4- Decepção

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Minha mãe abriu a porta, sorrindo.

- Filha? Oi.- ela beija minha bochecha.

- Oi mãe.- sorrio pequeno.

- Entra.- diz me dando espaço para passar pela porta.- Não sabia que viria, eu teria preparado algo.

- Ah não precisa, não se preocupa.- me sentei no sofá.- É uma visita rápida, apenas quero contar uma coisa para você.

- Pode falar.

- Senta.- aponto para o sofá e ela se senta.- Estou adiando isso a alguns dias, aproveitei para vir hoje, que estou de folga e com tempo.

- Eu estou ficando nervosa.- ela ri.- O que você quer me falar?

- Eu vou falar, calma.- respiro fundo e encaro minhas mãos.- Eu estou grávida, mãe. Foi um acidente, e-eu saí com uma pessoa uma noite e não... nos...

- Você está o que?- ela fala e eu a olho.

Ela estava me encarando com o cenho franzido. 

- Você está grávida?- ela fala e ri soprado.- É algum tipo de brincadeira?

Abaixei a cabeça, voltando a encarar minhas mãos.

- Você só tem 19 anos, Lucy.- ela se levanta.

- Eu sei...- murmurei.

- Eu sempre achei que você fosse uma pessoa mais responsável.- coloca as mãos na cintura.- Pensei que por saber o que eu passei com você, você teria mais juízo.

Ela suspira e senta na poltrona a frente do sofá.

- Pensei que você teria um caminho diferente do meu.- senti os meus olhos marejarem.- E sua faculdade? Seu trabalho? Por Deus, Lucy, estou tão decepcionada com você.

- Não é como se eu tivesse planejado engravidar.- resmungo, secando o meu rosto e ela ri.

- Claro que não, mas sempre pensei que você teria mais responsabilidade com isso.- ela fala mais alto e eu a olho.- Eu engravidei com 21, e isso acabou com a minha vida, imagina você que tem 19.

Ao ouvir sua fala, meu coração se apertou, senti mais lágrimas escorrendo pelo meu rosto.

- Eu acabei com a sua vida?- falo baixo, a encarando.

- E quem é o pai dessa criança?- fala ignorando a minha pergunta.- Pelo menos me diga que ele vai assumir.

Eu ri soprado e levantei do sofá, pegando a minha bolsa.

- Quer mesmo saber quem é o pai?- pergunto.- Meu chefe, mãe.- ela coloca as mãos no rosto.- Mas não se preocupe, não vou querer nada de você, ele vai assumir sim. E mesmo que não assumisse, eu iria me virar sozinha.

Caminho até a porta.

- Eu já imaginava que a sua reação seria assim.- digo e ela me olha.- Mas no fundo, havia uma esperança de que fosse ser diferente.- passei as mãos pelo meu rosto, em mais uma tentativa inútil de secar as lágrimas.- Que você iria me apoiar, apesar de tudo, já que você sabe como é difícil e como é o choque de descobrir uma gravidez em um momento tão inesperado.- ela abriu a boca para dizer algo, mas eu continuei falando.- Você gostando ou não, eu estou grávida aos 19 anos. E tudo que eu queria era chegar aqui e receber o seu apoio, porque você é a única pessoa que eu tenho.

- Lucy, eu...- a interrompi.

- Mas está tudo bem.- sorri fraco.- Se esse é o seu pensamento sobre mim e sobre seu neto, não posso fazer nada.- dou de ombros.- Eu espero que você fique feliz por mim.

Abro a porta e saio da casa, me debulhando em lágrimas. Ouvi minha mãe me chamando uma vez, mas ignorei seu chamado, apenas continuei andando em direção ao ponto de ônibus. Até um carro parar ao meu lado e eu ouvir uma voz conhecida.

- Lucy.- olho para o carro e se tratava de Taehyung.- Entra aqui.

Ele abre a porta e eu entro no carro. Seco minhas lágrimas e coloco o cinto.

- Você disse que não eu precisava te esperar.- ele fala.- Mas eu não sei, não conseguir ir embora. E na verdade você não demorou muito para sair.

- É, foi mais rápido do que eu pensei.- falei sem olhar para ele.

Fomos o restante do caminho em silêncio. Eu estava tentando segurar o choro a todo custo, não queria chorar na frente dele.

Ao estacionar na frente da minha casa, ele se virou para mim.

- Você está bem?- perguntou.- O que aconteceu?

- A reação da minha mãe foi exatamente como eu imaginei.- ri fraco.

- O que ela te falou?- eu o olho.- Você está parecendo magoada.

- Disse que está decepcionada comigo.- suspirei.- Que sempre achou que eu seria mais responsável, por saber o que ela passou por ter engravidado cedo.

- Com quantos anos ela engravidou?

- 21. E o namorado dela a abandonou depois que descobriu, ele simplesmente sumiu.- ele levanta as sobrancelhas.- Por isso ela teve que me criar sozinha, segundo ela, eu acabei com a vida dela.

Eu ri de novo, mas senti meus olhos se encherem novamente, e dessa vez eu não tentei segurar as lágrimas.

- Tenho certeza de que foi da boca para fora, Lucy.- ele me olhava com o semblante triste.

- É, talvez.- dou de ombros e desvio o olhar.- Tudo que eu queria era ter chegado lá, e receber o apoio da minha mãe. Agora me sinto mais sozinha do que antes.

- Mas você não está sozinha, você tem a mim.- ele segura a minha mão e eu volto a olhar para ele.- Nós estamos nessa juntos.

Fiquei surpresa ao ouvir ele falar isso, e não disse nada.

- Eu sei que é importante para você ter o apoio da sua mãe. Mas não se abala por isso.- ele aperta minha mão.- Vou estar com você de agora em diante, pelo nosso bebê.- sorri pequeno e assenti.

- Talvez tenha sido por causa dessa história da minha mãe que eu fiquei com tanto medo da sua reação.- digo secando meu rosto com a mão livre.- Medo de passar a mesma coisa que ela.

- Eu jamais faria isso.- ele nega com a cabeça.- Vai dar tudo certo, Lucy. Não fique se preocupando.

- Tudo bem.- assenti.- Obrigada por ter ido comigo na consulta, e por estar aqui agora.

- Não é nada que você tenha que agradecer.- ele sorri pequeno.- Agora vai aproveitar sua folga, hum?

- Obrigada.- desci do carro, mas olhei para dentro novamente.- Até amanhã.

- Até.

Senhor KimOnde histórias criam vida. Descubra agora