Chloe, ao acordar naquele dia onze de fevereiro, deixou o apartamento pé por pé; o sol não demonstrava sua cor no céu, precisava tomar algumas decisões com urgência e na dúvida, ligou para a pessoa mais próxima que tinha no momento.
— Não Colombina, não se liga insistentemente para um homem como eu às cinco da manhã!
— Ser meu amigo é o pagamento pela casa.
— Vou desocupar o imóvel.
— Vou deixar a editora, o contrato vence hoje. Não vou renovar...
— O que Morfeu acha da ideia?
— Acabei de decidir, ele está dormido, Pierrot, se eu quisesse a opinião dele, não teria ligado para você!
— Porque ligou para mim, garota do Dilan... O que realmente quer de mim Colombina?
— Quero que encontre um lugar para minha livraria.
— Vai deixar ele, não vai?
— Sabe Pierrot, acredito que, no fundo; ele vai compreender que o sentido da vida consiste nas pequenas coisas!
— Não Chloe, ele não vai mudar só porque julga que o mundo é malvado. Por outro lado, preciso mesmo de uma ocupação.
— Obrigado, sabia que poderia contar com você.Ao final da ligação, seu coração acalmava–se. Era sem sombras de dúvidas a escolha certa.
Entrou na sala de Telma sabendo o que iria ouvir; o pedido de casamento fez do lançamento do livro um cerco sem alternativas. Tanto Telma quanto os outros sócios, odiavam ser pegos de surpresa, o sermão tinha fundamentos e consistência.
Chloe não se importava com nenhum desses fatos, a série transformou "Garotos de rua" em uma fonte de renda consistente, o suficiente para que não precisasse se importar com o sucesso do segundo livro. Ainda mais pela forma desprezível com a qual as pessoas estavam o tratando, era possível que ninguém reconhecesse seu verdadeiro potencial.
Contar para Telma que não renovaria o contato era libertador. Tinha afeto pelo lugar, despedir–se, era sádico; foi difícil reunir um grupo de pessoas com uma temperatura e intelecto aceitável!
Havia incerteza na expressão de todos, pareciam crianças cheias de dúvidas; Chloe tinha consciência de que, eram as únicas pessoas capazes de lhe fazer mudar de ideia; não teve opção a não ser, expirar o mesmo ar frio que inspirava.
Antes de contar a todos sobre sua decisão, notou a calma nos olhos de Dilan; refletiu que, embora fossem profissionais, ele merecia um lugar de privilégio na informação. Tomou o telefone em mãos e enviou uma mensagem explicando de forma direta e essencial, esperava que no mínimo ele considerasse o mesmo.
De todas as reações, San era de quem ela esperava o pior. Até tentou usar de bom humor, contudo, era uma virtude que lhe faltava. A discussão foi calorosa, ficou preocupada quando Dilan se pronunciou alterado, mesmo que San precisasse ser posto em seu lugar.
Juntou cada detalhe; despediu–se dos que eram importantes; agradeceu Daniela pelo perfeito suco de cada manhã, aos seguranças pela descrição, mesmo que apenas ela soubesse o motivo e inalou o aroma de hospício pela última vez.
Entrou em casa e a falta de Dilan a deixou apreensiva, compreendia que sua atitude poderia causar conflitos, mesmo que não julgasse que fosse o suficiente para afastá–lo.
— Ou deu tudo certo, ou tudo errado, de qualquer forma, vai ter que conviver com as consequências, Colombina!
— Dilan não está em casa, nem atende o telefone...
— Está chorando? Quem diria que você realmente o amasse. Já cozinhou para ele?
— Em que isso vai me ajudar?
— Dilan é desses homens, que gosta de chegar em casa e ter a esposa com comida na mesa, esperando devotamente por ele.
— Talvez eu não o ame tanto assim! Sei fazer macarrão com bacon e ovos.
— Carbonara, ótimo! Põe uma lingerie sexy, camisa de botões por cima, céus! Meu doce diabo, tive uma ereção!
— Camisa de botões? É sério?
— Foca no plano; se nada disso funcionar, chora.
— Seus conselhos são terríveis!
— Ele sempre vai fazer o que você quiser se pedir chorando...
— Porque ele é um desses homens, não é verdade? Que tipo de homem você é Pierrot?
— Não sou homem minha odisseia, sou um ser independente do pênis que meu corpo tem... Transo com a alma, não com os músculos e tudo o que me pedir chorando, passará desapercebido, porque estarei inerte em suas lágrimas, embriagado da dor que carrega!
— Diz coisas tão perturbadoras, que deveria escrever, para não perder a loucura.
— Corre Colombina, vai cuidar do seu homem!
— Estou vendo aqui, nas redes sociais, que ele está no píer... Foi onde nos beijamos pela primeira vez...
— Então ele não está brabo Colombina, está só perdido.

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Quem e o Que
RomanceQuando duas pessoas se encontram, geralmente é acaso, mas vez ou outra, percebemos a correria apavorada do universo para que as coisas possam acontecer. Se observar com cautela, poderá sentir quando o mundo tem pressa para que a história desenrole...