Capítulo 46 - Bruno

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As pernas pareciam toneladas. A cabeça girava. O peito se comprimia com a respiração. O coração batia tão, tão rápido que ultrapassava a velocidade de um tambor.

É. Estava tendo uma crise.

Algo como o mesmo cansaço pós jogo, misturado ao luto de uma morte. A sensação de abandono, agregada ao medo da solidão.

Crise...de saudade. E o avião dela mal acabara de levantar voo.

- Tudo bem, mano? – Guilherme apareceu dentro de seu campo de visão nublado – Porque juro por Deus que estou tentado a pedir a ajuda daquele guarda ali. – o amigo apontou para um fardado à direita da entrada da sala de embarque.

Bruno respirou fundo, cerrando os punhos para deter a vontade de bater no próprio rosto e o despertar daquelas sensações na marra.

- Estou...bem...

- Não está não. – Guilherme interpôs – E agora sou eu que vou começar a ter uma crise de consciência assim que pisar na sala de embarque.

Bruno engoliu em seco, como se fosse possível mandar todas aquelas sensações embora jogando uma chave goela abaixo e a trancando dentro do peito. Depois, com o gosto amargo ainda na boca, apertou o ombro do amigo.

- Você não tem que ir.

Guilherme semicerrou os olhos.

- Não tenho?! Já perdi a Sarah uma vez quando a gente namorava e eu preferi largar o amor da minha vida para ir atrás do meu sonho de futebol. E agora...

- Agora você pode perder seu sonho do futebol para ir atrás do amor da sua vida. – Bruno concluiu com pesar, dando mais um passo em direção à fila do detector de metais, onde pessoas se enfileiravam.

O amigo riu, massageando as têmporas.

- Não vou conseguir ter tudo. – Guilherme deu de ombros, levantando a mala de mão para passar pelo detector. – Mas o importante é que você vai.

Bruno ergueu os olhos.

- PSG não é uma certeza...

É certo que o clube francês havia feito uma boa proposta. Porém, no passado. Quando ele fazia tanto gols quanto jogava. Não agora, que ficar no banco assistindo a partida era a certeza de sua profissão.

- Você sabe que é, mano. - Guilherme revirou os olhos. – Tudo bem que está passando por uma temporada que... puta que pariu. Nunca te vi pior...

- Obrigada, Guilherme. – Bruno puxou a mala com rudeza, fazendo um estampido com as rodinhas.

- Calma... você não me deixou terminar. - O amigo gargalhou. – Eu ia dizer que, apesar de tudo... Você não é aquilo, parceiro. E todo mundo sabe disso.

É. Ele sabia que não era aquele cara que errava passes e fazia faltas à rodo. Mas... depois de tudo, quem seria o Bruno agora? Com certeza o processo para despertar o Toro aclamado pela torcida flamenguista levaria algum tempo. Paciência que os clubes não conseguiam ter. 

Ainda assim, deu de ombros logo que entraram no salão de embarque. Estava indo à Paris, e.. se tudo desse certo, moraria com Serena e veria Luna crescer. Ainda que tivesse de sacrificar a profissão dos sonhos pela família.

Não tinha outra vida que ele quisesse tanto quanto a que estava indo buscar.

Sorriu discretamente, observando que o homem galinha e sem expectativas que um dia morou dentro dele, era passado. Na verdade, parecera que jamais existiu.

Bruno relocou os óculos escuros, ajeitando o boné na cabeça. Já Guilherme empertigou o peitoral e deu seu melhor sorriso colgate, fazendo um senhor arregalar os olhos quando reconheceu o Guizão do Flamengo.

Me Deixe Amar Você - Livro 1 Duologia Amor em JogoOnde histórias criam vida. Descubra agora