Quando duas pessoas se encontram, geralmente é acaso, mas vez ou outra, percebemos a correria apavorada do universo para que as coisas possam acontecer.
Se observar com cautela, poderá sentir quando o mundo tem pressa para que a história desenrole...
Aqui Judas não perdeu as botas, mas o diabo perdeu a fé.
Se você mora ou, já morou em uma cidade pequena, conhece todo o encanto e as maldições que ela possui.
Dilan sabia que se fosse capaz de ser tudo o que aquele lugar almejava, seria adorado e reconhecido, assim como seu irmão...
...Mas por ser o que era, não cabia naquelas ruas; casas, paredes e olhares...
Sua maldição começou no dia 25 de abril, quando um circo chegou na cidade; a notícia mexeu com todos. Aquele garoto inquieto saiu da escola em disparada, curioso e apaixonado; passeava por todo labirinto vislumbrado pelas cores que sua retina absorvia de forma como, se nunca mais fosse capaz de apreciá-las.
Era jovem, mas tinha a consciência de que a experiência nos torna cínicos, assim como a intimidade nos torna patéticos.
Em uma daquelas tendas reconheceu seus sonhos. Diante de um espelho, um jovem ensaiava o texto de sua apresentação, trocava de expressões enquanto repetia a frase:
"O que quer de mim colombina"
Num segundo sorria e com um piscar de olhos chorava; segundos depois, exalava compaixão e um suspiro após, gerava medo devido à crueldade que transparecia.
Dilan queria o poder que aquele jovem era capaz de portar.
- O que faz aqui! - disse o garoto com a voz grave, similar ao estrondo de um trovão. - Desculpe! Estava apenas assistindo seu ensaio... -respondeu Dilan atrapalhado. - Calma! Não quis assustar! Estava em meu personagem; virá ao espetáculo amanhã? Se chegar às seis, pode me ver ensaiar! - Área restrita garoto! - disse um homem forte e barbudo interrompendo-os. - Espere! Não sei seu nome! - Dilan! - Sou Pierrot! - É claro que é!
Voou para casa com pés de Ícaro, queria queimar-se no sol. Ficou por horas em seu quarto treinando o que viu no circo e adormeceu em frente ao espelho, perdido entre as expressões e sentimentos que ainda não havia experimentado.
Dentro de si, um emaranhado de ideias despertava. Queria que o dia voasse para estar lá naquela arena novamente, mesmo que em todo o canto da cidade ninguém demonstrasse o mesmo entusiasmo. Para todos que Dilan indagava sobre o circo, faziam-lhe caretas ou davam-lhe de ombros, não foi diferente com sua mãe.
- Nem em sonho Dilan! O circo é um lugar que cristão nunca deveria entrar!
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Não importa como, mas estava lá às seis em ponto; sua pontualidade roubou um riso impressionado do novo amigo.
- Me ajuda a ensaiar! - Quer passar o texto? Não deveria ensaiar com Colombina? - Quantas perguntas! Vai ser a plateia, vou levar só um minuto para me maquiar. - Você mesmo se pinta? Foi sua mãe que ensinou? - Não faz ideia do que temos que fazer, não é mesmo? Quantos anos tem, Dilan? - 15 e você, Pierrot? - Se rir do meu nome novamente, terei que mostrar minha identidade. Tenho 14, conquanto, não importa a quantidade de tempo que vive, mas a bagagem que carrega. - Pensa que posso ser um ator? - Só tem uma pessoa que pode te dar essa resposta. Essa pessoa se chama público.