Destino

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-Valentina?. _meu coração começou a bater mais forte dentro do peito.

O que ela está fazendo aqui?

Ela estava diferente, seus olhos estavam cansados, seu corpo derrotado e suas mãos moviam o bastão nervosamente de um lado para o outro. Mesmo assim ela me parecia terrivelmente irresistível.

Ela usava uma calça jeans e uma camisa de manga longa branca, seu cabelo estava solto e mais bagunçado que o normal, e seus olhos pareciam mais azuis do que nos outros dias. Talvez fosse porque ela não estava na escuridão daquele quarto.

Me levantei do chão o mais rápido que pude e me obriguei a acordar daquele desvaneio que me encontrava desde que a vi ali parada.

-O que vo... você está fazendo aqui? _gaguejei.

Ela fez uma cara de indecisão, que eu achei estranhamente encantadora.

Como que ela faz isso? Porque não consigo estar terrivelmente furiosa com ela como estava a alguns dias atrás?.

-Juliana! _a voz de Elena seguida pela campainha da loja quase me assustaram tanto como a presença da Valentina na loja.

-Minha mãe me trouxe. _falou Valentina fazendo uma careta.

Uma pontada de decepção percorreu o meu corpo enquanto eu fingia um sorriso diante de Elena. Com certeza Elena veio visitar a minha mãe e obrigou Valentina a vir junto.

-Ah... minha mãe não está Dona Elena.

Ela franziu a testa confusa enquanto dizia.

-Eu só vim trazer a Valentina, ela quer falar com você. Eu venho buscá-la mais tarde. Tudo bem?.

Levantei as sobrancelhas em espanto. Eu esperava tudo, menos isso. Sobre o que ela queria falar comigo?.

-Cla...claro _respondi.

Eu tinha certeza que ela estava mais vermelha do que de costume. Dei a volta no balcão e fiquei de frente para a valentina, insegura se pegava ou não na sua mão para guia-la até a cadeira onde eu estava sentada antes. Ela então esticou a mão na minha direção procurando a minha mão e eu a dei.

Elena me olhou com um sorriso que eu não consegui decifrar, e então saiu fazendo a campainha soar. Levei Valentina do outro lado do balcão, a ajudando a se sentar.

Nós ficamos em silêncio por alguns segundos. Era uma sensação incômoda saber que eu queria lhe dizer tantas coisas naqueles dias que se passaram, e agora que ela está aqui na minha frente eu não sentia vontade de dizer nenhuma palavra. Seus olhos se moviam de um lado para outro enquanto ela apertava o bastão entre seus dedos, claramente se via que estava nervosa.

-Fazia muito tempo que eu não saía do meu quarto. _disse em voz baixa.

Aquele comentário me pegou completamente de surpresa.

-Sério? _perguntei franzindo o cenho.

Valentina sorriu tristemente.

-Quando a sua vida muda de uma forma tão radical, o que você menos quer é que as pessoas que te conheciam antes te veja. Eu não queria ter que responder o que me aconteceu, então decidi não sair mais. _falou encolhendo os ombros, tentando não dar tanta importância ao seu comentário. Mas eu pude sentir a dor escondida na sua voz.

Sei que eu devia dizer algo confortador, mas a única coisa que saiu dos meus lábios foi um comentário estúpido e cruel.

-Que imatura!

Levei uma mão na boca à tampando por ter dito essa estupidez, mas ela não se irritou como eu achei que o faria.

-Tenho 19 anos Juliana. Não espere que eu seja madura. Nunca fui madura e tenho medo de nunca conseguir ser.

Ela tirou um meio sorriso dos meus lábios.

-Ser maduro não tem nada a ver com a idade e sim com as experiências. _falei

-As vezes me comporto como uma menina de cinco anos... _falou sorrindo achando graça de suas palavras.
-Você sabe, jogo sapatos pelo ar e coisas assim...

O sorriso dos meus lábios aumentou.

-As birras de uma criança de cinco anos não são bem a minha praia. _admiti.

-É eu percebi. _suspirou.
-Escuta Juliana, eu sinto muito por ter sido uma idiota, não era a minha intenção ter falado as coisas que falei, eu estava irritada... _seu olhar se tornou triste e fez um pequeno beicinho que me arrancou um sorriso.
-Enfim eu acreditei que poderia fazer as coisas sozinha novamente, como me levantar... e quando eu caí voltei a me sentir uma verdadeira inútil.

-Não era culpa sua... _falei em voz baixa.

-Também não foi culpa sua, e mesmo assim eu te culpei.

-Me culpou? _estremeci assustada pela confissão.

Ela assentiu.

-Te culpei por me devolver a fé que não devia ter. Te culpei por me fazer querer levantar da cama. Eu te culpei por ter me devolvido a vontade de viver. _suspirou pesadamente.

Abaixei meu olhar por um instante enquanto pensava nas suas palavras.

-Você acredita em destino? _perguntei em voz baixa.

Valentina inclinou a sua cabeça para o lado e franziu o cenho em confusão.

-Por que ta perguntando isso? _falou

-Acredita ou não em destino Valentina? _perguntei novamente. Ela pensou por um instante.

-Sim... _respondeu por fim.

-Minha mãe sempre diz que casualidades não existem. Diz que a vida sempre coloca cada coisa em seu devido lugar, na hora certa e pelo motivo certo. Eu acredito que isso só seja o destino... _suspirei e completei.
-...e que você e eu estamos aqui por alguma razão, quero dizer...

Valentina sorriu tristemente.

-O destino colocou uma menina cega e com muitos problemas no seu caminho. _falou

-E o destino colocou em seu caminho uma menina que sabe enfrentar os problemas com muita habilidade.

E pela primeira vez desde que estávamos conversando ela me deu um grande sorriso sincero... Aquele sorriso que mostrava as ruguinhas nos seus olhos e fazia seus preciosos olhos azuis brilharem.

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Ainda que eu não te veja. G!POnde histórias criam vida. Descubra agora