Talvez uma História de Amor

Capítulo 2

O cheiro de cigarro e bebida invadia o lugar, a música estava alta e mal dava para ouvir o que a pessoa que estava ao seu lado dizia, no palco, Matthew e um grupo de meninos tocavam “Do I wanna know” no “Avery’s”, um bar pequeno no Bronx, o som da guitarra no máximo fazia o coração do moreno disparar e era o sentimento mais forte que já havia sentido, se fosse possível viveria fazendo aquilo. Quando a música acabou e o bar estava fechando, as pessoas passavam pelos garotos com elogios e pedindo músicas para as próximas vezes, aquilo fez Matthew ter a certeza de que era o melhor no que fazia, bom, até a manhã seguinte.

- Ei Matt, o Henry tá te chamando aqui no bar, disse que quer conversar. – disse um dos vocalistas do grupo pela ligação.

- Valeu cara, me dá dez minutos que eu apareço por aí. – O garoto disse com uma voz de sono e preparando-se para levantar da cama.

Henry era o chefe do bar e acabou conhecendo o garoto quando ele tinha apenas 12 anos, estava em um supermercado local quando viu o moreno roubando algumas prateleiras e resolveu conversar com ele, descobriu que o pequeno ladrãozinho pulava de abrigo em abrigo desde muito novo e tinha fugido do último depois de arrumar uma briga com um garoto mais velho. O homem então tomou uma decisão repentina, disse que o garoto trabalharia no bar depois da escola ajudando-o a organizar e limpar, em troca ganharia seu dinheiro mas teria que ficar no abrigo e estudar, desde então, Matthew sempre ficou pelo bar e se interessou por música vendo os ensaios durante o trabalho, aprendeu a tocar guitarra durante seus intervalos e a partir dos seus 16 anos começou a se apresentar.

- E aí Henry, para me chamar às 8 da manhã depois de uma noite cheia é porque tá rolando alguma merda.

- Oi garoto, precisamos ter uma conversa – um homem gordo e ruivo com uma enorme barba começou a falar. - Um grupo de rock chegou na cidade recentemente e querem se apresentar aqui, conversei com o dono do bar em que eles tocavam antes e o cara disse que a renda aumentou muito com os shows, vou deixar tocarem aqui durante esse mês como um teste, então você e os rapazes vão ter que dar um tempo – Disse o chefe com uma voz falhada e secando um copo de vidro. – Já falei com eles e ninguém reclamou, já que vão começar a faculdade esse ano.

- Porra Henry, eu sempre toquei aqui com o grupo, você não pode fazer isso. – Matthew disse revoltado. – Não tenho dinheiro para pagar faculdade igual esses otários, como vou pagar meu aluguel?

- Já tomei minha decisão, além disso, você precisa dar um jeito de fazer uma faculdade também, não posso deixar o mané tocar aqui a vida toda e não saber nada, se quiser voltar depois desse prazo tudo bem mas tenho condições, conheço um professor que trabalha na universidade no centro de Nova York, ele pode dar um jeito de te colocar lá já que tá me devendo uma. – Henry dizia encarando o rosto nervoso do moreno e entregando um cartão com um número rabiscado. – Você só vai poder tocar aqui se estiver estudando de verdade, o aluguel eu te ajudo a pagar enquanto não arruma um emprego, estágio, qualquer coisa.

Puxando o cartão e sem responder mais nada, o guitarrista amador saiu do bar revoltado com a atitude de Henry, se sentindo traído pelo homem que sempre o ajudou, foi pegar o metrô para ir até seu apartamento. Naquele prédio viviam todos os tipos de pessoas, traficantes, viciados, foragidos da polícia e maníacos, era uma bagunça e bem perigoso, mas o aluguel cabia no bolso de Matthew. Quando chegou, o lugar estava diferente de quando saiu, além da bagunça de sempre como sapatos jogados, caixa de pizza e garrafas vazias pela mesa, havia roupas jogadas por todo o chão e risadas misturadas com gemidos vindo do quarto do fundo, na noite anterior o guitarrista estava tão cansado que entrou e foi direto para seu quarto dormir, não reparou em nada, mas tinha uma vaga ideia do motivo da bagunça.

- Kevin, aqui não é motel, dá um fora daqui ou manda ela ir embora, tô com problemas demais pra ouvir você transando. – disse entrando no quarto sem avisar e vendo um casal em uma situação um pouco constrangedora totalmente assustados.

- Caralho Matt, custava ter avisado? – disse um rapaz alto e moreno jogando o lençol em cima da garota ao seu lado com a cara amarrada.

- Eu já avisei, agora dá um fora daqui antes que eu jogue vocês dois da janela. – O garoto soltou indo até a sala.

Depois de alguns segundos, a garota sai do quarto prendendo o cabelo de uma forma desesperada e com o rosto completamente vermelho, em seguida Kevin aparece atrás com uma carranca abrindo a porta e selando os lábios com os da menina para um beijo de despedida. Kevin era alto, moreno e com um cabelo raspado, tinha tatuagens pelo corpo e os olhos cor de mel, o garoto era melhor amigo de Matthew desde o ensino fundamental, quando o guitarrista entrou em uma briga com um menino que tinha o dobro de seu tamanho e Kevin o ajudou, desde então os garotos cresceram juntos e passaram a dividir o aluguel do apartamento.

- Que merda foi essa Matt, levou um pé na bunda e decidiu descontar em mim? Sabia que eu demorei quase duas semanas para conseguir trazer essa gata aqui em casa? – Disse o moreno sem camisa se jogando na poltrona ao lado de Matthew.

- Eu não ligo para suas fodas semanais, o Henry acabou de me dispensar do bar e ainda me disse para arrumar uma faculdade se eu quiser voltar a tocar lá daqui a um mês, me deu até o número de um amigo dele, como é que a gente vai pagar esse apartamento agora, minha renda foi para o ralo.

- Cara, relaxa, existe duas opções, a primeira é que você pode fazer um bico ali na esquina, conheço umas meninas que podem te passar umas dicas e...

- Não fode Kevin.

- Tá vai, a outra opção é você aceitar essa oportunidade de estudar, além do mais isso pode ajudar pra caramba porque eu também vou estudar esse ano, a gente dá um jeito de arrumar um emprego ou sei lá, podemos morar no campus e ir para mesma universidade, depois você volta para o Avery’s e vira o guitarrista da cidade.

– Kevin diz abrindo uma garrafa de suco e entregando para o amigo. – Mas eu ainda prefiro a primeira opção.

- Eu odeio essa merda! – o ex guitarrista revira os olhos. – Tô ferrado demais agora.