— Pelas bruxas do rasgo! — A culpa lhe atingiu em peso, percebendo que as regras exageradas possuíam algum fundamento.
Brilhantina aparentava se divertir ao contemplar a expressão que estampava a face da garota. Era uma mixórdia de medo e fascínio, visto que fora a sua mãe quem produzira o item mágico. Um item mágico falante.
Isca inspecionava a varinha com curiosidade e Brilhantina soltava pequenas partículas de luz para ele buscar no ar.
— Deve haver algum engano. Você está vendida para uma bruxa, não pode simplesmente dizer que é minha. Há regras em nosso mundo! — Flora tentou explicar.
A varinha flutuava e, embora mal desse para ver de onde saía a voz, percebia-se que tinha o contorno dos olhos e de um diminuto nariz na haste negra e contornada em fios que manavam um fluido dourado.
— Não importa quem pagou, o importante é quem me pegou primeiro. Essa foi a regra da minha criação e você, bruxinha, me convocou. Agora estamos conectadas. Para sempre.
A bruxa observou em sua mão a comprovação do que a varinha dissera.
“Pelas barbas dos gigantes!” Praguejou em desconsolo.
Ela estava muito encrencada.
O farfalhar das asas de Isca mais parecia um sinal de alerta que um sermão de morcego. Novamente ele tentava avisar que algo não ia bem.
Flora, alheia, engoliu em seco.
A moça se via caminhando de um lado para o outro sem saber o que fazer. Se voltasse para casa a sua mãe a poria de castigo, e se prosseguisse com a entrega a senhora Aguilares não receberia o produto avariado. Com razão!
Contudo, antes que a bruxa conseguisse resolver o problema, um vendaval lhe atingira e o aroma de um enjoativo doce lhe fizera tremer todo o corpo. Uma névoa marrom camuflava o céu e formava uma nuvem espessa sobre as casas do condomínio.
— As bruxas rivais estão vindo… — constatara enrouquecida e desesperada, embora ainda não as visse tão próximas.
Brilhantina se escondeu atrás da garota e Isca fizera o mesmo. Ambos nem sabiam quem eram as tais bruxas, mas temeram ao sentir a vibração negativa que emanara de Flora.
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Era uma vez, uma bruxa (ANTOLOGIA)
Short StoryQuando crianças ouvimos falar nas velhas bruxas; todas más, feias e solitárias. Como viviam em casas mal arejadas, empoleiradas em vassouras e embrenhadas numa floresta densa, no qual a luz mal chegava a elas. Diziam para termos cuidado, fugirmos de...