Só hoje

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   -É sério Valentina? _resmunguei me sentando sobre a sua cama de braços cruzados.

Haviam se passado quase três semana desde aquela tarde em que ela foi me procurar em casa e havíamos consertado as coisas. Eu continuava indo até a sua casa durante as tardes para lhe ajudar. No começo a única coisa que fazíamos era praticar, praticar e praticar... Agora passamos grande parte do tempo conversando sobre coisas sem importância e fazendo brincadeiras, e claro brigando em algumas ocasiões.

Naquele tarde havíamos acabado de organizar as suas roupas na prateleira por cores, assim seria mais fácil para ela escolher a sua roupa e se vestir sozinha. Ela sabia onde estava suas camisetas e a ordem das cores que estavam organizadas, sabia onde estava as suas calças por tipos, como sabia também onde estava suas camisolas e jaquetas.

Eu sentia prazer em ver ela mais animada e menos irritada. Ela é insuportavelmente infantil as vezes, faz brincadeiras o tempo todo de duplo sentido, fica me incomodando, me dá raiva a quantidade de vezes que ela me faz corar. Ela é sem dúvida nenhuma insuportavelmente encantadora, brincalhona, sedutora, simples, palhaça, com uma personalidade dos infernos, e tem algo nela que a torna a pessoa mais agradável que já conheci.

-Que?, só to dizendo que... não tem amor sem atração. _falou encostando-se na cama.

-Claro que existe o amor sem atração física!. Se nunca aconteceu isso com você... ai já é outro assunto. _argumentei.

-Com você já aconteceu? _perguntou levantando as sobrancelhas com superioridade.

Me ruborizei por completo. Claro que não havia acontecido comigo, na realidade minha experiência no amor era quase zero. Eu tive uma relação tóxica no colégio mas não durou mais que um mês, e depois um namoro de seis meses com outro garoto.

-Sim!. _menti.

Valentina começou a rir em gargalhadas enquanto se mexia na cama me provocando.

-Para de rir! _falei batendo nela com a almofada.

Ela se arrumou na cama e me perguntou.

-O que se sente quando se beija uma pessoa, que não sente atraída fisicamente?

-Fecha a boca Carvajal! _resmunguei agradecendo que ela não podia ver o rubor das minhas bochechas e então me ocorreu algo.

-O que aconteceria se agora mesmo você conhecesse uma pessoa que gosta emocionalmente?. Imagina que é... a mulher dos seus sonhos, sentimentalmente falando, claro... Como que iria se atrair fisicamente por ela se não pode vê-la?.

Valentina revirou os olhos.

-Eu não sentiria atração física por ela se não tivesse algo que eu gostasse do seu físico, seu cheiro, sua voz, a suavidade do seu cabelo ou da sua pele...

-É impossível! _bufei revirando os olhos.

-Tá bom, tá bom! Existe o amor sem atração física! Tá feliz? _ela levantou as mãos se rendendo.

Sorri triunfante enquanto ficava de pé.

-Já vou. _anunciei.

Era impressão minha ou Valentina havia feito uma cara de desgosto?

-Mas tão cedo? _franziu o cenho.

-Eu combinei com alguns amigos da universidade de encontrá-los no café. _falei sorrindo.
-Quer vir?

Uma cara de insegurança surgiu no seu rosto e negou com a cabeça.

-Obrigada, mas melhor não...

-Por que não? _a decepção tomou conta da minha voz.

-É só que... _falou encolhendo os ombros.
-... só não.

Me sentei sobre a cama novamente e implorei.

-Por favor, vamos! Será divertido!.

-Não Juliana, eu não quero sair. Não quero que as pessoas me vejam assim. _falou tensa.

Meu coração se apertou no peito e falei.

-Eu adoraria que você fosse comigo.

Ela levantou o olhar surpresa e pude ver a dúvida em seu olhar vazio.

-Por favor... _supliquei.

Ela negou com a cabeça com uma expressão cheia de duvida e suspirou.

-Não. _disse.

Pude sentir a insegurança na sua voz e me aproximei dela.

-Valentina, só hoje... se você não se sentir confortável, tudo bem. Eu não voltarei a insistir nunca mais.

Ela mordeu os lábios e depois de alguns segundos respondeu.

-Está bem.

Sorri radiante, e sem pensar lhe dei um beijo no rosto como agradecimento. Quando me dei conta do que acabava de fazer me afastei rapidamente e o silêncio se estendeu entre nós.

O meu coração batia em uma velocidade que não podia ser humana. Meu peito subia e descia com a minha respiração agitada e nervosa, enquanto ela parecia querer me dizer alguma coisa.

-Te... te vejo hoje a noite. _gaguejei.

Ela assentiu lentamente e disse.

-Onde será?

Bati na minha cabeça com a palma da mão ao me lembrar que não havia lhe dito o lugar.

-Se chama "Rendez Vous", é no centro. Será as oito da noite.

Ela assentiu e sorriu dizendo.

-Estarei lá.

Sem dizer mais nenhuma palavra saí rapidamente do seu quarto.

Meu coração batia tão forte no peito que eu podia sentir como se doesem as minhas costelas. Minhas mãos tremiam de uma forma desconhecida e meus pensamentos estavam em meus lábios sobre as bochechas quentes de Valentina.

Me obriguei a tentar esquecer aquele incidente e me despedi de Elena com naturalidade. Nem sequer a música estrondosa dos meus fones de ouvido foram capazes de acalmarem os meus pensamentos que me assombravam.

Pela primeira vez, duvidei da minha capacidade de estar perto dela sem sentir que o mundo estava acabando. Essa noite será um verdadeiro castigo...

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3/3



Ainda que eu não te veja. G!POnde histórias criam vida. Descubra agora