Quem e o Que

De volta ao Píer

Ao acordar, naquele dia onze de fevereiro, Dilan viu–se sozinho no apartamento. Sorriu na tentativa vaga de se enganar; queria acreditar que, era reflexo da volta a rotina. Lidar com Chloe é estar na incerteza, não era o tipo de pessoa que compartilhava as decisões, também não era de muitas perguntas, menos ainda de respostas.

Enquanto saia do banho, em seu telefone era um número desconhecido. Fazia uns dias que Dilan recebia ligações solicitando entrevistas para televisão e podcast, quando Telma o contou sobre o contrato, Dilan já havia recebido outras propostas de interesse maior.

Aproveitou que estava sozinho para um monólogo pessoal, tudo o que mais ansiava no momento, era poder rasgar qualquer papel em frente a comissão da editora e mandar Telma para um lugar que ela merecesse.

Passou no café para pegar um suco de laranja, aproveitou para comprar um pão doce, desses que fez Chloe jurar que não iria embora; mantinha a mente com a ideia positiva de que ela estaria o esperando em sua sala.

— Alguém sabe onde ela está?
— Vai ver, esperou você entrar no banho, ligou para um garoto de programa... e o resto da história, já conhece! Mais um livro escandalizado!
— Seria mesmo uma grande ironia, San! Ela deixou um bilhete, disse que me encontraria no trabalho. Nesse, no caso.
— Adoro seu senso de humor Dilan. Chloe está na sala da víbora, faz uns vinte minutos.
— Obrigado Agustine, é um alívio não ser o único que não a vê como um anjo.

Dialogaram sobre as atitudes rudes que Telma acumulava em sua carreira e por algum instante, até se permitiram uma diversão em conjunto, inclusive San, que parecia ter sido por um tempo, o preferido dela.

Todos tinham questões importantes para debater naquela manhã, todos precisavam de respostas e informações, no entanto, Chloe entrou na sala sem dar espaço para que pudessem ter suas importâncias consideradas.

— Se for um pão doce, nunca mais se livra de mim! — exclamou ela aliviada por vê–lo.
— Tudo certo com o livro? Saíram algumas notas e críticas, mas nada grandioso... — comentou San preocupado.
— Foi uma boa obra, agradeço toda a dedicação de vocês, mas a sociedade está preocupada com outras questões. Confiem em mim, ele terá o seu momento.
— Qual o próximo passo então? — questionou Tales confuso.
— Um minuto... — respondeu Chloe enquanto escrevia no telefone.

Dilan observava atento ao comportamento da amada que parecia incomum, seu semblante oscilava entre preocupação e alívio quando recebeu uma mensagem que pedia descrição e profissionalismo, Chloe o avisava de sua demissão em um texto curto, era um sinal de prioridade.

— Não sei bem o próximo passo, mas tenho certeza que ficarão bem. A partir de hoje estou me desligando da editora.
— Enlouqueceu? Tem outra proposta e não nos comunicou? — questionou San indignado.
— Desculpe San, mas tomei a decisão esta manhã! Encerro hoje minhas atividades como escritora, não pretendo prosseguir com a profissão. Telma não mencionou sobre o contrato de vocês, quem ela vai manter ou não, mas a partir de amanhã, não compartilharemos mais a mesma sala, eu sei, vocês estão eufóricos!
— Vai acabar com sua carreira e virar dona de casa?
— Novamente, San, é uma decisão recente, meu noivo e eu nem discutimos a respeito, mas garanto que é o melhor para a minha vida, quem sabe daqui a uns anos eu volte, escrevendo coisas que tenham mais a ver comigo. No momento, não quero fazer parte disso.
— Desculpe Chloe, mas se tornou uma referência de sucesso aos dezoito anos, está abandonando tudo por uma incerteza? — Indagou Agustine inconformada.
— Admiro a sua coragem garota, tem meu apoio!
— Obrigado Tales, aprendi muito com você!
— Seus pais já sabem disso? — insistiu San.
— Qual é cara! Ela já disse que tomou a decisão hoje, quer confundir ou só está sendo um babaca, para não perder o costume? — pronunciou Dilan impaciente.