Novos caminhos

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 Filho da puta...

Quem ele pensa que é pra me dizer que tem algo de errado comigo ou não? Era só o que me faltava, sinceramente...

Foram algumas horas de surpresa e raiva trancada no quarto aquela noite. Por fim, o cansaço me venceu e eu peguei no sono. No dia seguinte, o apartamento estava um silêncio total. Acordei e fiquei alguns minutos na cama, tentando recuperar os sentidos e ouvir as movimentações antes de pensar em sair do quarto. Não ouvi nada. Como já era um pouco tarde, era possível que o John já tivesse saído mesmo. Abri a porta de mansinho. Ontem a noite, o apartamento estava meio bagunçado, mas, quando eu levantei, ele estava um brinco. Parecendo um apart hotel. Não era dia da faxineira vir, então acho que tinha sido o John. Aparentemente ele achava limpeza algo terapêutico, e a louca sou eu?

Enfim, para não sujar a perfeita limpeza da Dona Carochinha, me vesti e sai para tomar um café. Eu estava precisando espairecer mesmo. Fui na direção contrária ao café do John e tudo certo. Eu conhecia bem Paris e os costumes e lugares onde ele geralmente ia, então dificilmente esbarraria com ele sem querer.

Na hora que o café quentinho bateu na minha consciência, meus pensamentos começaram a ir por outros caminhos. Mesmo que ele estivesse errado, afinal eu estava mentindo dia e noite, ir para a terapia não era uma ideia ruim. A primeira vez que eu deitei num divã, era menina ainda. Minha mãe se preocupava com alguns comportamentos meus e não sabia como falar comigo direito, aí entrou a terapeuta. Tatiana. Era uma mulher de meia idade, magrela, cheia de frizz no cabelo cacheado e óculos de mau gosto. Eu pensava "como alguém que se arruma tão mal pode me ajudar em alguma coisa?" Confesso que tive resistência nas primeiras semanas. Depois eu fui percebendo que, no fim das contas, a Tatiana era a única pessoa que parecia realmente disposta a me escutar. Passei a falar de verdade. Bom, o quão "de verdade" poderiam ser as questões de uma criança que não sabia formular direito quais eram seus problemas, mas, pelo menos eu tentei. Depois de um tempo, parei de ir. Quando minha mãe descobriu, eu juro que ela queria me dar uma bronca, mas não sabia nem quais palavras usar. Impetuosa sempre foi o meu sobrenome. DiLaurette era um detalhe. Um grande detalhe, entretanto.

Eu podia simplesmente tentar fazer terapia de novo... Por coincidência, o cartão que o John tinha me dado estava dentro da minha bolsa. Peguei o celular e fiz a ligação. Aparentemente o Alan já havia avisado ela que eu poderia entrar em contato e ela tinha até um horário para eu passar hoje mais tarde, se pudesse. Eu podia. Fiquei hesitante por um segundo ao responder se iria hoje ou não. Falei que sim.

Tinha um tempo para matar, então fui passear um pouco e depois almocei. Nada chique, qualquer lugar luxoso era perigo de encontrar um parente ou conhecido. Eu estava banida do high society club ou teria que dar um zilhão de explicações. A hora de entrar de novo em um consultório foi chegando e os nervos foram aflorando. Como eu ia conseguir explicar toda essa confusão que eu causei?

Num instante, me lembrei de Tatiana repetindo a seguinte frase: "se você não me disser exatamente o que pensa e sente, eu não posso te ajudar, Samantha". Eu sabia que Tatiana tinha razão. Eu ia ter que ser brutalmente honesta com essa psicóloga e eu precisava me preparar mentalmente para verbalizar a verdadeira zona que estava a minha mente, a minha vida e as coisas que eu vinha fazendo.

Paige tinha um sorriso largo, olhos claros e um rosto amigável. Ela abriu a porta sorrindo para mim como se me conhecesse. Foi reconfortante em certo grau. Me sentei, ainda tensa, e ela se sentiu diante de mim.

– Boa tarde, Sophie!

– Boa tarde!

– Meu nome é Paige. Acredito que seu amigo Alan me indicou para você, correto?

– Sim, Paige. Bom, na verdade, eu trabalho para ele. Mas é meu amigo sim.

– Compreendo. Bom, – ela se ajeitou na poltrona – porque você acha que ele fez essa recomendação, Sophie?

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⏰ Última atualização: Jul 04, 2021 ⏰

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