Capítulo 3

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O sol sairia em breve. Os pássaros cantavam e os galos das fazendas próximas anunciavam a chegada de outra manhã. Vento frio circulava pelo local, estremecendo qualquer um que o sentisse. As coisas de Nobuo se encontravam nas mãos de suas servas que aguardavam a despedida para entregar ao novo guerreiro.

— Cuide do papai e da Umeko, está bem? — Falou para Hiko, que assentiu com os olhos marejados. — Assim que eu voltar, vamos ver o quanto ficou forte.

— Pode deixar. Vou ficar tão forte que darei trabalho à você. — Sorriu apesar da tristeza da partida.

O rapaz sorriu levando sua mão a cabeça dele, afagando seus cabelos. Olhou para dentro onde seu pai observava da varanda com um semblante frio; Hoshino não gostava de despedidas. Nobuo continuou a caminhar e parou quando o corpo de sua irmã se chocou contra o seu em um abraço apertado de dor. Ele retribuiu da mesma forma, contendo suas lágrimas ao sentir as dela atravessando o tecido de seu quimono, molhando sua pele. Umeko soluçou entre o choro, queria implorar para que não fosse, mas sabia que não daria certo.

— Tome cuidado e fique vivo. — Foi só que conseguiu pedir.

— Ficarei. Eu prometi. — Pronunciou com pesar na voz, apertando mais o pequeno corpo contra o seu para aproveitar o momento. Não sabia quando a veria novamente, queria ter uma última boa memória. — Amo você.

— Não diga isso. Parece que vai morrer. — Implorou com um pesar diferente na voz.

— Perdão. — Disse apenas, se separando dela contra a vontade de ambos.

Hiko se colocou ao lado de sua irmã quando Nobuo se direcionou as empregadas para pegar suas coisas. Umeko passou o braço pelos ombros do irmão mais novo em um abraço lateral que foi retribuído pelo menor que abraçou sua cintura. O irmão mais velho terminou de verificar seus pertences e colocou-os nos ombros e depois cobriu-se com uma capa verde escura.

Ele se virou de costas e olhou para onde seguiria. Onde partiria para seu rumo sem saber o que o aguardava lá. Respirou fundo, contendo o medo e o frio na barriga que tomou ele, afastou os sentimentos negativos e começou sua caminhada. Sabia que não poderia olhar para trás. Não poderia olhar para aqueles olhos tristes e preocupados, senão ficaria. Ele sabia disso.

Os mais novos apertaram o abraço, como se estivessem contendo a vontade de correr e abraçá-lo para impedi-lo de ir. Queriam muito isso, mas não podiam. Os três sabiam de seus deveres e o que não poderiam fazer. E caso quebrassem isso, também sabiam das consequências para cada. Não se moveram até perder o irmão mais velho de vista. Umeko foi a primeira a se dirigir para dentro.

— Ei. — Seu pai agarrou seu braço quando passou perto. Agora expressava mais seriedade para a garota. — Vamos conversar depois.

A menina ficou quieta e assentiu, sabia do que a conversa se tratava; pediu licença saindo às pressas para seu quarto, ainda tentando conter a tristeza da partida do irmão. Hiko permaneceu no mesmo lugar, olhando para longe como se pudesse ver seu irmão ainda. Sentiu uma mão pousar em seu ombro mas não se moveu, sabendo quem era.

— Seus treinos vão evoluir a partir de hoje. — Disse o senhor Hoshino. — Vai se esforçar para chegar ao nível do seu irmão ou mais.

— Sim, senhor. — Respondeu com vazio na voz. Internamente, ele tentava se preparar para o que viria.

...

Umeko não poderia ficar se lamentando tanto como se seu irmão tivesse falecido. Preferiu manter bons pensamentos, como pensava que ele gostaria. Se arrumou com a ajuda de suas servas, colocando um quimono azul claro e prendendo a parte de cima de seus cabelos em um coque, deixando a outra solta. Temia as palavras de seu pai enquanto seguia para a sala dele em passos silenciosos no piso de madeira.

Desejo Velado - Ryomen SukunaOnde histórias criam vida. Descubra agora