Os dias foram passando e os gatos continuaram de prontidão, guardando o ovo. Eu espiava, às vezes, eles se revezavam para enroscá-lo e formar as fileiras. Até pararam de viajar durante esse período, e todos os novos que chegavam assumiam a nobre causa. Nutri uma afinidade tão grande por eles que acabei por tomar o papel de uma verdadeira mãe de gatos, comprando ração, trocando a água e até escovando seus pelos, quando algum deixava.
Minha relação com Agda melhorou, a ferida ainda estava aberta, mas as mães possuem um incrível dom para perdoar mesmo quando não merecemos. A parte dolorosa foi ter parado de comparecer ao centro de ensino, mas não quero ver Kyle nunca mais na minha vida. Respondi a carta da direção avisando sobre minha falta de interesse em prosseguir com os estudos, e, sinceramente, não se importaram muito. A formação no centro de ensino é completamente opcional em Ravenyx.
Em um dia qualquer, sem nada de especial, enquanto lavo as tigelas de ração, os gatos saem do quarto da minha mãe, finalmente abandonando seus postos.
Assustadas, nós corremos para ver o que se sucedeu.
O ovo não estava mais rachado e sim partido ao meio, ao seu lago se espreguiçava uma criaturinha escamosa e feia, o filhote de dragão.
— Mãe!
— Céus, só podem ter sido os gatos.
— Claro que sim!
Com cuidado, nos ajoelhamos ao seu redor, abismadas com o milagre da vida. Ele era como um lagarto grande, de olhos fechados e pele cor-de-vinho escamosa capaz de cortar a pele. Sua cabeça era larga, e a calda grossa e pequena caia entre as patinhas traseiras, as dianteiras eram minúsculas, e não havia nem sinal de asas.
Nosso dragão nasceu, a missão foi cumprida.
— Eu sabia! — Ganho um abraço grande de Agda, incrédula que os gatos consertaram meu erro.— Eu sabia que ia ficar tudo bem!
Retribuo o abraço com muita força, era como se um nó no meu peito tivesse se desfeito, permitindo a meu coração bater normalmente outra vez. Rapidamente, mamãe pega um pano limpo de cima da cama e coloca ao redor dele.
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Era uma vez, uma bruxa (ANTOLOGIA)
القصة القصيرةQuando crianças ouvimos falar nas velhas bruxas; todas más, feias e solitárias. Como viviam em casas mal arejadas, empoleiradas em vassouras e embrenhadas numa floresta densa, no qual a luz mal chegava a elas. Diziam para termos cuidado, fugirmos de...