Capítulo XI

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CAPÍTULO ONZE

Bella se mexeu, satisfeita por acordar do sono perturbador. Era o barulho do trânsito que e acordava pelas manhãs... ônibus passando nas ruas movimentadas de Paddington nas primeiras horas do dia. Ela não estava mais acostumada com isso. Nem a viver num único cômodo, onde o papel de parede estava descascando nos cantos, o tapete precisava ir para o lixo, e a eletricidade era controlada por um medidor. Ela fora estragada. Estragada pelo luxo. O pensamento a envergonhou.

Adicionando-se a toda vergonha que já sentia. A vergonha do que tinha feito, do que tinha sido, consumindo-a dia após dia, enquanto permanecia na cama no palacete, esperando para ver se a vida frágil crescendo em seu útero chegaria a existir. Bem, o bebê não existia mais, e ela estava livre de Edward, de um homem que lhe oferecera casamento por obrigação. Mas o preço disso lhe trazia uma culpa que jamais a libertaria.

Entretanto, se o bebê tivesse vivido, ela teria de oferecê-lo para outra família... a criança nem mesmo teria sido capaz de receber os cuidados da própria mãe.

Culpa a assolou. Culpa por ter sido cúmplice de Edward, de certa maneira, apesar de ter negado a sórdida realidade da situação. Culpa por ter engravidado e abortado... e culpa, a maior de todas, por ter sido obrigada a admitir que era melhor que aquela criança nunca nascesse.

Mas com a culpa e a vergonha também vieram lembranças que era incapaz de bloquear. Um milhão de memórias... como fantasmas traiçoeiros que queria banir, mas não conseguia! Edward a observando, aqueles olhos brilhantes com cílios longos deixando-a fraca de desejo. Edward a tocando, as mãos se curvando de modo possessivo ao redor de sua cintura enquanto a amava. As mesmas mãos lhe acariciando os cabelos depois do ato de amor. Edward deitado em seus braços, o rosto em repouso, enquanto Bella admirava suas feições perfeitas. Edward... sempre Edward. Imagem após imagem. De dia e de noite, mas especialmente... atormentando-a todas as noites. Perturbando-lhe os sonhos. Sua mente queria esquecer, seus sonhos não permitiam.

Três noites desde que ela voltara para Londres, e cada uma delas trazendo os mesmos sonhos. Sonhos que a envergonhavam, que a faziam se sentir culpada.

"Eu sei o que fiz... sei o que signifiquei para ele! Então, como ainda posso ter sonhos assim... lembranças como essas?", perguntava-se.

E pior de tudo era a percepção de que se seus sonhos parassem, um vazio os substituiria.

Um vazio como um terrível abismo em seu interior. Um vazio que a fazia querer chorar, rebelar-se contra o destino, contra a natureza, contra qualquer coisa que a tivesse feito perder seu bebê. Ouvia repetidamente a voz compassiva do médico: "Minha querida, esse é o modo da natureza... Havia alguma coisa errada... É melhor que tenha acontecido agora."

E o mais doloroso era a sensação de culpa.

Este fora o seu castigo. Ela não merecia o bebê, porque o concebera com o homem errado, e sendo assim, ele fora tirado dela.

Entretanto, sabia que precisava aceitar o que tinha acontecido. Não havia alternativa. Seu bebê se fora. Edward se fora.

O primeiro a faria sofrer para sempre, sabia disso. Mas o último... oh, deveria estar feliz por ter se livrado do último.

De que outra forma deveria se sentir senão feliz? Feliz por ter seus olhos abertos para a verdade.

Mas felicidade não era o sentimento que nutria.

Bella firmou-se. Seus sentimentos não importavam. Devagar, dolorosamente, tinha de seguir com sua vida. A realidade de ter tarefas do dia-a-dia para fazer era algo ao que dava boas-vindas. Aquilo lhe ocupava tempo, energia e a mente. Com cada dia que se passava, o passado ficava mais distante.

Moorings of PassionOnde histórias criam vida. Descubra agora