo dela? Eu não estou entendendo…
— Eu que não entendi quando vi as fotos dessa mulher no seu celular! — ela gritava nervosa, seus fios de cabelo se despencando na frente de seu rosto, suas veias da testa à mostra tamanha raiva que sentia ao falar.
— Espera aí, você viu fotos dela no meu celular? — Ele estava confuso. Tentava entender o que estava acontecendo, achou que Rose estaria chateada com ele por causa da confusão com o pseudônimo na revista. Mas agora...
— Sim, é isso mesmo. Eu vi! — Assumiu. — Porque eu achei que como amigos eu merecia saber sobre a sua vida. Mas pelo que entendi eu estava errada porque você está se mostrando uma pessoa totalmente diferente do que eu achava que você era.
— Eu sou exatamente assim, não estou entendendo onde quer chegar. — ele tentou se aproximar mais dela e Rose deu dois passos para trás.
— Sabe o que eu imaginava quando vim morar com você? Que eu teria um amigo! Que eu teria um grande amigo de volta! Alguém que entendesse esse meu jeito. — Rose permanecia chateada, Scorpius entortou o pescoço nessa parte, ele entendia o jeito dela e como entendia. Mais do que entendia, estava apaixonado por esse jeito. — Um jeito difícil de lidar, eu admito, sei que tenho vários defeitos, mas, apesar de tudo, eu tinha esperança que com você seria diferente. Que com você eu conseguiria ter voz no meu trabalho, que eu progrediria. Sabe o que é ser obrigada a levantar todos os dias para ouvir absurdos de um chefe que não te suporta?  O que é ter que se manter calada para receber o salário no final do mês? Sabe o que é se sentir ameaçada no seu local de trabalho, sabe o que é querer ter paz? Eu achava que com você eu teria paz! — ela deu de ombros nesse ponto de seu desabafo. — Mas me enganei.
— Rose… — ele negou com a cabeça tentando mais uma vez se aproximar dela.
— É por isso que estou chateada com você, que não consigo sequer olhar para você… — ela virou as costas tentando mais uma vez chegar ao seu quarto.
— Por favor, me deixe falar… — Scorpius correu e parou a sua frente.
Rose parou de andar, mas virou suas costas para ele não conseguia o encarar.
— ...Você tem um amigo sim! E eu adoro esse seu jeito. Me desculpe, eu não quis criticar sua escrita, eu só queria te ajudar. Eu só pensei em você.
— Se pensa em mim como amiga, por que não é sincero? Por que brinca comigo saindo com outra mulher? — ela voltou a encará-lo.
Tinha tido coragem de dizer suas angústias em voz alta, olharia nos olhos dele quando resolvesse responder.
— Saindo com outra mulher? — ele perguntou a si mesmo tentando raciocinar e juntar as peças do quebra cabeça. — Amanda?
— AH! De novo o nome dessa mulher! Já chega! Não fala mais o nome dela. — ela respondeu chateada tampando seu rosto com as mãos, não suportava ouvir esse nome saindo da boca dele.
— E por que é que não posso falar o nome dela? — perguntou curioso dando um passo à frente.
— Scorpius, eu vou para o meu quarto…
— Você não acabou de dizer que éramos amigos, que esperava sinceridade de mim? Por que não está sendo sincera comigo, Rose? Por que não responde minha pergunta? — ele deu mais dois passos em direção a ela.
— Quer a verdade? É um desrespeito falar de outra mulher na minha frente, pior! Nas minhas costas.
— E por que é um desrespeito?
Ela estava nervosa, tão nervosa que não segurava mais suas emoções, frente a frente com ele, gritou a verdade que ambos sentiam:
— Porque nós somos um casal! Eu sou sua namorada, você é meu namorado!
Era a deixa que ele precisava para unir seus lábios no dela.

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