Prólogo 2

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Julho de 2020

Drake

Eu sempre tive sonhos grandes. Mesmo que isso não fosse algo muito incentivado a um menino pobre como eu fui. Logo no meu primeiro emprego fixo, como segurança em uma loja de departamento, eu encontrei uma paixão inusitada naquela área e descobri que era isso que eu queria fazer na minha vida.

Mas não apenas ser um mero segurança. Eu queria ir além naquilo.

Mas confesso que nunca imaginei que eu fosse tão longe, e tão rápido.

Em alguns anos, consegui abrir minha própria empresa de segurança. Em mais alguns, ela se tornava a mais badalada do país, com inúmeros clientes importantes como grandes empresários, políticos e estrelas de Hollywood.

Agora, eu dava mais um passo. Com a realização da aquisição de outra empresa do ramo – um investimento milionário – a Evet Security passava a figurar a lista das maiores do mundo.

E era isso o que me levava ao evento da noite. Realizado em um luxuoso hotel localizado em Beverly Hills, a premiação buscava dar reconhecimento às empresas mais bem avaliadas de cada área, e a Evet Security estava concorrendo na categoria Segurança Particular.

Cheguei sozinho ao local, sendo logo recepcionado por fotógrafos e jornalistas que cobriam o evento. Ao entrar, cumprimentei conhecidos, parceiros comerciais, investidores e todo tipo de gente cujas contas bancárias ultrapassavam a casa dos milhões de dólares. Ainda era meio surreal pensar que o jovem Drake Carter, filho de uma imigrante turca e de um norte-americano que passara toda a vida alternando entre subempregos para, como muito esforço, poder dar o necessário à esposa e aos dois filhos, pudesse agora pertencer tão perfeitamente àquele ambiente.

Avistei, em uma mesa do outro lado do salão, meu amigo e funcionário Ryan, acompanhado pela esposa grávida, e acenamos um para o outro. Pretendia cumprimentá-los melhor mais tarde, já que o plano era que eles nos acompanhassem à comemoração do prêmio que eu já tinha como quase certo.

Fui guiado por uma recepcionista até a mesa reservada para mim e meus três convidados de honra. Dois deles já estavam lá.

Duas delas, na verdade. Mas, diferente de muitos dali que levavam companheiras, amantes ou mesmo jovens e lindas mulheres contratadas como acompanhantes, eu reservei os meus convites à minha família. Às três mulheres da minha vida.

Minha mãe, Nadire, logo que me viu se levantou para me abraçar. Beijei suas mãos, como já era um costume que ela nos passara de sua criação turca – ainda que tivesse ido ainda adolescente para os Estado Unidos – em seguida indo cumprimentar a pequena criatura sentada na cadeira ao lado, usando um vestido comprido e um penteado elegante, como se fosse uma miniatura de adulta, embora tivesse apenas três anos.

— Tio Drake! — ela vibrou logo que me viu.

Fui até ela e a peguei no colo.

— Por que está tão elegante assim, princesa? — perguntei.

Ayla abriu um enorme sorriso para responder:

— Pra ver você ganhar o prêmio, tio.

— Ainda não sabemos o resultado, querida! — minha mãe a lembrou. A senhora Nadire Carter fazia questão de sempre manter seus dois pés fincados ao chão, ainda que sempre tenha incentivado os filhos a correrem atrás de seus sonhos e nunca se contentarem com os 'não' recebidos. — Lembre-se que ele estar entre os indicados já é uma enorme vitória.

— Mamãe diz que ele vai ganhar — Ayla rebateu, convencida.

— Por falar nela... Por que sua mãe ainda não chegou, princesa? — perguntei.

Minha mãe respondeu:

— Ela já deveria estar aqui. Saiu hoje à tarde para fazer um trabalho de fotos para uma empresa, mas pediu para que eu viesse na frente trazendo Ayla, porque talvez ela se atrasasse. Só não pensei que fosse se atrasar tanto.

— Ainda está cedo, mãe. Emma deve estar a caminho.

Minha irmã era outro exemplo de realizadora de sonhos, embora o dela fosse bem diferente do meu. Emma era desde a adolescência aficionada por moda e por redes sociais. Seu Instagram começou como um hobby, mas seus números foram crescendo de forma acelerada nos últimos anos e, agora, com seus quinhentos mil seguidores, ela já tinha contratos com várias marcas, que não apenas lhe enviavam peças de roupas de seus lançamentos, como também propostas de publicidade.

Ela vinha tendo um bom retorno financeiro com isso. No entanto, ainda morava com a minha mãe, que a ajudava com Ayla, minha sobrinha. Meu pai tinha falecido quando Emma e eu ainda éramos crianças.

As horas foram se passando e minha irmã não apareceu. Logo a tensão da minha mãe começou a me contagiar, porque realmente era estranho que a tal sessão de fotos durasse tanto tempo. Minha mãe tentou ligar para ela diversas vezes, mas ninguém atendia o celular.

Chegou o momento em que seria anunciado o vencedor da minha categoria, e confesso que não foi surpresa para mim quando meu nome foi dito. Sendo ovacionado, eu subi ao palco para receber o meu prêmio. Tinha preparado um discurso pequeno e direto, e estava no meio dele quando olhei para a nossa mesa e vi minha mãe atendendo uma ligação no celular. Em segundos o telefone escapou de sua mão, indo parar no chão e na sequência o seu corpo fez o mesmo, tombando para o lado na cadeira.

Larguei o microfone e o troféu, descendo correndo do palco e indo até minha mãe caída no chão, desacordada. Minha sobrinha chorava, assustada com o súbito desmaio da avó. Uma multidão se aglomerou ao nosso redor e logo uma mulher se apresentou como médica e deixei que ela fizesse os primeiros socorros, enquanto meus olhos se desviavam para o celular caído logo embaixo da mesa.

Peguei o aparelho e o levei ao ouvido. A pessoa que havia ligado ainda estava do outro lado da linha.

Eu me apresentei, dizendo ser filho de Nadire Carter.

Ela me perguntou se eu seria, então, irmão de Emma Carter, e me informou que era da polícia.

Naquele momento, eu esperei pelas piores notícias.

Mas nenhuma delas sequer chegava perto da que eu recebi.

***** 

Protetor - A Vingança do meu Guarda-costas [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora