Flora não gostava de ser uma bruxa, pelo menos era isso que ela dizia sempre que alguém lhe perguntava à respeito. A linhagem da sua família vinha de bruxas reputadas, mas, se ela pudesse ou conseguisse, deixaria todo esse legado famoso de lado.
A garota era um tanto aborrecida, pois as bruxas possuíam deveres com o mundo que os comuns não precisavam cumprir. Era de uma responsabilidade sem tamanho, cuidar para que o equilíbrio do seu planeta não fosse rompido a cada ato falho de alguém. Principalmente daqueles que menosprezavam o seu povo.
Contudo, ela não era sempre assim: ranzinza ou mal humorada, de cara fechada ou relutante. Tinha dias que a menina irradiava alegria e se alegrava em um lugar repleto de encantos e desafios: o Forte da Pedra.
Nesse dia, Flora se via contente com Isca, o seu morcego, correndo pelos campos da República das bruxas como adorava fazer desde criança. Aproveitando do silêncio e do recente despertar das bruxas anciãs que ainda faziam suas preces no templo da deusa mãe.
Por descuido, os seus pés se afundaram na pegajosa lama do pântano e ela precisou voltar para casa a fim de limpar a sujeira que impregnou em seu vestido, e foi com a sua volta repentina que se iniciaram os problemas.
Talvez fosse o dia em específico, ou fosse uma peça feita pelo destino que corria através do ar feito uma nuvem cheia; nenhum de nós poderia saber claramente. Contudo, o tempo diria, se pudesse dizer, que aquele dia seria decisivo para o futuro da bruxinha.
Enquanto isso, sem o despejo dos raios de sol, os vagalumes se amontoavam em bolos; formando pequenas lanternas por toda a estrada e refletiam nos vitrais da pequena cabana da bruxinha. Eram praticamente os pisca-piscas naturais.
— Flora, venha aqui, querida! — chamou, Olga, sua mãe.
Ainda era cedo, mal o dia havia raiado, mas Olga passara a noite findando um trabalho e, embora exausta, ficara radiante ao encarar o produto em perfeito estado.
A menina atendeu o chamado depressa, sabendo que há dias sua mãe lhe preparava para uma entrega misteriosa do outro lado da ilha, onde os humanos viviam bem com certas bruxas. Nem mesmo a deixara dormir por muito tempo na véspera, já que a entrega deveria ser feita o mais rápido possível após a conclusão da mercadoria.
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Era uma vez, uma bruxa (ANTOLOGIA)
Storie breviQuando crianças ouvimos falar nas velhas bruxas; todas más, feias e solitárias. Como viviam em casas mal arejadas, empoleiradas em vassouras e embrenhadas numa floresta densa, no qual a luz mal chegava a elas. Diziam para termos cuidado, fugirmos de...