2- Aborto

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Taehyung não apareceu no escritório nos próximos dois dias. E isso me deixou ainda mais aflita, mas pelo menos, as coisas que haviam para fazer naquela semana, eram todas simples que eu mesma poderia fazer.

Durante esses dois dias, fiquei pensando muito sobre o bebê, e eu já estava conhecendo o meu sentimento de mãe, mesmo que fosse recente ainda. Durante algumas conversas com Yuna, minha amiga, ela disse que tinha a possibilidade de Kim sugerir um aborto, e isso com toda certeza está fora de questão. Não estavam nos meus planos ter um filho agora, mas aconteceu, talvez fosse isso que eu precisava, uma luz em minha vida, e essa luz é o meu bebê. Eu não conseguiria tirar o bebê nem se eu quisesse, eu não teria coragem.

Na sexta-feira quando eu menos estava esperando, meu chefe apareceu. Ele agiu naturalmente, como se nada tivesse acontecido, como se não tivesse sumido por dois dias, sem dar notícias.

Ele apenas me desejou bom dia, e entrou na sua sala, como de costume. Me peguei algumas vezes o olhando, pela porta de vidro. Ele parecia não conseguir se concentrar em seus afazeres, a cada dois minutos ele estava girando a cadeira, batucando a caneta na mesa, ou encarando as grandes janelas da sua sala.

Perto do almoço o telefone da minha mesa tocou, peguei o aparelho e o levei a orelha. Evitei olhar para porta, pois sabia que a ligação se tratava de Kim.

~

- Sim, senhor Kim?

- Oi Lucy. Reserve uma mesa no restaurante de sempre, por favor.

- Ok, quantas pessoas?

- Duas, apenas eu e você.

- Ah, tudo bem.

- Iremos sair em quarenta minutos.

~

Assenti e desliguei a ligação, logo ligando para o restaurante, para fazer a reserva.
Senti minhas mãos suarem frio em pensar em qual seria o motivo para esse almoço.

Me distrai preenchendo algumas planilhas e nem notei quando Taehyung parou a frente da minha mesa.

- Senhorita Choi!?- ele me chamou e eu o olhei.

- Oh, já está na hora?- perguntei e ele assentiu.- Me perdi no tempo, desculpe.

- Tudo bem, já podemos ir?- ele perguntou e eu assenti, pegando a minha bolsa.

Quando saímos do prédio, o motorista já estava a nossa espera. Fomos o caminho inteiro em completo silêncio.
Em menos de dez minutos, nós chegamos no restaurante.

Um dos garçons nos acompanhou até a nossa mesa, que era na área externa do lugar, que naquele momento não havia nenhuma mesa ocupada.

Fizemos nossos pedidos e voltamos a ficar em silêncio. Fiquei distraída cuidando o lugar bonito que era ali fora.

- Você quer?- perguntou se referindo a champanhe que ele estava servindo.

- Huh, não.- sorrio fraco.- Não posso.

- Ah, é claro que não.- ele sorriu sem graça.- Esqueci que você não pode beber agora.

Ele serve a sua taça e bebe um pouco do líquido.
O homem a minha frente suspira e me encara.

- Me desculpe por ter sumido esses últimos dias.- ele começa a falar.- Eu precisava ficar um pouco sozinho, para absorver isso. Foi tão inesperado.

- É, eu sei.- suspirei.

- Imagino que você deva ter ficado ainda mais nervosa, com a minha ausência.- ele disse e eu apenas balancei a cabeça, afirmando.- Mas agora estou de volta, e te pedi para vir aqui para conversarmos sobre o bebê.

- Tudo bem.- disse nervosa, apertando meus dedos.

- Eu pensei em algumas coisas.- ele apoia os cotovelos na mesa, colocando as mãos embaixo do queixo.- Se você quiser e aceitar...

A minha mente vai diretamente para o assunto aborto. Meus olhos lacrimejaram e eu o interrompi.

- Eu não vou abortar.- disse firme.- Eu vou ficar com o bebê, com ou sem você na vida dele. Não posso fazer...

- Ei, ei, ei, calma.- ele me interrompe, arregalando os olhos.- Não é nada disso, eu jamais te pediria isso.

Ele diz e eu solto o ar que havia prendido, pegando minha taça e bebendo um pouco de suco.

- Eu quero esse bebê, quero participar da vida dele.- eu o olho e ele sorri fechado.- Quero participar desde o início.

- Me desculpe, e-eu pensei...- gaguejo.

- Está tudo bem, Lucy.- ele diz calmamente.- Eu deveria de esperar essa reação sua, já que eu sumi durante esses dias.

Ele encara suas mãos.

- Isso aconteceu por minha falta de responsabilidade.- ele volta a me olhar.- Nós dois erramos em não nos prevenirmos, poderia dizer que agora estamos tendo a consequência, mas eu não poderia dizer isso de um bebêzinho.

- Sim.- sorrio fechado.

- Se você aceitar, eu queria acompanhar a gravidez também.- ele me olha apreensivo.- Eu quero ir nas consultas que você tiver, quero te acompanhar em todas.

Fiquei em silêncio o olhando, enquanto ele falava.

- Não quero ser apenas o pai biologicamente, quero ser um pai de verdade e presente.- ele pressiona os lábios e volta a falar.- Mas apenas se você quiser, se não, eu...- ele para de falar.

- Eu quero sim, porque eu não iria querer?- eu ri fraco.- Você é o pai.

- Eu sou pai.- ele murmura, encarando a mesa.- Eu sempre quis ter um filho, mas nunca imaginei que seria dessa forma.- ele ri.- Nesse momento e com a minha secretária.

- Nem me fale.- bebi mais um pouco do suco.

- Tudo que precisar, eu vou comprar, hum?- ele levanta as sobrancelhas.- Qualquer coisa.

- Certo.- assenti.

Mas acabei não absorvendo o que ele falou, eu jamais conseguiria pedir que ele comprasse algo, mesmo que essas coisas sejam para o bebê que também é dele.

Taehyung sempre foi mais fechado, trabalho como sua secretária a quase dois anos, e apenas nos últimos meses que ele tem se soltado um pouco comigo.
Antes eram apenas conversas sobre o trabalho e coisas do tipo. Mas a um certo tempo atrás, nós começamos a criar uma convivência melhor. Conversávamos sobre outras coisas além do trabalho, dávamos risadas. E essa pouca proximidade resultou em muita bebida em um evento, algumas trocas de beijos que resultaram em sexo. Juntando tudo, resultou na conversa que estamos tendo agora, conversando um pouco sobre nosso filho.

Eu não tenho ideia de como vai ser daqui para a frente. Fico insegura em relação aos meus estudos e os planos que eu tinha, mas apesar de tudo isso, eu estava feliz em estar gerando uma vida.

Senhor KimOnde histórias criam vida. Descubra agora