Capítulo cinco

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Aretha

Eu não seria hipócrita o suficiente para negar o quanto eu tinha ficado assustada. Embora muito provavelmente não fosse o momento de maior terror que eu já tinha vivenciado.

Eu colecionava alguns, aliás.

Mas aquele tinha chegado bem perto disso. Especialmente agora, já com a cabeça fria, pensando no que poderia ter acontecido comigo.

Talvez soasse meio mórbido dizer isso, mas eu não sentia medo da morte em si. Meu medo era do que antecederia a ela. Era do que poderiam fazer comigo enquanto ainda estava viva. Eu tinha dezessete anos quando presenciei minha mãe morrer, e acho que, de tudo o que vi, talvez o momento em que ela deu o último suspiro tivesse sido o que eu me senti mais em paz, por mais avassalador que aquilo fosse para mim. Eu amava a minha mãe. Mas não suportava todo o sofrimento que a vi passar até a sua morte.

Porém, mesmo que o trajeto até em casa – feito no carro dirigido por aquele brutamontes – fosse inundado por aqueles pensamentos, eu não ousei expor nenhum deles em voz alta. Não daria tal satisfação àquele homem.

Enfim chegamos e eu saí do carro, seguindo pelo extenso quintal em direção à minha casa. Poderia apostar que meu pai ainda estaria por lá, na certa na sala, aguardando que eu retornasse para voltar a insistir na questão do esquema de segurança.

Já me aproximava da entrada da sala de estar quando senti uma mão espalmando em minhas costas. Sobressaltei, assustada, e virei o rosto, deparando-me com aquele homem.

— O que está fazendo? — perguntei, sem parar de andar. Até porque, a mão dele nas minhas costas fazia uma leve pressão, como se me guiando para que eu o acompanhasse.

Ele não disse nada e apenas afastou sua mão quando chegamos até o meio a sala, onde meu pai já estava de pé, como eu imaginei, esperando por nós.

— Sua artista acabou de sofrer uma tentativa de sequestro — ele foi logo contando, como uma merda de um fofoqueiro.

— O quê? — meu pai se assombrou. — O que aconteceu? Ele conseguiu fugir?

— O que o senhor acha? Eu estava sozinho, a metros de distância deles. Precisei dar um tiro de alerta para impedir que ele a levasse, e com isso é óbvio que ele fugiu.

— Meu Deus! Está vendo só, Aretha, o que a sua teimosia quase lhe causou?

Eu era uma mulher adulta, mas estava ali sendo tratada como uma criança pelo meu pai, diante de um desconhecido. Apesar de ser, também, meu empresário e, como tal, determinar muitas das coisas que eu fazia quando estávamos na presença de outras pessoas, geralmente isso ocorria em situações profissionais e não sobre algo tão pessoal como o meu direito de ir e vir.

Eu precisava admitir que minha vida pessoal e profissional eram meio que uma continuidade uma da outra, e era bem raro que eu fizesse qualquer coisa por mim mesma sem ter uma finalidade profissional por trás. Mas, naquele momento, eu pela primeira vez tinha batido o pé para fazer algo contra a vontade dele. E era algo absolutamente ridículo, como ir a uma academia.

Eu teria dito algo, se o homem designado a ser meu guarda-costas não tivesse se manifestado, com uma voz, embora baixa, carregada de firmeza e determinação:

— No meu ramo não existe espaço para esse tipo de coisa. Esses acessos de teimosia podem colocar todo o trabalho a perder. Não me importa se nesta casa estou na condição de um prestador de serviço. Sou eu quem dou as regras aqui. Ou isso funciona do meu jeito, ou eu reúno os meus profissionais e vamos agora mesmo embora.

Protetor - A Vingança do meu Guarda-costas [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora