3- Ultrassom

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Dez dias se passaram, e eu ainda não havia criado coragem para contar a minha mãe que estou grávida. Talvez eu estivesse me precipitando, e ela levasse em uma boa. Ela engravidou de mim com 21, e ela diz que foi cedo, aos olhos dela. E bem, ainda faltavam alguns meses para eu completar 20 anos, e eu já estou grávida.

Mas eu já estou decidida, depois do ultrassom de amanhã, eu irei direto para a casa dela contar. E eu já estava preparando meu psicológico para aguentar sermões.

Levantei da minha mesa e caminhei até a porta, batendo na mesma.

- Entra.- Kim disse ao meu ver na porta. Entrei na sala e fechei a porta.

- Só vim avisar que eu marquei o primeiro ultrassom para amanhã.- ele me olha.- Já estou com seis semanas, preciso ir a uma consulta essa semana sem falta. Não sei se você vai mesmo querer ir junto...

- Huh, eu vou sim.

- Mas só consegui um horário de manhã.- o avisei e ele assentiu.

- Tudo bem.- ele voltou a sua atenção ao computador.- Vou adiantar as coisas que tem na agenda para amanhã, assim não vai ficar nada acumulado, e você pode tirar o resto dia de folga daí.

- Tudo bem, obrigada.- me curvei e saí da sala, voltando ao meu trabalho.

Estar de folga pelo resto do dia de amanhã ia me dar a possibilidade de parar de adiar o inevitável, e finalmente contar a minha família sobre meu bebê.

...

No outro dia, próximo ao horário de sair do trabalho para ir a consulta médica, fui até a porta e o avisei. Ele prontamente se levantou, vestindo seu paletó e saiu da sala. Eu peguei minha bolsa e o acompanhei até a saída do prédio. 

Me surpreendi ao ver ele entrando no carro para dirigir.

- Acho que nesses dois anos trabalhando com você, é a primeira vez que o vejo dirigir, senhor Kim.- digo colocando o cinto.

- Hoje estou com vontade de dirigir.- ele diz sorrindo pequeno, dando partida no carro.- E acho que não precisamos mais de tantas formalidades, hum?- ele me olha rápido.- Vamos ter um bebê, não acho que seja necessário agirmos com tanta formalidade um com o outro.- o mais velho ri fraco.- A não ser que você não goste, é claro.

- Não, está tudo bem.- assenti.- Prometo tentar não ser tão formal.

- E eu sou apenas cinco anos mais velho que você.- o olho.- Não temos tanta diferença de idade assim.

Eu apenas sorri fraco, e voltei a encarar a rua pela janela do carro. Ele falar da sua idade me fez lembrar de como sempre achei surpreendente alguém ser dono de uma empresa tão grande, sendo tão jovem. 

Fomos o resto do caminho em silêncio. Apesar de já ter passado mais de um mês que ficamos, eu ainda sentia certa vergonha de estar tão perto dele. Até semana passada, me parecia que ele não lembrava disso, mas agora que sei que ele se lembra, me sinto ainda mais envergonhada de ter dormido com meu chefe.

Não que eu tivesse me arrependido em algum momento, apenas um certo peso na consciência por ter me relacionado com o homem que é meu chefe. Talvez eu tivesse me arrependido por alguns momentos quando descobri a gravidez, mas foi algo momentâneo.

Entramos no consultório e eu fui para a mesa da recepcionista, depois de breves minutos, me sentei em uma das poltronas da recepção, ao lado de onde Taehyung estava sentado.

- Está nervosa?- ele pergunta confuso ao me ver balançar a perna.

- Não.- nego.- Estou ansiosa.

Ele sorriu fechado, virando para a frente novamente, tentando disfarçar seu sorriso mínimo.

Em poucos minutos meu nome foi chamado, entrei na sala da médica e Taehyung veio logo atrás de mim.

A obstetra faz alguns procedimentos, e alguns minutos depois ouço o coraçãozinho do meu bebê batendo.
No mesmo momento os meus olhos se encheram de lágrimas, com um sorriso estampado no rosto.

Até aquele momento, parecia não ser totalmente real, a ideia de eu estar grávida, e ouvir os batimentos cardíacos do bebê, fez com que a ficha caísse.

No ultrassom, já dava para ver um pouco o meu pequeno. Eu estava tão emocionada que nem consegui ver se Taehyung teve alguma reação.

Ele não deu uma palavra, apenas ficou em uma cadeira sentado ao lado de onde eu estava.

Depois que saímos da sala, ele evitou qualquer contato visual comigo. Falei um pouco com a secretária, marcando o dia da próxima consulta, e fui em direção a porta, onde Kim estava me esperando.

- Não vai mesmo precisar que eu volte a empresa?- pergunto quando saímos do lugar. Notei a ponta de seu nariz vermelha, e estranhei, mas não perguntei nada.

- Não.- ele nega.- Pode ir para casa descansar.

- Ah, ok.- assinto.- Eu vou indo então.

- Eu vou levar você.- ele diz antes que eu começasse a andar.

- Eu vou ir na casa da minha mãe.- mordi o canto da boca.- Ainda não contei a ela sobre o bebê...

- Eu levo você até a casa da sua mãe então, vamos?- assinto e caminhos até o carro.

Dou o endereço da casa da minha mãe a ele. Depois de colocar o cinto, pouso minha mão sobre minha barriga, que ainda estava do mesmo tamanho de sempre. A gestação está apenas no início, mas eu já estou com tanta ansiedade para saber o sexo.
Me perdi nos meus pensamentos, planejando inúmeras coisas que ainda eram cedo demais para fazer. Até meu chefe começar a falar.

- Eu sempre fiquei me perguntando.- ele diz sem tirar os olhos da estrada.- Você nasceu fora daqui? Seu nome não é muito comum.

- Ah não.- neguei.- Nasci aqui mesmo, a minha mãe sempre achou esse nome bonito, então resolveu colocar esse, mesmo não sendo um nome coreano.

- Entendi.- ele assentiu.- Tenho essa dúvida a dois anos.- ele ri fraco.

- Poderia ter perguntado antes.- dou de ombros.- Não é nada demais.

- É, eu só não achava nenhuma brecha para perguntar.

Assim que ele termina de falar, ele estaciona na frente da casa da minha mãe.
Suspirei e tirei o cinto.

- 'Ta, mas agora você está nervosa, né?- ele pergunta me olhando.

- Agora eu estou.- assenti.

- Mas porque?

- Medo da reação da minha mãe.- aperto meus dedos.

- Quer que eu vá com você?- pergunta já tirando o cinto.

- Não não.- nego.- Não precisa, eu tenho que fazer isso sozinha.

- Tudo bem.- ele volta a encostar as costas no banco.

- Mas obrigada.- agradeço.- E obrigada por me trazer até aqui.- digo levando a mão para abrir a porta.

- De nada.- após sua fala, abro a porta e desço.- Ei Lucy.

Ele me chama antes de eu fechar a porta.

- Como é que você vai ir embora?

- De ônibus.- digo colocando minha bolsa no ombro.

- Eu posso esperar, se você quiser...- ele mordeu o lábio, receoso.

- Não precisa, obrigada.- nego.- Acho que vou demorar um pouquinho.

- Ah, tudo bem.- ele assente.- Até amanhã.

- Até.- me despeço.

Caminho até a porta da casa e bato na mesma.

Senhor KimOnde histórias criam vida. Descubra agora