Capítulo XXXII - Rapunzel

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— Phew... — suspirou Haru, pousando o livro que estava a ler em cima da cama. Ao lado dela, um pacote de batatas fritas e o seu portátil, a tocar uma música qualquer de Linkin Park – a sua banda favorita – nos fones de ouvido. Era o primeiro dia de suspensão e já estava entediada. Tinha feito passes contra a parede e serviços no pátio de casa, até uma pontada de preguiça atingi-la e acabar indo para o quarto.

A opção de abrir a janela e sair às escondidas também era tentadora, mas por respeito à sua própria mãe, que compreendeu os seus atos, desistiu da ideia. Sentou-se na cama rapidamente, fazendo uma posição teatral.

— Sinto-me a própria Rapunzel, presa na torre. — disse para si mesma — Só falta o príncipe. E o cabelo comprido.

Por alguma razão, assim que pensou em príncipe, Kageyama veio na sua cabeça. Suprimiu uma risada com a imagem mental do amigo envergando roupas elegantes e uma coroa. Logo depois perguntou-se porque, de todas as pessoas que conhecia, foi nele que pensou.

Droga... talvez tivesse mesmo algum tipo de sentimento por ele, mesmo que isso parecesse impossível.

De repente, ouviu uma batida de algo na janela. Partiu do príncipio que fosse algum pássaro que chocou contra a janela, logo ignorou. Voltou a colocar os fones.
No entanto, as batidas continuaram, mais altas. Pareciam pedras a bater. Espera... pedras?

Levantou-se da cama, tropeçando nos seus próprios pés pelo caminho. Puxou a maçaneta da janela para a abrir e debruçou-se sobre ela, olhando para baixo.

E ali estava ele, o garoto em que pensara à pouco tempo atrás. Com pedrinhas na mão, literalmente. Um sentimento de euforia preencheu Haru, ao mesmo tempo estando bastante confusa. Assim que a viu, o rosto de Kageyama suavizou, como se feliz

— Kageyama?! O que fazes aqui?! Mas que...

— Shh! Abre a porta! — gritou de volta, interrompendo-a descaradamente. Sinceramente, ele é que invade a minha casa e ainda reclama?

Revirou os olhos.
Percorreu a casa em passadas rápidas até chegar à porta da frente. Suprimindo um choque de alegria, abriu-a e ao ver o cabelo de mirtilo, colocou um sorriso de troça:

— Saudades? — perguntou.

— Talvez. — retorquiu ele com o mesmo sorriso, calando a garota. Esta apenas permitiu passagem para Kageyama entrar, apertando os lábios.

— Então, o que fazes aqui? — questionou Haru, coçando o pescoço por nervosismo. O destino adorava pregar-lhe partidas – os seus sentimentos por Tobio ainda não eram claros e tê-lo aqui despertava-lhe sentimentos agridoces.

— Porquê? Não gostas da minha companhia? — perguntou de volta, estreitando os olhos e aproximando-se do rosto da garota. Havia poucos centímetros entre eles.

— N-não, não, não é nada disso... É só que... Um... — que vontade de abrir um buraco e desaparecer lá. — ...Nada. Esquece. Estava só curiosa. — empurrou-o levemente, virando a cara.

— Bem, quanto a isso... — agora foi a vez de Kageyama ganhar um rubor nas bochechas. — É... Eu sei que não gostas de estar sozinha, e hoje não há aulas de tarde, então, eh... fico contigo até à hora do treino.

Haru arregalou os olhos, impressionada.

— Uau... — murmurou baixo. Não sabia o que dizer. — Bem
...! — levantou um pouco a voz, mudando de assunto — Huh... Vai uma partida de Uno?

— Ah, não! Da outra vez ganhaste tudo e ficaste a esfregá-lo na minha cara! — exclamou, cruzando os braços.

— Hah! Mau perdedor! Típico do Rei da Quadra. — troçou a garota, dando um soco leve no braço de Tobio, e levou um peteleco na testa como resposta.

— Melhor ainda, eu trouxe a saga inteira de Star Wars em DVD. Gostas?

As faces de Haru iluminaram-se.

— Eu... Adoro Star Wars!! Como sabias?!

Kageyama encolheu os ombros, enquanto os cantos da sua boca se viravam para cima levemente. Lá no fundo, adorava vê-la feliz.

— Vamos para o meu quarto! Também tenho alguns vídeos de vólei para te mostrar.

Haru estava muito enérgica (e extremamente simpática para Kageyama, o que era invulgar, pensou ele). Qualquer coisa que a impedisse de pensar em Naomi servia.

Enquanto viam os filmes, a Mikane não parava de fazer comentários ou piadas, o que irritava profundamente Kageyama que só queria ver o filme em paz — foi por isso que desistiram no quarto filme.

— Desculpa por ser tão chata, Kageyama. — falou entretanto numa voz baixa.

— Hm? Porquê isso agora?

Haru começou a brincar com os dedos, um tanto triste.

— Não sei, é só que... parece que todos se fartam de mim... é de eu ser assim...? — mordeu o lábio, olhando para baixo. — ...também achas isso...?

— Hey. — o mais alto colocou as mãos nos ombros da amiga. — Quem te disse isso?

— Tantas pessoas...

— E porque raios acreditas nelas? — esta pergunta pegou Haru de surpresa. Levantou a cabeça, cruzando o olhar com o de Tobio.

— O que importa é ser quem tu és, e não ouvir essas pessoas idiotas. Eu gosto de ti do teu jeito, e o resto da equipa também. E o resto, que vão à merda passar umas férias.

Haru soltou uma risada nasalada ao ouvir o insulto peculiar.

— Hey! Eu acabei de te ajudar e ris de mim? — disse, meio a brincar. Mikane extinguiu o riso, limpando lágrimas que se haviam formado no canto do olho.

Um silêncio seguiu-se. Não um silêncio constrangedor, mas algo confortável.

E quando os olhos dos dois se fitaram, ambos negros como o breu, Kageyama aproxima-se, tão cuidadosamente. Coração batendo como um louco, não conseguindo nem respirar, Haru não consegue sentir o ambiente à sua volta, apenas o calor do momento.

Algo que ambos queriam há muito tempo, porém nunca se aperceberam disso. Ou talvez apenas queriam negá-lo.

Sentindo os dedos suaves do rapaz no seu queixo, levantando-o um pouco, um arrepio percorreu a sua espinha. Por favor... apenas fá-lo. — desejou Haru.

No instante que os seus lábios iriam tocar-se, Haru recuou, com um olhar assustado. Como raios não tinha ouvido a minha mãe entrar?!

— A minha mãe está a subir as escadas. Esconde-te, agora.

*  *  *

Heyhey! Espero que estejam bem^^

O nosso Kageyama virou o príncipe encantado, certo? ;)
Desculpem a demora!

Obrigado pela leitura. <3

yours truly,

mia.

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