Capítulo três

3.4K 550 20
                                    

Aretha

O som insistente do despertador me alertava que era hora de me levantar, embora eu tivesse ido dormir há pouco mais de três horas. Remexi-me na cama, implorando mentalmente por cinco minutos a mais.

Alguns períodos eram extremamente cansativos.

Bem, em quase vinte anos de carreira, eu não conseguia me lembrar de muitas fases que não fossem assim.

Estava a duas semanas da estreia do meu último filme e a três dias do início das filmagens da próxima série. Misturava estudos e aulas para viver a nova personagem com infinitas entrevistas e vídeos promocionais para o lançamento.

O compromisso da noite tinha sido uma mistura dos dois. Fiquei até bem tarde participando de uma Live em um canal de cinema, falando sobre o filme. Já sabendo que teria compromissos pela manhã, eu deveria ter ido dormir logo que a transmissão chegou ao fim. No entanto, depois de tirar toda a maquiagem do rosto, eu me deitei na cama em companhia dos roteiros das primeiras cenas que eu começaria a filmar em breve.

Era estranho, mas eu gostava de estudar os roteiros bem mais do que de atuar. Gostava de tentar captar a emoção dos personagens através de cada fala, de cada ação. E fazer isso estando sozinha, no silêncio do meu quarto e na tranquilidade única da madrugada era quase uma terapia para mim.

Mas era péssimo ser acordada tão pouco tempo depois de parar e dormir.

Acho que, pela forma como eu sentia sono, tranquilamente conseguiria ignorar o despertador e seguir dormindo. Mas eu não poderia ignorar a voz feminina que chamava o meu nome enquanto dava tapinhas nas minhas costas.

— Aretha, levante logo ou vai se atrasar.

— Droga, Jenny, eu não dormi quase nada.

— Sua Live terminou às onze e meia. Deveria ter ido dormir à meia-noite, foi o que concluí que faria quando veio para o quarto.

— Fiquei até tarde estudando o roteiro.

— Terá a véspera do dia do início das gravações para decorar suas falas. Você é rápida nisso.

Não se tratava meramente de decorar, mas eu não esperava que ela entendesse isso.

Jenniffer cuidava de mim desde os meus treze anos. O trabalho dela basicamente era não ter existência própria, já que passava as vinte e quatro horas do dia controlando minha agenda, minhas refeições, meus medicamentos e absolutamente tudo da minha vida. Eu poderia dizer que aquela mulher de quarenta e cinco anos era como uma mãe para mim, mas isso seria uma enorme mentira. Eu não a via como um monstro impiedoso ou coisa parecida – talvez visse assim durante a adolescência, não mais –, mas ela deixava muito claro que estava realizando um trabalho.

Vencida, acabei me levantando e imediatamente me virei para enfiar os braços nas mangas do roupão que Jenny trouxe para mim. Existia uma mesa no meu enorme quarto, e esta já estava organizada com um farto café da manhã. Meu celular também já estava posicionado sobre a mesa, o que não me deixava dúvidas do que eu precisava fazer.

Peguei o aparelho e acionei a câmera frontal. Jenny se apressou em ajeitar os meus cabelos e, então, iniciei uma série de fotos e pequenos vídeos de stories sorrindo, desejando bom dia e fazendo poses com as comidas da mesa. Logo que terminei, entreguei o celular a Jenny, tirei o roupão e fui para o closet me trocar.

Eu não tomava café da manhã. Mas minha equipe de marketing considerava positivo exibir mesas fartas e sorrisos nas minhas redes sociais. Meus seguidores gostavam de assistir aos meus stories de bom dia, e fazer o que o público esperava de mim era parte do meu trabalho, afinal.

Protetor - A Vingança do meu Guarda-costas [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora