Capítulo 02| Até o chão

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Leia ouvindo | Angel By The Wings — Sia


Leonam Rodrigues

Com as primeiras gotas de chuva marcando o chão sinto todo meu corpo se arrepiar, de janelas fechadas e com o som mais alto tento impedir que o barulho da chuva chegue em meus ouvidos. Mas era o mesmo que tampar o sol com uma peneira, não adiantava o esforço. Com a respiração acelerada tento manter a calma focando em fazer alguma coisa que me deixe entretido.

A água quente fazia uma formação de uma densa fumaça em meu banheiro, eu estava tentando aliviar toda a tensão que eu estava sentindo causada pela chuva. Pode parecer algum medo bobo infantil, mas esse medo estava longe de ser infantil, o que eu sentia toda vez que chovia era aquele sentimento de culpa, e toda à cena se repetia em minha cabeça. Sentado no chão do banheiro permito as lágrimas rolarem se misturando com à água quente que escorria pelo meu corpo limpando minha alma. Me vem uma súbita necessidade de gritar alto para espantar o que  me atormenta mas nada mudaria eu ir contra à maré de sentimentos. Ali estava eu novamente em um surto.

— Por que tínhamos que brigar daquela forma Lucas? — Pergunto para mim mesmo sabendo que não haveria uma resposta dele. — Eu te amo tanto, por que me deixou? Se você me amava tanto por que me abandonou?


Otto Alencar

Faz algum tempo que eu não sinto aquela felicidade que sentia à alguns anos atrás. Existem vários fatores para isso ocorrer mas como de costume o problema estava em minha própria casa. Coisas de adulto era o que minha mãe sempre dizia quando eu questionava o que acontecia, até um tempo atrás eu não entendia bem o peso dessa frase pois para mim as coisas eram bem mais fácil de serem resolvidas, mas na prática sentimos o peso.

Meu pai havia me abandonado quando eu ainda era uma criança pequena por motivos até então desconhecidos por mim, mas isso não quer dizer que eu não cresci com uma presença masculina dentro de casa mas claro nada se compara ao pai da gente, principalmente quando essa figura masculina que mamãe arrumou para ela depois de terminar com meu pai, toma umas atitudes longe de respeito.

Um ano atrás se tornou um dos piores momentos de minha vida pois meus pais entraram em um processo de separação causa por uma traição. O incrível era como meu pai fez toda à situação se voltar para mim como um ponto errado no relacionamento deles dois, e olha que nem sou filho dele de sangue. Mamãe caiu em uma depressão na qual ela negava, mas qualquer um que tivesse algo de sanidade mental perceberia que ela não estava bem. Eu não podia ajuda-la, mas eu sabia que aquilo não era só coisas de adulto pois afetou à mim também. Eu sou gay e esse fato já tem muito peso sozinho mas em uma família tradicional brasileira possui peso triplo. Tenho esse segredo guardado apenas comigo.

— Filho como foi seu primeiro dia de aula? — Pergunta minha mãe se juntando a mim à mesa para podermos almoçar.

— Foi normal mãe nada muito fora do comum, tive aula com alguns professores e conheci um pouco dos alunos com as apresentações. — Respondo.

Logo após o almoço sinto uma vontade de caminhar por um parque florestal que fica à alguns minutos da minha casa. Coloco meu fone de ouvido, começo à caminhar lentamente olhando as poças de água que a chuva que acabou de passar deixou, o céu ainda se encontrava escuro mas sem sinal que choveria naquele momento.

Por um momento esqueço todos os meus problemas, fecho meus olhos sentindo a brisa do vento batendo contra meu rosto à cada passo que eu dava. O que claramente não foi uma boa ideia.

— Ai minhas costas! — Falo quando sinto meu corpo amolecendo e indo com tudo de encontro ao chão.

— Me perdoe, você está bem? — Pergunto quando me coloco de pé entregando minha mão para servir de apoio, pois o mesmo também havia caído.

— Estou bem sim obrigado. — Aquela voz eu já ouvi em algum lugar. — Ora veja só se não é um dos meus alunos, Otto certo?

— Acertou, meu nome é Otto mesmo, prazer revê-lo novamente. — Falo  após uma longa observada em meu professor de geografia.

— Eu estava distraído e não reparei que você estava vindo, me desculpe. — Leonam fala dando batidas em meu ombro.

— Não tem problema. — Respondo olhando em seus olhos.

— Então Otto estou indo até amanhã na escola. — Fala ele começando à correr novamente.

—Até. — Falo baixo.

— O que foi mesmo que aconteceu aqui gente? — Penso enquanto o observo ele seguindo seu caminho.


Leonam Rodrigues

Meu surto no banheiro durou cerca de uns quinze minutos, quando saio de lá de dentro percebo que a chuva tinha dado uma trégua. Sem fome nenhuma decido parar de ficar remoendo meus sentimentos, para espairecer a mente decido colocar meus leves tênis para uma longa caminhada para o outro lado do meu bairro. As primeiras melodias cantadas já fazia eu entrar em êxtase, cada batida, cada verso, cada junção me fazia viajar em meio ao som que meu fone reproduzia. Até meu corpo ir de encontro ao de um menino. Era como um  anjo, um anjo que estava caído ao meu lado por causa da minha falta de atenção, um sorriso brota em meus lábios ao ver quem se tratava.

“Pegue um anjo pelas asas, implore por qualquer coisa agora, implore agora por mais um dia, pegue um anjo pelas asas, é hora de contá-lo tudo isso, peça-o força para ficar.” — Tocava em meu fone à música da Sia.

Conheça Leonam Rodrigues representado pelo Sonny Ribeiro

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