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POV - CABELLO



Logo cedo acordei e levei o café da manhã da Lauren na cama, nada chique mas sai logo que acordei pra comprar manga porque sabia que ela gostava, peguei outras frutas e legumes também e abasteci a geladeira.

Ela acordou com os olhos azuis e foi até o banheiro. Pouco depois voltou.

- Bom dia! - disse rouco e grave fazendo todos os pelos do meu corpo se arrepiarem.

- Bom dia, eu fiz sei café. - coloquei a bandeja em seu colo.

- Obrigada meu bem.- ela sorriu e me deu um selinho.

- Me diz o que é isso?

- É pão de queijo, eu acho que você vai gostar, trouxe pra você experimentar, se não gostar eu também comprei pão normal, come enquanto está quentinho, no potinho tem requeijão é um queijo cremoso, fica ótimo com pão de queijo.

Ela me olhou e mordeu.

- É bom.- ela passou o requeijão e fechou os olhos como que pra degustar.- Gente isso é muito bom, eu definitivamente amo o Brasil, todas as comidas que comi até agora são ótimas, por sinal até as comidas que comi de outros lugares a daqui é uma releitura melhorada.- ela dizia comendo animada e isso enchia meu peito de carinho. - Você comprou manga!- ela dizia empolgada comendo o potinho com a manga já picada - Definitivamente vamos casar, se continuar me tratando assim.

- Já pode marcar a hora no cartório então Lo. - eu disse observando ela.

- Eu adoro quando você me olha assim quando eu estou descabelada, com a cara amassada e boca suja. 

- Eu adoro ver você assim, feliz, gosto dos seus olhos brilhando mesmo quando eu faço coisas simples, parece um bebê.- eu disse e ela me sorriu fechado com as bochechas cheias me olhando e eu achei a coisa mais fofa do mundo. 

- Está me deixando com vergonha Camz. - Ela disse ganhando a coloração vermelha nas bochechas.

- Desculpa meu amor é que eu estou apaixonada, não consigo te olhar diferente. - eu disse a olhando - a gente precisa conversar.- eu disse séria e a vi empalidecer. 

Ela comeu o último pão de queijo e colocou a cesta na mesa de cabeceira e me chamou com as mãos.

- O que aconteceu? Eu...

- Nada aconteceu Lo, calma! - eu fiz um carinho em seu rosto - Eu só quero saber se existe algo que você queira saber sobre mim, eu sei que não sabe de muita coisas mas eu sei que sou fechada e agora também sei que você se sente intimidade em me perguntar. 

- Bom, na verdade tem algumas eu esperava que você fosse me falar sem eu perguntar.

- Isso não vai acontecer, esse é o meu jeito, eu nunca vou mentir pra você, mas também não sou tão aberta em falar sobre as coisas. 

- Como foi morar na rua?- ela me perguntou como quem pisava em ovos.

- Foi tenso, nem sempre eu consegui abrigo para passar a noite- deu me arrumei na cama e continuei- eu tinha os cabelos raspados quase e usava roupas masculinas e largas, eu estava tão abaixo do peso que eu não menstruava, durante o período de aulas foi fácil, eu conseguia tomar banho todos os dias e tinha a comida que davam pros alunos, eu ia na escola no período noturno e conseguia jantar também. Quando chegava às férias eu fazia qualquer coisa que me desse alguns trocados, ia em igreja e descobri que pedir dinheiro não adiantava então pedia comida, tomava banho em posto de gasolina porque se as pessoas não achasse que eu precisava tanto me dava as coisas. Apesar dos pesares meu pai ia todo ano refazer minha matrícula na escola. Quando eu tinha 16 começou uma coisa de escola, chamava escola da família que a escola abria no final de semana e fornecia varias oficinas de esportes, artes e bom eu comecei a ir principalmente no de defesa pessoal eles davam lanche era bom. Hum... eu usava algumas drogas também, principalmente no inverno, ajudava com o frio e com a fome eu nunca tive coragem de exagerar eu passava o maior tempo possível na escola, a coordenação sabia o que estava acontecendo mas fechava os olhos, na época não era como hoje, ninguém ligava muito ou levava a sério o Estatuto da Criança e do Adolescente, pra não ficar na rua o tempo todo eu fazia todo tipo de atividades e projeto, teatro, robótica, club do livro, música etc... E deixava tudo na escola mesmo, minha mochila eu deixava na sala da limpeza escondida pra não ser roubada. - suspirei o olhei os meus verdes favoritos- eu comecei a limpar o prédio de um cursinho em troca de poder ver as aulas, quando consegui passar no vestibular foi o dia mais feliz da minha vida porque eu sabia que ia sair da rua, eu consegui taxa de isenção no vestibular e usava o computador de uma garota que fazia cursinho, ela me emprestava e as vezes me dava umas roupas e talvez eu não usava porque era curtas demais, mas guardei, essas mesmas peças acabei usando meses depois pra fazer programa, não foram muitos, assim que juntei um dinheiro eu parei, comprei algumas roupas e um tênis e a passagem só de ida pro Rio de Janeiro, quando cheguei finalmente na UFRJ eu fiquei deslocada, não tinhas as coisas e era horrível, e eu não tinha conseguido a bolsa moradia porque eu precisava de muitos documentos que eu não tinha, eu arrumei um emprego em um restaurante de lavar panelas e consegui alugar um quartinho de uma senhora que morava sozinha, ela me deu a máquina de escrever, quando ela faleceu eu fui despejada até que passei na frente de una boate entreguei meu currículo pra trabalhar de garçonete por que era de noite então conseguiria lavar minhas panelas e servir mesas, o rapaz quando me viu me ofereceu a vaga de dançarina, eu não queria, mas o dinheiro era bom e eu não tinha arrumado lugar pra morar pelo que eu ganhava ainda, então aceitei, deixando claro que não iria me prostituir, comecei a ganhar um bom dinheiro, eu guardava boa parte, consegui abrir conta no banco e comecei a ter meus documentos e as portas começaram a abrir, depois eu sai e vivi normal. Não foi fácil, já fui cuspida, chutada, já tentaram me estuprar muitas vezes, me espancaram eu fui invisível durante muito tempo, quando eu passei no com curso da FAB comecei a pagar a escola da Sofi.

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